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28/06/2010

Reconstrução das cidades deve levar dez anos

 

Ocupação das margens dos rios por casas contribuiu para enchentes, diz especialista que visitou área atingida

        As cidades alagoanas devastadas pelas chuvas devem demorar cerca de dez anos para serem reconstruídas e voltarem a ser como eram antes da enchente, e as verbas anunciadas para a região são suficientes apenas para o início da recuperação. A previsão é do professor de Engenharia da Universidade Federal de Alagoas Valmir de Albuquerque Pedrosa, que esteve esta semana na região: — Foram casas, hospitais, escolas, a rede elétrica, a rede de esgoto, a rede viária, tudo destruído.
       Isso não é fácil de construir, mesmo com dinheiro.
       Ele lembra que a área do Rio Mundaú já sofreu grandes enchentes. Segundo Pedrosa, no fim da década de 1980, o governo estadual pediu verba à União para a construção de barragens.

— A verba não saiu. As cidades foram crescendo, ocupando as margens. Não há zoneamento urbano proibindo que casas se instalem na beira do rio. A solução desse problema passa por mais obras de disciplinamento do espaço urbano.
       A reconstrução das cidades destruídas pelas cheias deve ser feita longe da margem dos rios, alertou o professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) José Xaides de Sampaio Alves. Ele trabalha na recuperação de São Luiz do Paraitinga, município paulista com dezenas de prédios históricos destruídos por temporais e pela cheia do Rio Paraitinga em 1ode janeiro.

— Em São Luiz, a recuperação foi no mesmo local, por causa do patrimônio — ressalvou.
       Volume de água foi igual ao do São Francisco Uma estimativa preliminar feita pelo professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Abelardo Montenegro mostra que as chuvas produziram um volume de água equivalente ao do Rio São Francisco.
       Segundo ele, se apenas 30% das duas bacias entre Alagoas e Pernambuco foram atingidos pelas chuvas, a vazão da água chegou a cerca de mil metros cúbicos por segundo. No São Francisco, ela é de 1,8 mil.

— É apenas um cálculo inicial, pois tudo indica que as chuvas atingiram mais de 30% das bacias. Foi um volume de água muito grande, que correu sobre a superfície sem proteção vegetal — afirmou Montenegro.
       O professor explicou que a ausência de obras de infraestrutura, com a construção de novas barragens, e os fenômenos climáticos também contribuíram para a destruição. A coordenadora do Laboratório de Meteorologia de Pernambuco, Francis Lacerda, contou que, em algumas cidades, o volume de chuvas em três dias foi superior à média de todo o mês.

 

Marcelle Ribeiro e Fábio Vasconcellos O Globo - 26/06/2010
www.fne.org.br

 

 

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