Por Silvana Guarnieri*
As reportagens veiculadas pela Globo, em seu jornal SPTV, do ABC, intituladas “Montanha de lixo causa mau cheiro e incomoda moradores de Diadema” e “Moradores reclamam de estação de transbordo de lixo em Diadema”, respectivamente nos dias 26/11/2011 e 17/04/2012, tratam de exposição da população à condições insalubres ocasionada pela Estação de Transbordo de Diadema em área contígua ao mesmo, situada no Jardim Amuad, em Diadema.
A constância com que nos deparamos com situações como esta, de descasos com a população, com a operação da gestão de resíduos de cidade e mais ainda, com o próprio ambiente em que vivemos, nos deixa cada vez mais perplexos e indignados.
Naturalmente tratar com a dinâmica da geração de resíduos em grandes cidades não é nada fácil. Diadema não se diferencia deste quadro, até porque tem o seu território urbano totalmente ocupado, várias ocupações irregulares, principalmente em área de Proteção aos Mananciais, e, aliado a isso, também uma ascensão econômico-social que gera uma maior produção de lixo per capta e uma valorização imobiliária devido às melhorias das residências e da infraestrutura locais.
Mas isso não justifica uma operação de transbordo com as características apresentadas na reportagem. Até mesmo porque, Diadema, não tendo local apropriado para a destinação dos resíduos, já no princípio dos anos 1990 destinava seus resíduos para aterros sanitários licenciados da região, e executava 100% da coleta de resíduos sólidos urbanos.
O que se faz na área denominada Transbordo, além do descarte de resíduos a céu aberto, está longe de atender às técnicas ambientais e de engenharia pertinentes à atividade. Muito menos a uma logística saudável de transportes.
Mesmo os órgãos de fiscalização ambientais estão deixando a desejar, pois com denúncias como estas, veiculadas em mídia de grande porte, quer nos parecer que não tomaram providências cabíveis, ou não tornaram públicas suas ações.
E sua população espera o cumprimento das ações denunciadas, esperando o cumprimento dos acordos e promessas feitas, que sejam observados seus direitos de cidadãos contribuintes.
É necessário que revejam as demandas operacionais de acondicionamento, coleta e transportes de resíduos, bem como de tratamentos mais compatíveis com a situação, antes de um descarte final em aterro apropriado (inertes, sanitários ou industrial).
A transformação da cidade é dinâmica. Como cidade jovem que é, Diadema, com apenas 52 anos, necessita de avaliações e atualizações nos seus sistemas de gestão, principalmente em se tratando das dinâmicas de geração de resíduos.
A coleta seletiva porta a porta se faz mais que necessária para estas situações porque, alem de reduzir o volume destinado aos aterros, também agrega mais valor aos reciclados, reduzindo os danos ambientais.
O plano Nacional de Resíduos prevê a logística reversa que, se identificados os geradores, os mesmos devem pagar pela retirada e a destinação. Assim sendo, se faz necessária a implantação de pontos de coletas diferenciados para materiais que não podem ser coletados nas coletas regulares, tais como lâmpadas, baterias, etc.
Outras situações também apresentam problemas, restos de obras privadas e públicas devem ser gerenciados e destinados adequadamente para não irem parar em terrenos desocupados, ou deixados em vias públicas para obstruírem os sistemas de drenagem e provocarem danos na infraestrutura já existente ou causarem áreas de enchentes e escorregamentos.
A redução dos resíduos para descartes em aterros se faz mais que necessária, pois não temos mais áreas disponíveis para novos aterros, e podemos ampliar a vida útil dos existentes, caso reduzamos efetivamente o que podemos enviar para os aterros.
Outras cidades vizinhas já implantaram algumas soluções para melhor gerenciar os resíduos e reduzir sua destinação, com competência técnica e responsabilidade social. Precisamos estar sempre revendo as situações, pois a geração de resíduos se faz de uma forma muito dinâmica.
Verifica-se, ainda, que o sistema de drenagem obstruído apresentado na reportagem pode ter material percolado dos resíduos dispostos a céu aberto. Será que estão sendo monitoradas as águas superficiais e profundas no local, ou mesmo se houve alguma contaminação por ter sido desenvolvida a atividade de transbordo no local?
Outro questionamento: será que esta atividade é compatível para o local, quer me parecer que o empreendimento está localizado em área de proteção aos mananciais.
Está na hora de sairmos das nossas indignações e cobrarmos nossos direitos de cidadãos, sugerindo ações de nossos administradores, para que verdadeiramente sejamos respeitados em nossos direitos e na qualidade de vida que merecemos.
(*) Silvana Guarnieri é engenheira e presidente da Delegacia Sindical do SEESP no Grande ABC
* Moradores reclamam de estação de transbordo de lixo em Diadema
Imprensa - SEESP