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18/05/2012

Crescimento econômico, agenda social e modelo global em pauta

No último painel do seminário “A CNTU na Rio+20 e na Cúpula dos Povos”, na tarde desta sexta-feira (18), foi abordado o tema “Trabalho e melhor qualidade de vida para todos: caminho contra as crises e as guerras”. Dois aspectos e visões foram colocados na oportunidade. Membro do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial, Francisco Whitaker centrou sua fala no que está em jogo na Rio+20 – questão colocada pelos movimentos sociais e que dá título ao documento que elaboraram para a Cúpula dos Povos. Nesse sentido, apresentou dois mundos distintos que separam a conferência das Nações Unidas – a se realizar entre 13 e 22 de junho próximo, no Rio de Janeiro, e a Cúpula dos Povos, atividade que será realizada paralelamente ao evento oficial (de 15 a 23 do mesmo mês). Além disso, indicou o cenário em que se dão as iniciativas, em relação à sua predecessora, a Eco 92. “A situação mundial do ponto de vista ecológico é bem mais complicada”, resumiu.

Segundo observou, enquanto na Rio+20 as decisões devem ser tomadas de cima para baixo, sendo falaciosa a participação social, na Cúpula dos Povos o debate está sendo de fato pautado pelos movimentos. De acordo com ele, na divisão das atividades da conferência das Nações Unidas, haverá um momento que está sendo apregoado como de diálogo com a sociedade.“É inacreditável a farsa montada por sugestão do governo brasileiro. Haverá um encontro com grandes personalidades e celebridades, com a presença de 20 pessoas em cada tema que colocarão questões para eles, as quais eventualmente poderão ser incorporadas ao documento final, e 2 mil assistindo apenas.” Já na Cúpula dos Povos, cuja organização, como informou Whitaker, segue a dinâmica estabelecida para o Fórum Social Mundial, haverá 1.400 atividades autogestionadas, tendas, reuniões, assembleias. “Esse pessoal estará denunciando aquele.” Assim, as iniciativas ficarão dissociadas uma da outra.

O ponto de convergência seria que sustentabilidade é fundamental. “O que não estamos de acordo é o modo de fazê-la.” Na sua opinião, o capital quer pintar tudo de verde, mas o que se faz necessário é mudar o modelo em voga. São, para ele, duas visões de mundo distintas, que servem de pano de fundo para o debate sobre trabalho e condições de vida. Uma voltada à lógica da maximização do lucro, que tem por trás interesses financeiros gigantescos, outra a atender as necessidades humanas. Diante disso, fez uma provocação: “Ou acordamos ou a lógica perversa e mortífera do sistema não vai esperar.”

 

Investir em infraestrutura e serviços públicos

Concentrando sua fala no tema do trabalho e qualidade de vida, o especialista em políticas macroeconômicas João Sicsú não propôs uma mudança de modelo, mas uma pauta prioritária neste momento. Professor do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), ele enfatizou que o crescimento econômico é premente e tem se dado nos últimos anos – a uma média de 4,5% de quatro a cinco anos para cá. Como consequência, tem melhorado a qualidade de vida da população brasileira. “A forma de ocupação que mais cresce é o trabalho com carteira assinada. Foram 2 milhões de empregos entre 2005 e 2011. Representa mudança profunda na vida de milhões de famílias.” Segundo sua explanação, com isso, caíram as taxas de desemprego (de 10% para 5%), houve mobilidade social e maior acesso ao crédito, o que fez com que praticamente dobrasse o mercado doméstico de consumo em dez anos. “O Brasil tinha, em 1998, 54% de sua população entre ricos e classe média. Hoje, são 85%. Na classe D, são 14%, e na E, menos de 1%.” A valorização do salário mínimo, fruto da ação do movimento sindical e importante mecanismo de distribuição de renda, seria um fator preponderante nesse contexto. A lição de casa a ser feita agora é priorizar a agenda social. Nesse sentido, destacou as tarefas a serem cumpridas: investir em infraestrutura, educação, saúde e transporte públicos. “É necessário levar o ‘Minha Casa, Minha Vida’ para perto do emprego e as indústrias estabelecerem postos de trabalhos próximos das moradias”, citou. E concluiu: “Para isso, o preconceito tem que ser rompido.”

 

Imprensa - SEESP

Soraya Misleh

 

 

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