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30/05/2012

O Brasil da inovação

Na lista das maiores economias do mundo, o Brasil aparece na sexta colocação. Nos próximos anos, é quase certo que suba posições no ranking, dadas as vantagens em relação aos concorrentes. O País tem grande mercado interno e é um dos maiores exportadores de commodities, condição privilegiada num mundo onde a demanda por esses produtos é enorme e duradoura. Além disso, vive o tão desejado "bônus demográfico", já que o número de pessoas economicamente ativas supera largamente o de dependentes, impulsionando o crescimento do País.

Ser a sexta economia, no entanto, reacende o debate sobre as diferenças de estar entre os maiores do mundo e ser, de fato, uma nação desenvolvida. Não cabe aqui enumerar os vários aspectos que caracterizam um país desenvolvido. Mas vale destacar aquele que tem se mostrado o principal: investimento em pesquisa e inovação e os projetos que daí derivam.

Apesar dos desafios que ainda existem pela frente, alguns dados indicam que o cenário futuro é promissor. De 1998 a 2008, por exemplo, as exportações de alta tecnologia cresceram a uma taxa média anual de 16%. Trata-se de um claro indicador de maior competitividade global e de que o montante de investimentos em inovação evoluiu nos últimos anos. De fora para dentro, outro recorte positivo. Uma projeção do BNDES aponta que o Brasil receberá US$ 850 bilhões até 2014, para aplicação na indústria, pesquisa e inovação.

De acordo com o Barômetro da Inovação 2012 - pesquisa anual realizada em 22 países pela consultoria StrategyOne com 2,8 mil executivos em cargos de decisão - a inovação está intimamente relacionada a investimentos. O estudo, divulgado na semana passada, tem um capítulo sobre o Brasil. Ao ouvir 200 profissionais no País, a pesquisa mostrou que há um enorme desafio em transformar a equação "investimento = inovação" em realidade. Para 92% dos entrevistados, inovação é o principal ingrediente para uma economia mais competitiva.

Desenvolver pesquisas localmente colabora com o aumento da geração de patentes, que hoje, no Brasil, corresponde a uma para cada três milhões de habitantes. Nos Estados Unidos, são 800 para um milhão. Quando se analisa o conhecimento mundial, medido por publicações, o País é responsável por apenas 1,6% da produção global. O estímulo à inovação ainda se mostra benéfico na redução do desemprego: 90% dos executivos concordam que a inovação é a melhor maneira de criar empregos.

Os esforços nacionais são notados diariamente. Diversas empresas se instalarão a partir deste ano no Parque Tecnológico da Ilha do Fundão, no Rio, com o objetivo de fomentar a inovação. Além disso, existem outros polos tecnológicos, como em Campinas e em São José dos Campos, no Estado de São Paulo, e em Camaçari, na Bahia. Na opinião dos participantes do estudo, a satisfação das empresas com o ambiente político e social influencia positivamente na inovação e garante maiores taxas de crescimento para as companhias.

O Barômetro de Inovação deste ano aponta que o próprio conceito mudará. Para 88% do universo entrevistado, a forma como as empresas vão inovar no século XXI é totalmente diferente do que já foi visto até hoje. E 77% dos executivos reconhecem que indivíduos de pequenas e médias empresas têm a capacidade de serem tão inovadores quanto os de grandes empresas.

Na semana passada, a inovação ganhou mais um aliado no Brasil. Realizado em Brasília, o Inova+ reuniu governo e iniciativa privada para endereçar as necessidades de setores como aviação, transportes, energia e saúde, fundamentais para o desenvolvimento e crescimento do País. Como americano, digo que o potencial local é digno de se tirar o chapéu. Como cientista, afirmo que a inovação aplicada é uma das maneiras mais seguras de garantir que os desafios locais serão transpostos.

A discussão em prol da inovação mostra que o ambiente é promissor quando se recortam aspectos como o apetite para inovação entre os jovens e investidores privados; a eficiência das parcerias público-privadas (PPPs) no apoio à inovação; e a rapidez com que produtos inovadores chegam ao mercado. Mostram também que existirão avanços na eficiência do suporte governamental e na proteção à propriedade intelectual, inclusive no tempo de aprovação de novos pedidos de patentes - fundamental para estimular novas descobertas.

Os indicadores do Barômetro da Inovação deixam claro que inovação requer a combinação de fatores internos e externos. Olhando o universo brasileiro, nota-se que o País move-se para permitir às empresas criar novos produtos e soluções localmente. E se inovação é uma alavanca poderosa para enfrentar as dificuldades de um mundo em crescimento, o desafio do Brasil será aplicar os recursos com eficiência para garantir a inovação em solo nacional.

* por Ken Herd, cientista e líder do Centro de Pesquisas Globais da GE no Brasil. Este artigo foi publicado no jornal O Estado de S.Paulo, no dia 28/05/2012

 

Imprensa – SEESP


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