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30/11/2012

Engenheiros vão entregar documento sobre enchentes aos governantes

As enchentes e suas graves consequências para a população da cidade de São Paulo foram discutidas em seminário organizado pelos engenheiros, no dia 28 último. O evento reuniu especialistas, como Ubiratan de Paula Santos, membro do Conselho Tecnológico do sindicato, Ricardo Pereira, engenheiro da Rodvias Engenharia e ex-coordenador de obras e operações urbanas da Emurb (Empresa Municipal de Urbanização), Silvana Guarnieri, presidente da Delegacia Sindical do SEESP no Grande ABC e vice-prefeita eleita de Diadema e o Cel. PM Luiz Dias Filho, chefe de gabinete da Subprefeitura de São Miguel Paulista. Na abertura dos trabalhos, o presidente do sindicato, Murilo Celso de Campos Pinheiro, destacou que os profissionais da área tecnológica têm a obrigação de debater o drama dos alagamentos para reduzir o impacto desse problema na vida das pessoas. “Este seminário tem o propósito de indicar aos nossos governantes medidas para que a cidade e os seus cidadãos não fiquem tão vulneráveis às chuvas, que já se aproximam. Por isso, vamos elaborar um documento que será encaminhado aos prefeitos eleitos da Grande São Paulo.”

* Veja aqui as fotos do evento

SilvanaEnchentes

Na primeira apresentação, Silvana Guarnieri listou várias ações importantes do poder público para evitar as tragédias que acontecem no período das fortes chuvas na região. Entre outras coisas, destaca que os ´piscinões´devem ser repensados e redimensionados e, principalmente, ter a devida manutenção e desassoreamento. O levantamento dos pontos de enchentes e alagamentos ocorridos nos últimos anos é outra medida de relevância, inclusive para disponibilizar as informações para as entidades e a sociedade.

Verificar a situação da rede de drenagem é aspecto fundamental, observa e critica que existe atualmente uma dificuldade em saber de quem é a responsabilidade dessa função, se do município ou do estado. Para ela, isso não deveria atrapalhar o serviço, “ele deve ser feito”. Outro ponto é flexibilizar o horário da coleta de lixo no período das grandes precipitações pluviométricas para evitar que sacos e outros dejetos entupam bocas de lobo, por exemplo. A rede de semáforos é também uma situação que agrava a vida da cidade, pois os mesmos se apagam com as chuvas, causando grandes transtornos no trânsito.


Solidão nas tragédias

UbiratanEnchentes

Já Ubiratan de Paula Santos ressaltou que a intenção do debate era fornecer algumas ideias e contribuições emergenciais ao prefeito eleito de São Paulo para que a cidade possa ter um impacto menor, no período das chuvas. “Tenho tido a infelicidade de presenciar em diversos episódios de enchentes, nos momentos de grandes dificuldades, onde as famílias têm suas casas alagadas e perdem tudo, uma certa solidão de falta de presença ativa, solidária e cuidadora do poder público, que animaria as pessoas a enfrentarem o problema.”

Como sugestão levantou alguns problemas, não estruturais, que deveriam ser equacionados imediatamente, com implantação já a partir de 1º de janeiro próximo. A rede de drenagem da cidade, que é muito impermeabilizada, precisa manter um sistema de limpeza das galerias, dos ramais, das bocas de lobo e de leão. “Os pontos de alagamento precisam de uma intervenção agora e durante todo o período das chuvas. Vejo que isso é uma questão central.”

Santos esclarece que a limpeza dos córregos é atribuição do Estado, porém, defende, que essa questão não é impedimento para que o serviço seja feito. “As subprefeituras têm um papel super importante nesse processo. Elas deveriam se entender com os municípios que fazem divisa com a cidade e encaminhar e fazer a intervenção, e depois tratar com o Estado. O que se deve pensar é que agora se trata de um problema agudo, que acontecerá entre dezembro e março, e o objetivo é salvar vidas e evitar perdas e danos à população.”

Ele informou, ainda, que a cidade paulistana tem 500 mil habitações em áreas de risco ou em locais não normais, como favelas ou aglomerados humanos com dificuldade de arruamento e que geralmente têm córrego perto e problema na adequada coleta de lixo. “Nesses lugares são gerados 1.500 toneladas de dejetos, suficiente para levar a oclusão de vários córregos. Não é uma coisa pequena, por isso as subprefeituras deveriam se entender com as operadoras de coleta para que seja feita uma intervenção imediata.”

Santos também falou sobre a limpeza das ruas das feiras livres, a questão semafórica, sugeriu a constituição de equipes de 24 horas de atuação e checagem nas subprefeituras e também cobrou sobre a atualização do mapa das áreas de risco da cidade.


Ações da Defesa Civil

CELPMLuizEnchentes O Cel. PM Luiz Dias Filho fez uma explanação de todas as ações preventivas, assistenciais e recuperativas da Defesa Civil durante as situações emergenciais geradas pelas consequências das fortes chuvas em São Paulo. Explicou que com a decretação de estado de calamidade pública existe a facilidade de contratação de pessoal.

A ideia de defesa civil, ensinou, começou com as guerras mundiais. No Estado de São Paulo, o serviço foi criado em 1976 depois da ocorrência de grandes catástrofes, como a de Caraguatatuba, em 1967, e os incêndios dos edifícios Andraus (1972) e Joelma (1974).

Segundo ele, os problemas são sérios, graves, complexos e as variáveis mudam a cada instante. “O cenário altera o tempo todo, é uma invasão nova, uma área que não era de risco e passa a ser”, acrescentando que a Defesa Civil gerencia todos os recursos que estão disponíveis, em todos os níveis, para que se tenha um bom resultado de socorro. “Não estamos falando de política mais, mas de atenção à população, por isso tanto faz quem é o governante, temos de usar e otimizar todos os recursos.”


Mapeamento dos riscos

RicardoPereiraEnchentes Ricardo Pereira, da Rodvias Engenharia e ex-coordenador de obras e operações urbanas da Emurb (Empresa Municipal de Urbanização), relembrou fato que presenciou, em 4 de janeiro de 1989, quando, nos primeiros dias do governo da prefeita Luiza Erundina, fez um sobrevoo na cidade que estava quase toda submersa em grandes alagamentos depois de fortes chuvas. Passados 23 anos, a sua grande preocupação é com o enfraquecimento da administração municipal, que vem se descapitalizando de equipamentos e de pessoal próprio.

Pereira critica a falta de transparência de informação, para a população, sobre os riscos e os problemas que ela pode enfrentar numa situação de fortes chuvas. “Não sabemos quem deve ser acionado num momento de emergência. Hoje existe uma imensa “caixa preta”, porque não sabemos como as coisas funcionam. Precisamos ter conhecimento dos planos de emergência.” Há 20 anos, informa, foi feito mapeamento das áreas de riscos, que envolviam enchentes e deslizamentos, que eram em torno de 200 pontos, e decidiu-se trabalhar nos 100 pontos principais à época. “Esse mapeamento certamente foi mudando ao longo do tempo, no entanto não se deu a devida divulgação sobre esse fato”, alerta.

Para ele, é uma vergonha que, numa sociedade que consegue mandar espaçonaves para Marte, ainda não consiga prevenir ou acabar com as consequências de fenômenos naturais, como as chuvas. Pereira disse que sempre teve um sonho de criar uma engenharia de cidades, por isso se mostrou satisfeito em saber que o SEESP está criando o Isitec (Instituto Superior de Inovação e Tecnologia) e torce para que a prefeitura estreite laços com a nova escola. “A engenharia de São Paulo hoje está muita desvalorizada, há um grande esvaziamento, envelhecimento e cansaço daqueles poucos que ainda batalham. Poderia-se criar uma unidade da engenharia para enfrentar esses problemas.”

* Veja aqui a apresentação da engenheira Silvana Guarnieri
* Veja aqui a apresentação do CEL. PM Luiz Dias Filho

 

Rosângela Ribeiro Gil
Imprensa - SEESP



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