No segundo e último dia do Seminário de Integração Latino-americana dos Trabalhadores Universitários, nesta sexta-feira (23/5), da CNTU, os dirigentes sindicais José Divanilton Pereira da Silva, da Federação Única dos Petroleiros (FUP), do Brasil, e Fredy Franco, da Frente Nacional dos Trabalhadores (FNT) da Nicarágua, apresentaram como deve ser a integração do continente, não apenas levando em conta a parte comercial e econômica, mas sendo, também, complementária, solidária e cooperativa. “Só assim poderemos superar a desigualdade e a pobreza dos nossos povos”, conclamou Franco.
Fotos: Beatriz Arruda
Dirigente nicaraguense quer unidade que promova lutas solidárias e complementares
Silva reforçou, dizendo que a classe trabalhadora não quer qualquer integração, observando o próprio nome do Mercado Comum do Sul (Mercosul), cujo destaque é para a palavra “mercado”. “Em nosso ponto de vista, a nossa unidade deve ser popular, soberana e democrática e tem, por isso, outros pressupostos”, esclareceu. O primeiro deles, segundo o dirigente petroleiro, deve ser o da centralidade do trabalho, com a valorização da mão de obra, não apenas com salários melhores, mas com qualificação. Ele defendeu um protagonismo maior dos sindicatos de trabalhadores nas discussões da integração latino-americana e caribenha, mas também em outros organismos que têm se contraposto ao poder econômico e militar dos Estados Unidos, como é o caso dos BRICS (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) que criou espaços para os empresários e as universidades. “Precisamos ter o nosso lugar também”, defendeu.
O sindicalista da FNT parabenizou a CNTU pela iniciativa de abrir a discussão da integração entre os profissionais liberais, uma ideia, lembrou, que vem desde o século XIX, com os revolucionários Augusto César Sandino (nicaranguense), Simón Bolívar (boliviano) e José de San Martín (argentino) e que, após a Segunda Guerra Mundial, foi retomada com algumas iniciativas, como o Sistema de Integração Centro-Americano (Sica) e a Comunidade Andina (CAN). Para ele, a América Latina vive um momento essencial para a institucionalidade de sua integração regional. Todavia, os trabalhadores devem se impor nesse debate para que tal unidade proporcione um fruto positivo “aos nossos povos”.
Em busca do terreno perdido
Por outro lado, apesar das condições atuais mais favoráveis à unidade, com governos progressistas à frente de vários países do continente, os Estados Unidos não estão vendo isso de forma tranquila, adverte Silva, avaliando que o “império estadunidense” tenta recuperar o terreno perdido. “Por isso, eles criam um ambiente político tenso, incerto e perigoso em três países em especial: Venezuela, Brasil e Argentina.” Ele aponta como estratégia fundamental para romper o círculo de subdesenvolvimento e atraso industrial e científico da região, capitaneado pela América do Norte, o fortalecimento de organismos de unidade política e econômica dos países latino-americanos, elevando a integração do continente a uma categoria de doutrina.
Silva, da FUP, adverte para ambientes tensos e perigosos patrocinados pelos EUA
em países latino-americano, como Brasil, Venezuela e Argentina
Nesse sentido, ele rechaça a ideia de alguns tratados comerciais, como a Área de Livre Comércio da América (Alca), um projeto norte-americano que, a pretexto de criar uma zona de livre comércio entre os países do continente, criava um tipo de “anexação” das nações menos desenvolvidas às regras econômicas daquele país. A posição é reforçada por Franco que observa o atraso instalado na região, a partir dos anos 1980, com a instalação de governos neoliberais, deixando os países latino-americanos e caribenhos ainda mais desiguais e vulneráveis, promovendo uma privatização predatória e deixando-os fora da revolução técnico-científica. Realidade que começou a mudar com a ascensão de governos progressistas, ressalta, destacando que os nossos países têm a oportunidade de implantar um desenvolvimento inclusivo, respeitando a natureza, as populações indígenas, os afro descendentes, as mulheres e as crianças. “Só unidos podemos avançar e acabar com tanta desigualdade e simetria no nosso continente”, exultou.
A unidade, todavia, ressalta Franco, deve começar dentro dos próprios países, superando a fragmentação interna que se dá no meio sindical, por exemplo. “Devemos trabalhar para a unidade nacional, regional e continental e buscarmos temas comuns que nos unifiquem, como a defesa do salário mínimo, da seguridade social e do tripartismo (governo, empresários e trabalhadores) em todas as grandes discussões.”
Democratizar a comunicação
Outro ponto definido como fundamental à integração pelo dirigente nicaraguense é o da democratização dos meios de comunicação, “precisamos nos conhecer melhor e sabermos mais das nossas lutas e avanços”, observou. Tal situação não é possível no momento, avalia, porque a informação da imprensa dos países latino-americanos “tem alto nível de manipulação e mentira”.
Os trabalhos dessa mesa de debate foram coordenados pelo diretor da Federação Nacional dos Engenheiros, José Ailton Ferreira Pacheco. Confira aqui mais fotos dessa discussão.
Rosângela Ribeiro Gil
Imprensa – SEESP