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28/08/2015

Evento reflete papel dos trabalhadores universitários no âmbito do Mercosul

É preciso entender a conjuntura político-econômica mundial, reconhecer que há uma crise global do capital, para compreender a complexidade das mudanças na América Latina e nos países que compõem o Brics. Para tanto, é preciso tempo para elaborar, refletir, chegar a um posicionamento sobre os fatos para alcançar uma unidade e integração dos povos.

 

Foto: Beatriz Arruda/Imprensa SEESP

mesa das 14h dia 27 para seesp 1Na mesa, da esquerda para a direita, o argentino Julio Gambina, a vice-presidente da CNTU,
Gilda Almeida; e o dirigente uruguaio Leonardo Batalha


Essa é uma síntese das explanações dos dois palestrantes da mesa  a “Importância e desafios dos trabalhadores universitários no Mercosul”, na  tarde de quinta-feira (27/8), do II Seminário Internacional de Integração dos Trabalhadores Universitários, promovido pelo departamento de Relações Internacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU). Coordenada pela vice-presidente da CNTU, Gilda Almeida, a mesa ocorreu às 14h, no auditório do SEESP, em São Paulo (SP).

Leonardo Batalha Pereira, do departamento de Relações Internacionais da Central Sindical uruguaia PIT-CNT, e também diretor do Sindicato dos Bancários do Uruguai, entidade nacional daquele país,  saudou a iniciativa da Confederação em reunir os trabalhadores para organizar o pensamento e debater os grandes temas de fundo da atualidade. Em sua explanação, ele defendeu uma nova formação dos trabalhadores universitários, dos valores e da solidariedade entre os povos.

“Somos vítimas da cultura capitalista que nos obriga a resolver todas as coisas de forma imediata. E quando fazemos dessa forma, perdemos a capacidade para pensar e refletir uma resposta mais aprofundada sobre determinado tema. Então saudamos a iniciativa de debater e trocar informações. Temos que ter essa capacidade de pensar diferente mas ter espaços para debater e gerar posições unitárias. Por isso saudamos a CNTU como um exemplo  no Brasil de um espaço plural e de debate”, disse Batalha, que também é um dos organizadores do Encuentro Sindical Nuestra América (Esna) – encontro anual criado em 2008, em Quito, Equador.

Batalha, que substituiu o diretor nacional do Trabalho, do Ministério do Trabalho do Uruguai, Juan Castilho, que não pode estar presente por questões de ordem política em seu país, convidou a CNTU e a todos os presentes a participarem do próximo Esna, que foi criado para estimular a integração entre os povos. O encontro já reuniu milhares de trabalhadores, de diversos países, para refletir sobre os processos políticos.

“Defendemos a autodeterminação dos povos e apostamos que a America Latina siga dessa forma. Por isso não se trata de uma simples análise sobre o que acontece na América Latina. Porque a composição social dos processos de transformações são diferentes”, explicou Batalha, que acredita que, além de viver um momento de reflexão profunda, o continente latino-americano vive também um momento de ação profunda.

Na visão do coordenador do Esna, tem que haver uma integração prática dos povos, rompendo as barreiras do idioma e geográficas. O encontro, de acordo com seu relato, está proporcionando também a integração com países que não falam castelhano. “Hoje trabalhamos muito com organizações sindicais inglesas dispostas a contribuir economicamente para que o encontro possa continuar formando trabalhadores”, recordou.

O sindicalista lembrou que dentre todos os problemas do ponto de vista educacional, o que mais preocupa atualmente é a formação de jovens e de mulheres, além de buscarem soluções para estreitar o vínculo entre a universidade e os movimentos sociais.  “Se a intelectualidade orgânica não nos municiar de informação e elementos teóricos, será difícil os trabalhadores vislumbrarem a construção de uma sociedade diferente”, concluiu.
 
Crise é mundial
O economista argentino Julio Gambina, professor do Instituto de Estudos e Formação da Central de Trabalhadores da Argentina (CTA) e da Universidade Nacional de Rosário, enfatizou em sua exposição que a crise econômica é mundial e não somente da Grécia, ou somente do Brasil, da China, etc.  E, ao contrário das teorias que surgiram nos últimos anos sobre o fim do trabalho, há cada vez mais trabalhadores no mundo que sofrem com as políticas de ajuste fiscal, que impõem menores salários e precarização. Ele salientou que boa parte da crise resulta em uma crise alimentar. “Ocorre que boa parte da produção agrária não é mais para alimentar pessoas, mas sim alimentar máquinas”, lamentou Gambina, lembrando que 5 bilhões de pessoas no mundo passa por algum tipo de necessidade.

O economista argentino, que é especialista em política mundial e dívida externa,  lamentou a falta de uma crítica mais aprofundada sobre os modos de produção que estão destruindo os recursos naturais:  “Temos que reconhecer que somos capazes de produzir mais alimentos que necessitamos e que mesmo assim milhões sofrem de fome e desnutrição.  É uma vergonha”.

América Latina e Brics
Em uma de suas provocações, Gambina questionou  a todos sobre qual imagem os latinos têm de seu continente nos últimos anos. Na primeira década do século 21 até 2012 a America Latina cresceu mais do que a média da economia mundial. No entanto, em 2012, a situação mudou com a baixa do preço das commodities como o petróleo – barril que custava 150 baixou para menos de 40 dólares o barril – e a soja. E isso acabou gerando falta de recursos para manter os programas sociais que foram implantados nos últimos 10 anos em países como Venezuela, Brasil, Argentina, México e Paraguai. “Não há mais os mesmos recursos econômicos que havia há quatro ou cinco anos atrás. E essa política social só é possível se há recursos fiscais abundantes nos estados. Eu quero chamar a atenção e provocar vocês a refletirem sobre o período que estamos entrando: de crises fiscais em nossos países. Não temos mais os excedentes que tínhamos antes”, explicou.

Da mesma forma, os Brics – China, Russia, Brasil, Índia, África do Sul -  também sofreram uma desaceleração econômica por conta de inversões dos capitais. Quando Estados Unidos, Europa e Japão constataram que a crise econômica viria, os capitais excedentes saíram desses países e foram para os países do Brics. Agora, explicou ele, esses capitais estão fugindo, o que não é ilegal.

Citando o educador Paulo Freire, o dirigente da Argentina alertou que os trabalhadores universitários estão privilegiando o saber profissional, muitas vezes aprendido com “algumas verdades que não são verdades ou vêm de uma formação eurocêntrica”. Para Gambina, o papel dos trabalhadores universitários é unir o saber profissional ao saber popular na busca de alternativas ao sistema hegemônico capitalista que está ruindo.

“Não temos que explicar ao povo o que ele tem que fazer. Necessitamos de uma articulação do saber profissional e do saber popular. Escutar e aprender mais com a dor dos povos e construir um novo pensamento critico. Claro que isso suporia também mudar profundamente o pensamento na universidade”, concluiu.




Deborah Moreira
Imprensa SEESP



 

 

 

 




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