O crédito deve encerrar 2010 no patamar mais alto da história, em 47% do PIB e expansão de 20% em relação ao ano anterior. Além da recuperação da demanda, as condições dos empréstimos são cada vez melhores para as famílias. A taxa de juros para pessoas físicas atingiu em novembro o menor valor da história, 39,1% ao ano. Os prazos dos empréstimos ao consumo também são os mais dilatados da série do Banco Central (BC), 551 dias. Puxado pelo aumento da renda, a inadimplência continua caindo. Chegou no mês passado em 5,9%, menor valor desde 2001.
Para as empresas, os subsídios das linhas do BNDES garantiram linhas mais baratas para investimento. O saldo dos empréstimos com recursos do banco de desenvolvimento teve expansão de 31% nos últimos doze meses. As perspectivas também são favoráveis, com a promessa do pacote de medidas de alongamento dos prazos anunciado pelo governo, que deve melhorar as condições para o financiamento da produção e do investimento.
Mas o próximo ano deve marcar uma reversão nesse processo. As medidas macroprudencias anunciadas pelo Banco Central no início do mês devem se refletir em elevação das taxas de juros, admitiu Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do BC. Essa pressão se soma à alta dos juros básicos da economia, a Selic, que também deve elevar o custo de captação dos bancos. Dados preliminares da autoridade monetária para o mês de dezembro, até o dia 7, já sinalizam esse custo maior para as instituições financeiras da ordem de 0,4 ponto percentual.
Além disso, tanto os bancos quanto o Banco Central esperam desaceleração do crédito em 2011. Pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) com as principais instituições financeiras aponta expectativa de evolução da ordem de 17%. Já o BC acredita em expansão de 15% para 2011, sendo 12% no crédito para as famílias e 14% para as empresas. Dessa forma, o saldo deve fechar 2011 no patamar de 50% do PIB.
Parte dessa desaceleração vem das medidas de restrição aos empréstimos impostas pelo BC. Mas os bancos públicos, especialmente o BNDES, também devem ter um ímpeto menor no próximo ano. O orçamento do banco de desenvolvimento deve ser da ordem de R$ 50 bilhões ou R$ 60 bilhões, cerca de metade da disponibilidade deste ano.
Para o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, o ritmo deve desacelerar de maneira gradual. "Não é bom para a economia uma queda brusca na evolução do crédito, mas é importante que a velocidade de crescimento seja um pouco mais moderada do que nos últimos anos", disse ao comentar o Relatório de Inflação, na semana passada.
Segundo ele, as taxas de crescimento são elevadas, mas não se pode fazer comparações com outras economias cujo mercado encontra-se num patamar de desenvolvimento superior ao brasileiro. O Comitê da Basileia publicou um estudo em que aponta que o crédito bancário no Brasil cresce acima da média histórica e isso exigiria que as instituições financeiras aumentassem o colchão de capital.
"As taxas de crescimento no Brasil são elevadas, mas o estoque subiu de um patamar muito baixo. O nosso mercado não pode ser comparado com economias com estágios diferentes, mais maduras. Quando identificamos problemas, agimos, como fizemos em dezembro", disse Carlos Hamilton, lembrando das medidas macroprudenciais.
O estoque de empréstimos do sistema financeiro atingiu R$ 1,677 trilhão em novembro, com expansão de 20,8% em doze meses. O maior crescimento do ano foi dos financiamentos à habitação, que evoluiu 53,6% nos últimos doze meses, para R$ 126,6 bilhões. Na sequência aparecem os repasses dos recursos do BNDES, com avanço de 46% em doze meses, para R$ 174,1 bilhões.
O BC também não demonstra preocupação com a inadimplência para o decorrer de 2011. Segundo Carlos Hamilton, o comprometimento da renda das famílias com o serviço da dívida se mantém relativamente estável nos últimos anos, apesar da expansão do mercado do crédito. Essa estabilidade se deve ao alargamento dos prazo, à redução dos juros e à mudança na composição das dívidas, com migração para modalidades mais baratas.