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04/01/2011

As bactérias que produzem plástico

         Vivemos cercados de material plástico por todos os lados. Eles fazem parte do nosso cotidiano e representam componente importante da atividade industrial, sobretudo na área da petroquímica. A produção mundial é da ordem de 150 milhões de toneladas por ano, sendo que cerca de 95% do total terminam criando problemas ambientais, já que são lançados em aterros.
         A matéria prima para produção de plásticos é, sobretudo, o etileno e o eteno, provenientes do petróleo e do gás natural. Entre os principais plásticos temos, hoje, o polietileno (usado na produção de frascos e sacos plásticos), o polipropileno (frascos e tampas), PET (garrafas para refrigerantes), PVC (tubos e conexões) e o poliestireno (copos de plástico, isopor).
         Consciente da importância do plástico no mundo moderno, várias tentativas vêm sendo feitas no sentido de produzi-lo a partir de fontes renováveis e torná-lo biodegradável, minimizando assim os problemas ambientais. Entre estas tentativas, merece destaque a produção a partir de etanol.
         Neste campo, é importante mencionar o trabalho que vem sendo desenvolvido pela área tecnológica da Braskem, empresa localizada em Triunfo, Rio Grande do Sul, que já está produzindo cerca de 200 mil toneladas por ano de material plástico derivado de etileno formado a partir de um processo de desidratação do etanol oriundo da cana-de-açúcar, na presença de catalisadores.
         Outras iniciativas importantes têm surgido com a obtenção de plásticos a partir do amido de mandioca, da soja e da celulose vegetal de um modo geral. Surge assim o chamado bioplástico, que pode ser puro ou misturado com plástico de origem petroquímica.
         Uma das características da moderna biotecnologia é procurar os microorganismos abundantes na natureza para, de forma espontânea, ou com a ajuda de métodos modernos oferecidos pela chamada engenharia genética, produzir metabólitos que possam vir a ser utilizados em processos industriais na fabricação de produtos de interesse.
         Vários microorganismos de natureza bacteriana, sobretudo os que vivem no solo, desenvolveram a capacidade de sintetizar e acumular dentro da célula reservas de carbono para utilização futura, quando em condições adversas. Afinal, sendo o carbono um elemento básico para a formação de milhares de compostos fundamentais à sobrevivência, bem como à multiplicação microbiana, nada mais inteligente do que desenvolver um meio de produzi-lo e estocá-lo em grandes quantidades e utilizá-los quando necessário.
         Este é apenas mais um exemplo de processos bioquímicos básicos que explicam o êxito do processo evolutivo ao longo de milhões de anos. Em certas condições experimentais, as bactérias podem sintetizar e armazenar polihidroxialconoatos (PHA) em quantidades que correspondem à cerca de 90% do peso seco da célula. Ao se visualizar estas bactérias com o microscópio eletrônico, têm-se a impressão de que representam um saco de material polimérico.
         Cabe esclarecer que o PHA é um polímero do ácido hidroxilalconeico e que pode ser utilizado para a produção de vários produtos, alguns de grande interesse na área médica. Cito apenas a produção de cápsulas para veiculação de medicamentos, implantes ortopédicos, stents, entre outros. O PHA já é também utilizado por algumas empresas na fabricação de embalagens para xampu.
         Levando em consideração, (a) o potencial representado pelas bactérias na produção de bioplástico, (b) a crescente necessidade do uso de material plástico produzido a partir de material renovável e biodegradável, e (c) a significativa biodiversidade brasileira aliada à existência de grupos de pesquisa atuantes em microbiologia do solo, é fundamental o estímulo à atividade de pesquisa científica, tecnológica e de inovação neste campo.

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Wanderley de Souza é professor titular da UFRJ, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Nacional de Medicina. Ex-secretário executivo do Ministério de Ciência e Tecnologia e ex-secretário de estado de Ciência e Tecnologia do RJ. Artigo publicado no "Jornal do Brasil" e reproduzido no JC Online

 

www.cntu.org.br

 

 

 

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