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30/11/2009

Benefícios do biogás e responsabilidade social em debate

       O diretor técnico da Biogás Energia Ambiental, Antonio Carlos Delbin, abriu a sétima plenária da tarde desta sexta-feira (27) falando sobre a experiência da empresa na produção de biogás em três grandes aterros sanitários, Bandeirantes e São João, em São Paulo e Novo Gramacho, no Rio de Janeiro.
       Conforme explicou, a partir da decomposição da matéria orgânica desses aterros, a empresa transforma o nocivo metano em energia limpa. “Assim reduzimos a emissão de gases poluentes na atmosfera, oferecemos uma fonte alternativa de energia elétrica à comunidade e contribuirmos com a preservação ambiental do planeta.”
       Outro aspecto positivo da ação, é que os projetos de geração de energia a partir do biogás permitem a futura negociação de créditos de carbono, o que ajuda a amortizar os custos de implementação. “Projetos em aterros sanitários respondem pela emissão de 3.786.009 créditos de carbono no mundo, desses 16% são emitidos para o Brasil”, mencionou Delbin.

 


       Nos aterros de São Paulo, metade dos créditos gerados ficam com a Biogás e o restante com o poder público.
       No caso do Bandeirantes, foi possível fazer duas vendas de créditos de carbono em leilões na BM&F Bovespa, que permitiu à Prefeitura de São Paulo faturar R$ 73 milhões. Desses R$ 51 milhões já estão sendo revertidos na recuperação da área e do em torno do aterro, através da construção de um centro de formação socioambiental, na coleta seletiva e instalação de ecopontos, na implantação de ciclovias, urbanização, entre outras ações. “Assim que finalizadas, essas obras vão beneficiar a população e valorizar a região”, disse Delbin.
       Conforme relatou, o aterro Bandeirantes encerrou sua operação em março de 2007 e ao longo desse tempo armazenou um total de 30 milhões de toneladas de lixo. “Se os gases nele produzidos fossem simplesmente queimados nos drenos, lançariam milhões de toneladas de poluentes na atmosfera”, explicou.
       Segundo Delbin, as atividades da empresa envolvem a captação e direcionamento do biogás a motogeradores de até 12.000 m3/h, com um conteúdo mínimo de 50% de metano.
       Apenas no aterro Bandeirantes, o biogás assim produzido é usado para acionar 24 conjuntos moto-geradores de 925 Kw, o que corresponde a uma potência líquida de 20 mil Kw, energia suficiente para abastecer cerca de 400 mil habitantes.
        Para produzir essa quantidade de gás foram instalados pela empresa 43 km de tubos conectados a 250 drenos verticais, além dos equipamentos necessários para a sucção, secagem e queima do gás excedente.

Mudar a lupa do olhar é o desafio
       Questionando os participantes sobre o olhar de cada um com relação aos problemas sociais da atualidade e sugerindo mudar a lupa do olhar, Rachel Negrão Cavalcanti, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), discursou sobre responsabilidade social.
       Utilizando o conceito da cegueira da consciência, do pensamento e da percepção, a palestrante mencionou inúmeras desigualdades sociais que passam despercebidas no nosso olhar, como por exemplo, o PIB (Produto Interno Bruto) mundial. Em 2007, totalizou US$ 54 trilhões, sendo que 80% ficou com 1 bilhão de pessoas e 20% para 5 bilhões. No caso do Brasil, o quadro é ainda mais agravante. Em 2005, 75% do PIB estava nas mãos de 2,5% da população, enquanto 25% para 97,2%.
       Cavalcanti apresentou também dados da pobreza mundial, da falta de acesso a água e a saneamento, e dos refugiados ambientais, que segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), serão 50 milhões de pessoas em 2010. “Olhamos e pensamos de forma curta e fragmentada, não vemos o sistema econômico como parte de um todo que interage com ele e que depende dele mesmo para continuar a existir. O desafio é mudar o foco do olhar”, criticou.
       Para reverter esse quadro, Cavalcanti acredita que somente será possível através da adoção de diferentes valores e crenças que motivarão transformações na conduta da sociedade. “O nosso pensamento quer ação. Por isso temos sabidamente o lado esquerdo e direito do cérebro, o racional e o intuitivo. Os dois precisam trabalhar juntos, , para uma vida mais gratificante, justa e produtiva.”
       Segundo ela, o equilíbrio entre os dois lados serão estimulados através de novos referenciais de educação e de gestão para despertar indivíduos éticos e responsáveis com consciência das conseqüências de suas ações. “Precisamos do pensamento sistêmico que integra os fatos da realidade, amplia o entendimento sobre esses fatos, junta o que aparentemente está separado e permite a visão a longo prazo.”
       Conforme Cavalcanti, no âmbito da responsabilidade social empresarial, é necessário uma gestão definida pelo compromisso público de implementação de processos produtivos, comerciais e gerenciais, baseados em relações éticas, transparentes e solidárias da empresa com todos os públicos afetados por suas atividades, produtos e serviços. “Além disso, é preciso estabelecer metas empresariais compatíveis com a sustentabilidade da sociedade preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a igualdade.”
       Para finalizar, a palestrante sugeriu que as responsabilidades sejam compartilhadas por todos os protagonistas do processo, seja o Estado, os trabalhadores, os empresários e a sociedade civil organizada no sentido de criar soluções criativas que incluam o ambiente através de manutenção, melhoria e conservação de seus recursos e serviços, e o aspecto econômico com viabilidade e lucratividade dos negócios. “É preciso ter ousadia, coragem e criatividade para estimular mudanças no sistema operacional do capitalismo, reinventar os bens coletivos, criar confiança, institucionalizar os direitos humanos e promover uma nova cultura de compartilhamento.”

 

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