Vou contar uma antiga fábula chinesa e tirar uma lição.
Um dia, o príncipe chamou um dos pintores que trabalhavam para ele e perguntou o que era mais difícil de pintar.
Cachorros e cavalos são os mais difíceis, respondeu o pintor.
E o que é mais fácil?
Fantasmas e monstros, disse o artista. E explicou: cachorros e cavalos nos são familiares. A toda hora vemos um, seja de dia, seja de noite. Porém, é difícil pintá-los do jeito que eles são. Já os fantasmas e monstros não têm uma forma definida e ninguém nunca os viu. Por isso são mais fáceis de serem pintados.
Faço referência à crise que nos assola e às inúmeras análises sobre ela, para melhorar nossa capacidade de reação.
Muitas análises parecem pinturas de fantasmas e monstros para nos meter medo; poucas têm a precisão de uma boa pintura de cachorros e cavalos, que nos são familiares.
Para desenhar a crise devemos precisar seus traços e colorir a sua intensidade; reagiremos melhor com uma visão melhor.
No topo da lista está a crise política, que é aguda e se alimenta de erros, de rancores, do estardalhaço midiático e do moralismo justiceiro.
A meio caminho está a crise econômica, aguda em alguns setores e ainda relativamente branda em outros (principalmente os de consumo popular).
E, na base da pirâmide, estaria a crise social, que por hora não é real: o povo trabalhador, que sofre com as duas outras crises, está apreensivo, mas busca alternativas. Esta é a base sobre a qual apoiamos nossa atividade, que deve ser propositiva.
Se pintarmos com precisão podemos ver cachorros que mordem e cavalos que corcoveiam, sem os temores causados por fantasmas e monstros.
* João Guilherme Vargas Netto é consultor sindical