Setores estratégicos ao desenvolvimento nacional, o agronegócio e a indústria foram tema do painel que abriu os trabalhos no IX Congresso Nacional dos Engenheiros (Conse), na tarde de 5 de outubro. As exposições inaugurais foram precedidas de apresentação cultural do grupo Ryukyu Koku Matsuri Daiko, que trouxe música tradicionais de Okinawa, Japão, e ritmos contemporâneos locais. Após serem brindados por mostra da preservação da cultura de imigrantes japoneses – uma das maiores comunidades em Mato Grosso do Sul -, os especialistas apontaram os desafios e oportunidades nos dois segmentos, como a importância de avançar na inovação e combater a desindustrialização em curso. Organizado pela Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) e Sindicato dos Engenheiros de Mato Grosso do Sul (Senge-MS) e sediado no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-MS), em Campo Grande (MS), o evento segue até amanhã (dia 7). Confira transmissão ao vivo.
Painel 1 sobre agronegócio, no IX Conse
Coordenador de Estudos Pós-graduados em Economia Política da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o professor Antonio Corrêa de Lacerda apresentou as causas e saídas à desindustrialização precoce em curso no País. Segundo ele, o processo é de ordem conjuntural e estrutural, resultado da “ausência de estratégia voltada ao desenvolvimento industrial e de erros básicos na definição de macropreços, sobretudo na política cambial”. De acordo com o professor, o salto no preço internacional das commodities amenizou as desvantagens por um período. Porém, esse cenário mudou e o erro de tentar barrar a inflação com elevação brutal na taxa de juros culminou em desequilíbrio nas contas públicas. Combinado um conjunto de fatores, continuou ele, como corte nas inversões, encarecimento do crédito e retração dos bancos públicos, os efeitos da Operação Lava Jata, “o PIB este ano deve cair 3% e os investimentos, 12%”. Na sua análise, esse quadro deve permanecer em 2016. “Estamos reféns do curto prazo.” Lacerda foi categórico: “O grande desafio é transformar as debilidades brasileiras em logística e infraestrutura em oportunidades e aproveitar o potencial brasileiro. É necessário fazer, para tanto, alianças estratégicas, articular políticas macroeconômicas com setoriais e de desenvolvimento, em contraponto ao rentismo.” Em outras palavras, “reindustrializar utilizando as novas tecnologias e retomar o desenvolvimento com base nesse processo, incentivando a produção”.
Sob esse mote, é crucial garantir sustentabilidade ao agronegócio, sobretudo porque o País terá contribuição fundamental para assegurar segurança alimentar ao mundo. Foi o que demonstrou o diretor executivo de Transferência de Tecnologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Waldyr Stumpf Junior. Segundo ele, a expectativa é de que em 2050 o planeta chegue a 9 bilhões de habitantes – hoje são 7 bilhões. “A projeção é de crescimento da demanda de alimentos de 62%. É um desafio e uma oportunidade fantástica ao Brasil, que tem grandes vantagens competitivas. Temos área total de 850 milhões de hectares e capacidade de expansão em torno de 100 milhões.” Citando exemplos de ações que vêm sendo feitas pela Embrapa, em sua preleção, ele apontou a importância da pesquisa e tecnologia na obtenção de ganhos de produtividade sem necessidade de “abrir novas áreas”. Stumpf, contudo, reiterou a premência de solucionar a questão da logística, um dos gargalos a esse desenvolvimento.
Renato Roscoe, presidente da Associação de Engenheiros Agrônomos de Mato Grosso do Sul, apontou ainda, entre outras, as demandas por reduzir as barreiras burocráticas, aproximar academia e setor produtivo e “desamarrar” o processo de financiamento à ciência, tecnologia e inovação (C, T & I). E complementou: “Se não tivermos um sistema de C & T robusto, perderemos oportunidades. É preciso modernizar a pesquisa e inovação no País.” Representando Arnaldo Jardim, secretário de Estado de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Delson José Amador destacou a importância dos engenheiros brasileiros nesse processo. Nessa direção, José Roberto Bernasconi, presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), enfatizou a urgência de se valorizar o planejamento e projeto e, portanto, o profissional da categoria. “Sem engenheiro não se faz desenvolvimento.” O painel foi coordenado pelos diretores da FNE José Luiz Azambuja e José Ailton Ferreira Pacheco.
Soraya Misleh
Imprensa SEESP