No primeiro painel do seminário, “A participação dos jovens engenheiros na construção de uma nova etapa do sindicalismo brasileiro em defesa de sua profissão”, o consultor sindical João Guilherme Vargas Netto falou sobre a formação da classe trabalhadora brasileira, nos idos dos anos 1900, integrada por negros recém-libertados da escravidão, completamente desorganizados, e mão de obra estrangeira, vinda, principalmente, de Portugal, Espanha, Itália, França, Alemanha. “Naquela época, o Brasil era uma imensa fazenda ainda. Estávamos iniciando as nossas indústrias.” Ele explicou que, em razão dessa diversidade cultural e de nacionalidade, os primeiros jornais sindicais não eram escritos apenas em português, mas em espanhol, alemão, francês e italiano. Foram os estrangeiros que criaram os primeiros sindicatos do País, com as reivindicações unitárias dos trabalhadores do mundo, como a da jornada de oito horas diárias, contra o trabalho infantil e em defesa de salário igual para as mulheres.
Fotos: Beatriz Arruda/SEESP
No Painel I, em discussão a formação do sindicalismo no País e o futuro do movimento sindical
Ele recordou que as primeiras manifestações operárias se deram na Inglaterra, berço do capitalismo, com a quebra de máquinas, movimento que ficou conhecido como Ludismo, cujo nome deriva de Ned Ludd, personagem lendário que destruía as máquinas sempre vestido de mulher. Na sequência, os trabalhadores criaram o “cartismo”, movimento ocorrido também na Inglaterra, entre as décadas de 30 e 40 do século XIX. “Eram cartas escritas com as bandeiras dos trabalhadores”, explicou Vargas Netto.
A partir de então, outras formas de luta foram agregadas, como a greve, “uma palavra-chave da ação sindical”. As primeiras paralisações realizadas no Brasil, segundo Vargas Netto, precedem a organização em sindicatos, como a dos estivadores de Fortaleza (CE), em 1853, que se negaram a fazer o desembarque de navios com escravos vindos da África. A segunda, em 1856, foi a dos gráficos que paralisou os principais jornais da capital do Império, no Rio de Janeiro.
O consultor sindical mostrou que o movimento sindical, ao longo da história do Brasil e de outros países, sempre desempenhou papel extremamente civilizatório e humano. Por isso, lamentou, na instalação da ditadura civil-militar de 1964, os sindicatos nacionais foram tão perseguidos e aterrorizados. Para ele, a partir da década de 1970, o capitalismo se propôs a destruir as formas de convívio da sociedade humana, colocando em cheque a sociabilidade e as organizações. Por essa razão, inclusive, acredita Vargas Netto, hoje existe um estranhamento do movimento sindical com relação às aspirações dos jovens, e vice-versa. “O fato de ser velho ou jovem não é vantagem ou desvantagem. Há uma linguagem que pode ser comum.”
Ele finalizou a palestra recorrendo a uma frase do ex-presidente do Uruguai, José Mujica, para que os jovens vivam como pensam, porque senão serão obrigados a pensar apenas como vivem.
Público se mostrou atento durante todo o seminário
Anjo da guarda
Júnia Dark, a segunda palestrante do painel, diretora do Sindicato dos Farmacêuticos de Minas Gerais e da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar), a partir da experiência própria, de ter “descoberto” o sindicato logo após a sua diplomação como farmacêutica bioquímica, disse que ficou encantada quando começou a frequentar as reuniões. “Cresceu em mim a semente da indignação.” Segundo ela, os jovens ao se formarem perguntam: “E agora?”. “É um momento que mistura medo, ansiedade pelo futuro, alegria e dúvidas sobre pós-graduação e o mercado de trabalho.” Para ela, o sindicato é o “anjo da guarda” do profissional. E relacionou: “É ele quem vai lutar por salário e condições de trabalho decentes. Não existe categoria forte com sindicato fraco.”
Ela descreveu quem é esse jovem que está afastado ou desconhece o sindicato: é conectado, tem pouca formação e aversão à política; é individualista e tecnicista. Esse jovem, continuou, habita o universo empresarial que defende “mais profissionais no mercado e menos sindicalizados”, e da mídia comercial que criminaliza os movimentos sociais, inclusive os sindicais. Por isso mesmo, Dark lamentou que a juventude ainda não é uma pauta do sindicalismo brasileiro. Por isso, defendeu se pensar em estratégias para atrair os jovens, como assembleias ou formação de pauta de reivindicações online, a modernização dos jornais e criação de boletins eletrônicos, a criação de perfis nas redes sociais e a comunicação utilizando o aplicativo WhatsApp.
Apresentação
Júnia Dark
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Rosângela Ribeiro Gil
Imprensa SEESP