Agora que começa o ano político (depois de um carnaval que passou longe da crise) as atenções devem se voltar à Câmara Federal que é o epicentro do quadro institucional.
Três correntezas têm impulsionado, na superfície e nas profundezas, as águas da Câmara, em um ano legislativo que não provoca as mesmas tensões no Senado.
A primeira delas é a escolha das comissões temáticas, represada pela vontade pessoal do presidente da Câmara que aguarda as decisões do STF [Supremo Tribunal Federal]. As comissões são muito importantes para o andamento dos processos decisórios dos deputados e, mesmo paralisadas suas composições, devem ser objeto de preocupação do movimento sindical que tem interesses muito definidos em vários temas.
A segunda correnteza é o troca-troca partidário que vai ocorrer durante 30 dias depois de 18 de fevereiro. Mas, a rigor, esta dança partidária interessa pouco ao movimento sindical porque atinge, no máximo, 5% do efetivo da Câmara e não altera significativamente o rol dos posicionamentos partidários; é uma soma de resultado quase nulo neste aspecto.
Já a terceira correnteza, as escolhas das lideranças de todos os partidos, que é uma correnteza profunda e parece grego aos olhos do movimento sindical, terá uma influência decisiva no encaminhamento e solução da crise política. Os novos líderes partidários indicarão os componentes da comissão especial que analisa o impeachment; sua composição, portanto, é estratégica. Embora os meios de comunicação tenham dado pouca importância a essas escolhas (com exceção do acompanhamento da disputa no PMDB e o registro da mudança de 180 graus na liderança do PSDB) isso se deve muito mais à subestimação da mídia sobre os fatores institucionais de peso no jogo político do que à ignorância pura e simples.
O Diap [Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar] prestaria um grande serviço aos dirigentes sindicais se produzisse um quadro sintético e racional das correntezas, profundas e de superfície, que agitam as águas da Câmara dos Deputados nesse início do ano legislativo.
* por João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical