Um dos maiores símbolos de avanço tecnológico transformado em riqueza, o conjunto de empresas e institutos de pesquisas que formam o Vale do Silício, na Califórnia, Estados Unidos, originou-se do Stanford Research Park, um parque tecnológico pioneiro instituído pela Universidade de Stanford com empresas da cidade de Palo Alto, na década de 1950. É esse sucesso que projetos semelhantes introduzidos no Brasil desde o ano 2000 buscam. Conforme levantamento feito em 2013 pelo então Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) – atualmente a pasta inclui Comunicações –, há 94 iniciativas hoje, distribuídas por todas as regiões do País: 14 ainda são ideias, 24 já estão em estágio de projeto, 28 em processo de implantação e 28 em operação.
“O parque tecnológico é o local onde são oferecidas condições básicas de estrutura para que o conhecimento gerado nas universidades, em pesquisas e teses, possa, de fato, virar algo concreto à sociedade, como um produto ou uma tecnologia”, explica o coordenador de Capacitação Tecnológica do Ministério, José Antônio Silvério. Dentro dos parques brasileiros somam-se mais de 930 empresas cujos produtos, processos e serviços têm o conhecimento como matéria-prima, gerando mais de 32 mil empregos, distribuídos entre os institutos de pesquisas (1.797), gestão das estruturas dos parques (531) e iniciativa privada (29.909).
Foto: Eduardo Moody
Tecnocentro Bautista Vidal, principal edificação do Parque Tecnológico da Bahia,
que abriga a incubadora Áity, fundada em 2012
Com 15 anos de atuação, o Porto Digital, parque tecnológico do Recife (PE), surgiu da geração crescente de formação de pessoas em um mercado que estava em decadência devido à crise do final dos anos 1990, quando muitas empresas da região fecharam ou foram vendidas. Com incentivos do Governo do Estado, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e do setor privado, foi criado um ambiente de fomento à tecnologia, conforme conta Guilherme Calheiros, diretor de Inovação e Competitividade do Porto Digital. Hoje, são mais de 250 empresas e instituições alocadas em uma área de 149 hectares, gerando mais de 8.500 empregos, somando um faturamento anual de R$ 1,4 bilhão.
Os projetos desenvolvidos pelo parque são voltados à área de tecnologia da informação e comunicação, economia criativa, games, entre outros. O mais recente trabalho é o Laboratório de Objetos Urbanos Conectados (L.O.U.Co), direcionado a tecnologias para melhoria da qualidade de vida nas cidades. “O espaço disponibiliza equipamentos focados em internet das coisas, onde empresas, pesquisadores e universitários são chamados a pensar e desenvolver soluções para o cotidiano”, esclarece Calheiros.
Novos empreendimentos
Um dos desafios presentes nos PqTs é a possível bolha de projetos sem mercado, conforme aponta estudo realizado pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) em 2014. Dentro desse cenário, os parques contam com incubadoras de empresas, que dão suporte e orientam novos negócios. Segundo o estudo, o Brasil tem 384 incubadoras, que abrigam 2.640 empresas. Das que foram entregues ao mercado, quando são chamadas de graduadas, já passam de 2 mil empresas.
Para Antonio Avelino da Rocha Junior, coordenador da incubadora localizada no parque tecnológico da Bahia, a Áity, que abriga 23 novas empresas, a função da incubadora é fazer com que a ideia individual torne-se um empreendimento, constituindo-se numa empresa que chega ao mercado e gera empregos, renda e impostos, movimentando a economia e beneficiando a região em que está instalada. “Esse é o grande proveito dos parques tecnológicos, e a nossa parte é potencializar novos negócios em prol do desenvolvimento social”, conclui Rocha Junior. Um do cases de sucesso é o programa de automação de vendas em máquinas de cartão, o Pos Controle, um spin-off da TW2 Sistemas, empresa nascida na Áity. O programa habilita funções de computador à máquina, auxiliando o monitoramento de vendas de pequenos negócios, propiciando baixo custo e maior mobilidade.
É justamente o desenvolvimento local uma das motivações do diretor do Seesp e vereador pelo PMDB na cidade de Marília (SP) Luiz Eduardo Nardi ao propor projeto de lei que reduziu Imposto Sobre Serviços (ISS) às empresas de TI, visando a instalação de um parque tecnológico na cidade. “É extremamente importante acompanhar o restante do mundo na questão das inovações. Nossa intenção é fazer de Marília um Vale do Silício, um polo de fomento à CT&I”, aposta o engenheiro.
Políticas públicas
Os PqTs recebem a maior parte dos financiamentos do governo federal (R$ 18 milhões) na fase inicial do projeto. Em fase de implantação, o maior subsídio vem dos governos estaduais e municipais (R$ 1,8 bilhão). Em operação, os parques são financiados majoritariamente pelo setor empresarial (R$ 2 bilhões), segundo estudo do MCTI (2013).
Para Renato Aquino de Faria Nunes, diretor da Anprotec, ainda assim é necessário que se estabeleça uma política de Estado, pois os investimentos são pequenos. “Os países desenvolvidos até aumentam subsídios para CT&I quando passam por uma crise, pois a saída provém do conhecimento. No Brasil, essa é a primeira área a sofrer cortes”, argumenta. Ele aponta também a falta de continuidade nos financiamentos para a área como empecilho aos avanços. “Mudam-se os políticos, muda-se também todo o programa de governo e isso significa desmobilizar uma comunidade inteira de cientistas e pesquisadores”, lamenta.
Na avaliação de Nunes, o valor aplicado em CT&I, “planejado, bem gerenciado e com continuidade” gera receita e, automaticamente, riquezas para os cofres públicos. “Os parques tecnológicos são instrumentos importantes para o desenvolvimento local e nacional”, conclui.
Por Jéssica Silva
Matéria publicada, originalmente, no jornal Engenheiro, da FNE, Edição 169, de junho de 2016