A unidade de ação das direções sindicais, embora desejável, é, por enquanto, muito difícil de ser alcançada.
Inúmeros fatores conspiram contra ela e devemos começar mencionando a relativa passividade da ampla base trabalhadora que assiste às confusões da situação política e sofre a recessão com muita apreensão, mas que ainda não consumiu o colchão social em que se apoia e identificou as bandeiras de lutas imediatas e unitárias que a fará mover. Mas deve se reconhecer a capacidade de luta e resistência demonstrada por inúmeras categorias em suas campanhas salariais e na luta contra as demissões.
Outro fator é o caráter transitório da conjuntura, com uma presidenta afastada e outro presidente interino. Embora seja muito difícil fazer a pasta de dente voltar ao tubo, os partidários sindicais da presidente afastada lutam por sua volta e enquanto isso não se dá, seja por desconfiança, seja por ressentimento, subestimam a pauta unitária de resistência e seu poder mobilizador e acalentam o sonho mitológico de uma “greve geral”, quase tão intempestiva quanto “eleições gerais”.
O próprio governo em exercício, que pode ser definido como o mais neoliberal da história brasileira, devido à ortodoxia, homogeneidade e capacidade operacional de sua equipe econômica, ainda não desencadeou a série de medidas que cogita tomar e ainda se afirma, demagogicamente, partidário do diálogo social amplo, o que embala a sociedade e os trabalhadores e atrai um aguerrido núcleo de dirigentes sindicais que o endossa.
Os recuos do presidente em relação à pauta econômica pretendida levam em conta os clamores da sociedade e dos trabalhadores e também modificam, adoçando, a pauta sangue puro original, que deve agradar aos “mercados”, mas ser votada pelo Congresso e aceita pela sociedade.
A desunião entre as direções sindicais é também sistematicamente apimentada por declarações belicosas ou irônicas, que a mídia reproduz gostosamente, quando não as suscita.
E, no entanto, mais do que nunca se deve considerar a unidade de ação necessária, possível e permanente, já que esta etapa transitória chegará rapidamente ao fim e os novos desafios colocados perante os trabalhadores exigirão respostas contundentes que não se constroem artificialmente, nem do dia para a noite.
As direções sindicais têm muitas experiências acumuladas, entre elas, as do ano de 1983, que merecem ser lembradas.
* João Guilherme Vargas Netto é consultor sindical