Em meu último artigo chamei a atenção dos dirigentes sindicais para a nossa experiência de luta no ano de 1983.
Ainda imperava a ditadura militar, mas o governo Figueiredo já dava mostras de esgotamento. Os trabalhadores, submetidos a uma severa recessão, sofriam também com a divisão das direções sindicais que se prolongava desde que a nova Conclat (prevista pela Conclat da Praia Grande de 1981) não pôde ser realizada em 1982.
Em 25 de janeiro de 1983, o governo enviou ao Congresso Nacional (durante o recesso) o decreto-lei 2012 que arrochava ainda mais os salários, já arrochados pela lei salarial então vigente.
Quando o Congresso retomou os trabalhos legislativos, o PMDB (maior partido da oposição) orientou sua estratégia anual na luta pela abertura de CPIs, visando com isso desgastar o governo e não levou em conta o caráter negativo da agressão salarial aos trabalhadores e seu potencial mobilizador.
A resistência ao arrocho apresentava então, pelo menos, três dificuldades de monta: a recessão e o desemprego, a divisão sindical e a incompreensão do maior partido oposicionista.
Em 10 de fevereiro começa efetivamente a resistência com a histórica reunião das federações sindicais paulistas na Oboré que traçou os rumos da luta e “importou” de Santa Catarina o deputado federal peemedebista Luiz Henrique para ser o seu porta-voz na Câmara dos Deputados e conduzir a luta contra o decreto-lei, assessorado de perto pelo Dieese.
A partir daí os fatos se precipitam com uma sucessão de manifestações, mobilizações, viagens de delegações à Brasília e com as trocas, pelo governo, dos decretos-lei.
Em 21 de julho acontece a grande greve geral unitária que foi efetiva em São Paulo e em muitos outros grandes centros industriais.
A resistência efetiva ao arrocho e a disposição de luta dos trabalhadores abriram caminho à unidade de ação sindical (concretizada pela greve geral e simbolizada pelo balanço conjunto de sua realização feito na Assembleia Legislativa de São Paulo por Joaquim dos Santos Andrade e Jair Meneguelli, respectivamente presidentes dos Sindicatos de Metalúrgicos de São Paulo e São Bernardo) e à incorporação, pelo PMDB, da pauta trabalhista.
Em 21 de setembro a nova encarnação do arrocho, o decreto-lei 2045 (o pior da série) foi rejeitado pela Câmara, tendo sido o primeiro decreto-lei derrotado na ditadura.
Isto é história.
* João Guilherme Vargas Netto é consultor sindical