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18/07/2016

Maestro Jorge Antunes fala sobre Brasil 2022

Apesar de o Brasil de hoje ser uma incógnita, já existe gente pensando o que deveremos ser em 2022. São pensadores que estão sendo recrutados pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados. A CNTU está criando o seu Conselho Consultivo, que tem sido chamado de "Conselho das Mil Cabeças", para discutir o Brasil que queremos para 2022.


Foto: Beatriz Arruda/SEESP
Jorge Antunes 
Maestro participou da 9ª Jornada Brasil Inteligente cujo tema foi
"Brasil 2022: o País que queremos", em 1º de julho último
 

Questões importantes para o destino do Brasil, tais como a modernidade, a democracia, a cultura, a soberania e o desenvolvimento, precisam ser discutidas urgentemente. Se isso não for feito desde já, corremos o risco de sermos surpreendidos com desvios nefastos nas mensagens e conteúdos dos festejos do Bicentenário da Independência do Brasil e do Centenário da Semana de Arte Moderna.

Para tanto, a CNTU lançou as bases do projeto "Brasil 2022: O País Que Queremos" no evento 9ª Jornada Brasil Inteligente, realizado em São Paulo no dia 1º de julho último. A confederação congrega uma importante parcela da inteligência nacional com seus 56 sindicatos filiados. São sindicatos de todo o país nas áreas de engenharia, economia, farmácia, nutrição e odontologia.

Tudo indica que os próximos seis anos serão tomados por intensa reflexão capitaneada pela CNTU: as potências criativas e vitais do povo brasileiro estão sendo mobilizadas.

No evento do dia 1º de julho, no Auditório do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo, foi realizada mesa redonda -- para a qual tive a honra de ser convidado -- com o tema Soberania e cultura rumo ao Brasil 2022.

No debate, membros da mesa e da plateia foram unânimes na tentativa de equacionar a desejada soberania nacional. Sindicalistas e universitários de todo o Brasil apresentaram análises e propostas as mais atuais e progressistas, sobre o pertencimento do pré-sal aos brasileiros, sobre a mitificação enganosa de investimentos estrangeiros com evasão de riquezas nacionais, sobre a necessidade de recriação do Ministério da Ciência e Tecnologia etc.

Minha presença como debatedor revelou a visão ampla e lúcida que a diretoria da CNTU reserva à identidade brasileira: a cultura em geral e a música em particular se faziam presentes.

O renomado arquiteto e designer Ruy Ohtake elaborou a logomarca do projeto Brasil 2022, demonstrando, logo de início, a importância dos símbolos. Um engenheiro sindicalista da plateia lembrou que em 2022 não estaremos rememorando apenas os 200 anos da Independência e os 100 anos da Semana: estarão também se completando 100 anos da organização partidária liderada por Astrogildo Pereira.

Aproveitei para lembrar e frisar que a Independência do Brasil que completará 200 anos é aquela referente a Portugal. Ou seja, avivei a memória para o fato de que a independência soberana do Brasil ainda é sonho a ser concretizado. O sonho da independência, que se confunde com o sonho da soberania, precisa, acima de tudo, reconhecer a verdadeira e atual identidade do povo brasileiro.

Sabemos que a identidade brasileira de 2022 será totalmente outra, bem diferente daquela de 1922. Nossa identidade precisa estar revelada e bem representada em nossos símbolos nacionais. Foi com essa tese que lembrei outra efeméride, esquecida da maioria, que teremos para 2022: os 100 anos da letra do Hino Nacional.

Foi exatamente em 6 de setembro de 1922 que o presidente Epitácio Pessoa oficializou, por decreto, a letra gongórica e ridícula que ainda hoje cantamos. A letra é incompreensível para o povo brasileiro, não apenas porque fala de raios fúlgidos, de terra mais garrida, de impávido colosso, de lábaro e de clava forte. As formas indiretas de seus versos também impedem totalmente a compreensão. Só quem é afeito ao jogo e à permutação de palavras é capaz de descobrir que Osório Duque Estrada pretendeu dizer que "as margens plácidas do Ipiranga ouviram brado retumbante de um povo heroico".

A música que Francisco Manuel da Silva compôs em 1831, festejando a abdicação de Dom Pedro I, mudou de letra várias vezes, sempre com atos de cima para baixo por imperadores e ditadores.

Ideal será que, em 2022, ao comemorarmos os 200 anos da Independência e os 100 anos da Semana de Arte Moderna, seja promovido um concurso para a criação de um novo Hino Nacional, um novo brasão e uma nova bandeira do Brasil.

Tem sentido, em pleno século XXI, termos o lema positivista "Ordem e Progresso" escrito em nossa bandeira? Tem sentido, em pleno século XXI, termos nas armas da República, ramos de café e de fumo? Entendo que devemos tentar sensibilizar os artistas plásticos e os especialistas em heráldica para que adotemos uma nova bandeira e um novo brasão.

O convite à reflexão fica, assim, colocado. O ano de 2022 será momento em que, certamente, a expressão "passar o Brasil a limpo", voltará à baila. Fiquemos atentos à mobilização que a CNTU inicia agora, com vistas à instalação de uma verdadeira "Constituinte do Saber Brasil 2022".

 

* Jorge Antunes, maestro, compositor, poeta, membro da Academia Brasileira de Música, Pesquisador Sênior da Universidade de Brasília (UnB). Artigo publicado, originalmente, no jornal Correio Braziliense, de 18 de julho de 2016







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