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06/03/2017

Opinião - O mel e o fel

João Guilherme Vargas Netto*

Da cultura religiosa oriental chega-nos uma parábola. Ela nos conta sobre um homem perseguido por uma fera selvagem e assediado também por um bando voraz de aves de rapina e ameaçado de morte por uma serpente venenosa, que tropeça e cai em um despenhadeiro. Agarra-se como pode a um ramo de árvore onde existe uma colmeia de abelhas que podem picá-lo dolorosamente. O homem se refaz da correria e dos sustos, estica a mão e prova o mel do favo. Ele é doce.

A parábola é, como se vê, otimista – apesar das dificuldades há, no final, uma recompensa.

Mas, infelizmente, uma parábola pertinente à situação atual do nosso movimento, agredido por muitos adversários e inimigos, trocaria o mel, que o acossado alcança, por fel, que é amargo. A nossa situação é, digamos sinceramente, pavorosa.

Vejamos. Na esfera do Judiciário as agressões são muitas e têm eliminado a validade dos acordos e convenções (a ultratividade dos contratos) ao mesmo tempo em que se postula o negociado valendo mais que o legislado, tudo isso em conjunto com a limitação das verbas sindicais negociadas. O presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), inimigo da própria Justiça do Trabalho, encontra eco e respaldo em votos monocráticos de juízes do STF.

O Executivo tem proposto reformas lesivas aos trabalhadores e ao movimento sindical. Elas são propagandeadas como necessárias ao rearranjo da máquina pública e compõem uma atordoante sinfonia que começa com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos gastos (já aprovada) e passa pelas reformas previdenciária e trabalhista. Não há refresco.

Como se não bastassem essas duas feras, prepara-se um bote venenoso na Câmara Federal, com a votação e aprovação de uma lei da terceirização que é muito mais lesiva aos interesses dos trabalhadores do que aquela que já havia sido aprovada (em tumultuadas votações comandadas ainda por Eduardo Cunha) na própria Câmara e aguardava votação no Senado. A manobra do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) precipitando essa votação que é do agrado dos empresários e do governo, mesmo que não tenha êxito durante a semana, permanece como uma espada sobre a garganta do movimento e com um desfecho apenas adiado.

E tudo isso acontece em um quadro de recessão profunda, com o desemprego infelicitando, no mínimo, 50 milhões de brasileiros e cujos efeitos são desorganizadores da própria luta sindical.

Voltando à parábola: é preciso muita unidade, muito otimismo da vontade, muito aguerrimento e muita coordenação inteligente para enfrentar a situação e, pelo menos, não trocar o mel pelo fel, nem ser picado pelas abelhas nem por esvoaçantes moscas azuis.

Dia 15 de março neles!

 


João Guilherme Vargas Netto é analista político e consultor sindical

 

 

 

 

 

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