Jornalistas, consultores e dirigentes sindicais participaram do seminário “Reforma da Previdência e desafios da comunicação”, em São Paulo, na sexta-feira (24/3), no Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, que promoveu a iniciativa juntamente com a Agência Sindical.
Foto: Deborah Moreira
Jornalistas debateram o papel da imprensa sindical na batalha da informação a respeito da reforma da Previdência.
Com o objetivo de debater as estratégias de mídia para levar informação a quem ainda desconhece o assunto, dezenas de profissionais se reuniram e trocaram experiências ao final da segunda mesa "Os desafios da comunicação – como falar aos trabalhadores e à sociedade", mediada por Rita Casaro, gerente de Comunicação do SEESP, e formada por Altamiro Borges, o Miro, do Barão de Itararé; Laura Capriglione, do coletivo Jornalistas Livres; e João Franzin, da Agência Sindical.
Durante sua exposição, Miro lembrou que a atual investida contra as garantias previdenciárias vem após uma sequência de minirreformas que vêm ocorrendo desde a aprovação da Constituinte, como a instituição do fator previdenciário, com Fernando Henrique Cardoso; a reforma que afetou o setor público, com o governo Lula; e as medidas provisórias do governo Dilma, logo depois das eleições de 2014, que estabeleceram novos prazos para acessar os benefícios do seguro-desemprego, abono salarial, auxílio doença e pensão por morte. “Desde a Constituinte de 1988, quando se formou o sistema da seguridade social, a Previdência vem sendo bombardeada. O capital nunca aceitou a chamada Constituição Social, como dizia o Ulysses [Guimarães]”, disse ele, concluindo: “Esse é o ataque mais violento. E para o governo é questão de vida ou morte. Se ele for derrotado nessa batalha, perde a serventia. O capital financeiro que bancou a chegada do governo Temer espera que essas reformas seja feitas. Por isso a publicidade a respeito aumentou muito.”
Toma lá, dá cá
Se por um lado a grande mídia está jogando pesado para instituir a lógica do capital privado, em detrimento do público, de outro os movimentos social e, em especial, sindical têm cumprido um papel importante na batalha da comunicação. De acordo com os integrantes da mesa e a plateia, a mídia independente já está fazendo o contraponto e, por isso, o ato do dia 15 de março, contra a reforma, angariou tanto apoio. “A manifestação foi impressionante. Temos que apostar mais na mobilização e no debate de ideias, levando essa discussão para a sociedade. É isso que pode derrotar o governo”, afirmou Miro.
Franzin falou da importância de cercar todos os subtemas e de forma sistemática, com coberturas antes, durante e depois, bem como organizar os conteúdos de mídia, como os vídeos que tendem a viralizar, em uma única plataforma. “Temos que ter um banco de fontes confiáveis. E também não cometer o erro de partidarizar a causa, que é ampla e diversa”, disse.
O coordenador da Agência Sindical fez uma autocrítica sobre o dia 15. Para ele, apesar de ter sido positivo, faltou uma coordenação de comunicação que poderia ter multiplicado ainda mais as notícias, com coletivas e divulgação de balanços.
Tiro no pé
O governo ganhou na batalha da terceirização, mas foi apertado. Foram cerca de 80 votos a menos da base governista. Já tem parlamentar afirmando que vai votar contra a reforma da Previdência. Para Laura Capriglione, “essas deserções na votação [da terceirização], pouco debatida com a sociedade, não foram de pouca monta”. “Agora, como vai ser o comportamento desses parlamentares diante de um tema que está sendo amplamente discutido na sociedade, como a Previdência? Pela primeira vez parece que a gente tem chance de ganhar, mesmo sendo esse Congresso como é”, constatou a integrante dos Jornalistas Livres, que chamou a atenção para a ativação de uma grande rede de colaboradores para replicar os conteúdos produzidos sobre o tema.
“Temos que atuar unidos. Se tem um meme e é bom, não quero nem saber de onde veio ou quem fez, vamos compartilhar. Nós temos hoje um exército de jornalistas e de pessoas operando maior do que qualquer redação da mídia golpista e do que todas elas somadas, mas temos que ativar a rede. Senão ela não vai funcionar”, alertou, lembrando que se a reforma da previdência for derrotada, “vamos poder recolocar toda a agenda social na ordem do dia”. Miro também observou que é necessário mais sinergia. “Os materiais precisam ser replicados e deve-se evitar cair no erro de criar picuinhas."
“Águas milagrosas do São Francisco”
Durante o debate, Artur Araujo, consultor da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), compartilhou sua impressão sobre a votação da terceirização: “Quem leu o jornal Valor Econômico de hoje [24/3], percebe o erro brutal que eles cometeram. Em seu primeiro caderno, trazia cinco páginas completas sobre a terceirização, sendo que metade falava que ia dar errado. É o capital dizendo que vai dar errado.”
Já o consultor sindical João Guilherme Vargas Netto fez um apanhado sobre os últimos acontecimentos e sentenciou: “Comecei a perceber que vamos desmanchar o desmanche antes do que a gente previa.” Segundo ele, a soma dos esforços dos últimos 15 dias pode ter um desfecho positivo para os trabalhadores, e isso inclui: o ato do dia 15 de março, que reuniu milhares de pessoas em todo o País; “as águas milagrosas do São Francisco”, ou seja, a inauguração das obras de transposição do Rio São Francisco, com a presença de Lula e Dilma; e a votação da terceirização, que ele classificou como um “erro da Câmara”. “Não foi derrota no nosso sentido. Serviu para cair a ficha, abrir a cabeça. O movimento sindical organizado já está nas ruas. Hoje, em São Paulo, 50 mil panfletos com todos os deputados que votaram sim foram distribuídos na base metalúrgica”, contou.
Deborah Moreira
Comunicação SEESP