João Guilherme Vargas Netto*
Para definir hoje no Brasil o papel das centrais sindicais nada melhor que a declaração de objetivos do Conselho Sindical de Londres em 1861:
“Zelar pelos interesses gerais dos trabalhadores, tanto políticos como sociais, dentro e fora do Parlamento; usar sua influência em apoio de qualquer medida que possa beneficiar os sindicatos.”
O Conselho havia sido criado depois de uma onda de incorporações e ampliações de bases geográficas dos sindicatos dispersos seguindo o exemplo da Sociedade dos Engenheiros Unidos.
O apoio desta entidade, fundada em 1850 em base nacional, foi decisivo para a vitória dos trabalhadores da construção civil de Londres em seu enfrentamento contra seis meses de lockout dos empreiteiros em 1859. O sindicato amalgamado (ou seja, unificado) dos engenheiros doou aos trabalhadores três mil libras, uma pequena fortuna na época.
A experiência de centralização deu um novo impulso à organização sindical inglesa (e europeia) e foi decisiva para a criação da Associação Internacional dos Trabalhadores em 1864 e do Congresso Sindical (TUC), central única até hoje dos trabalhadores ingleses, em 1868.
Aprendendo com a história de lutas dos trabalhadores não encontro melhor orientação para o papel das centrais brasileiras hoje que a declaração de 1861 dos trabalhadores londrinos.
No confuso Brasil da atualidade enquanto a base dos trabalhadores tem sido castigada pela recessão duradoura e pelo desemprego, assolada pelas agressões patronais materializadas na lei celerada e assustada pela pretendida deforma previdenciária, cresce nela a desconfiança nas centrais sindicais, apesar de sua unidade de ação formal, que já não basta.
E é exatamente por conta desta disfunção prejudicial também aos sindicatos, federações e confederações, alimentada pelos posicionamentos erráticos das centrais e por reuniões mal preparadas e imprudentes (até em busca de “resíduos” financeiros) que é preciso e urgente que elas recuperem suas atribuições e prerrogativas definidas no artigo 1º, parágrafos I e II da lei de 2008 que as reconheceu.
Chega de quererem comandar sem tropas e orientar com desorientação! Quem acredita que às vésperas do Natal o Brasil vai parar se o Congresso, apesar de sua confusão, “colocar” a voto a deforma da Previdência?
É preciso que as centrais se aproximem da base, zelando pelos interesses e preocupações reais dos trabalhadores nos locais de trabalho e na arena política e fortalecendo os sindicatos.
As centrais unidas tornam-se fortes e protagonistas quando se aproximam dos trabalhadores ressabiados e apoiam os sindicatos e categorias que travam a luta de resistência unitária, não quando dão voz de comando que ninguém escuta ou alardeiam com matérias pagas sua irrelevância; isto não é papel, é papelão.
* Consultor sindical