Jéssica Silva
Comunicação SEESP
Neste dia 29 de junho é comemorado do Dia do Engenheiro de Petróleo, o profissional presente em toda cadeia produtiva da indústria petrolífera. Anderson Pereira é um dos 2.493 engenheiros de petróleos registrados hoje no Brasil, segundo dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), e compartilha em entrevista ao SEESP sua experiência de dez anos atuando na Petrobrás.
Pereira se formou em 2005 em engenharia química, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e, em 2007, concluiu mestrado em engenharia de petróleo, pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atualmente, trabalha com estudos de simulação de reservatórios. Para ele, ser engenheiro de petróleo é preservar uma riqueza nacional. “Cabe a nós hoje, mais do que nunca, defender o patrimônio de petróleo na perspectiva de um projeto de país”, defende Pereira.
Como é a rotina de um engenheiro de petróleo?
Não tenho uma rotina fixa. Trabalho no computador com simulação de reservatório; trabalho com atividades voltadas ao estudo para a produção. Mas, cada dia temos desafios diferentes e tarefas que se executavam anteriormente de uma forma, se aperfeiçoam, mudam a dinâmica. A engenharia de petróleo é um curso bastante diferenciado. É bem específico, com uma atuação mais restrita do que a engenharia química, por exemplo. Mas mesmo tendo essa especificidade, dentro dela há nichos de atuação. Então tem engenheiro de petróleo especializado em reservatório, em poço, plataforma, avaliação de projeto etc. E ainda dentro da especialização pode ter outra especialização, como o engenheiro de perfuração e o específico de perfuração para execução prática. E é importante que tenha a especialização, pois lidamos com atividades muito complexas, muito custosas, que qualquer erro pode significar milhões e milhões de prejuízo. Isso faz com que as próprias empresas incentivem as especializações. Estou há dez anos em reservatório. E mesmo há tanto tempo, as ferramentas que trabalho estão sendo inovadas o tempo todo, os softwares, os processos, vão sendo modificados, as coisas vão ficando mais dinâmicas.
Qual é a importância, na sua visão, do engenheiro de petróleo à sociedade?
Temos um papel fundamental porque tratamos de um recurso que não é nosso e não é só da empresa que trabalhamos, é um recurso natural e é do País. Toda população é dona dessa riqueza. A Petrobrás, nesse sentido, tem que ser encarada também com esse papel social, ela está relacionada a um projeto de país. Quando tratamos de um recurso energético tão estratégico, trazemos de uma certa forma uma segurança para o país em termos de estabilidade energética no meio de uma conjuntura em que o petróleo é escasso. Então, temos esse papel de sempre dar importância à visão social do petróleo, o lado estratégico para um projeto de país com uma indústria mais independente possível. Eu entrei (na área) numa época de desenvolvimento inicial do Pré-sal, com concursos para mais de 200 engenheiros de petróleos, de uma política nacional voltada à valorização da autossuficiência em petróleo, do desenvolvimento da cadeia produtiva, fortes parcerias com universidades em pesquisas, projetos sociais, ambientais. Era o auge do petróleo. Hoje, parece que houve uma inversão das diretrizes nacionais em relação a isso. Com a abertura ao mercado estrangeiro e todas as medidas nesse sentido, os ganhos que víamos em conteúdo local estão sendo perdidos com muita velocidade. Isso acaba gerando impactos na nossa profissão. E sofremos muita interferência da situação do mercado. Eu sou professor também e há dois anos não entram mais alunos no curso, porque teve essa crise internacional do petróleo. Ainda é uma área que vive muito ao sabor do mercado e impactada com políticas nacionais.
Nesse sentido, as investigações da Lava Jato com a divulgação midiática de forma exorbitante impactaram também sua profissão?
Com certeza, sofremos ataques. Houve um impacto negativo à imagem da empresa, isso abalou o interesse pela profissão. A corrupção é um problema, que assola todas as áreas e deve ser combatido. Mas isso acabou sendo utilizado para justificar mudanças que não favoreceram a empresa, o País e o engenheiro de petróleo. Na verdade, toda a crise financeira foi proveniente de uma crise internacional, com a alta do dólar e a diminuição do preço do barril. Nesse ponto, a corrupção, comparada a queda do preço do barril, foi irrisória; a crise financeira não se deu por causa da corrupção. E usaram esse argumento para justificar, por exemplo, que é necessário completar a privatização da empresa. Nenhuma empresa que foi privatizada gerou empregos, aliás, aqui ao nosso lado, na Cosipa (Companhia Siderúrgica Paulista), a privatização gerou demissão em massa.
Então o maior impacto foi pela crise internacional?
Fomos até os menos impactados se comparados a outras indústrias. Temos recursos exploratórios com volumes imensos; temos muita história para escrever em relação a indústria do petróleo, e queremos que esta seja contada pelos engenheiros brasileiros. A esperança que tenho, neste nosso dia, é que sejam mais valorizados os recursos brasileiros, a política nacional, as empresas nacionais, o emprego para os brasileiros e para os engenheiros de petróleo, para assim continuarmos escrevendo essa história.
Qual sua visão sobre os recursos renováveis?
O engenheiro de petróleo não deve achar que as energias renováveis vão acabar com o emprego dele, tem espaço para todos. Temos que defender uma matriz energética mais limpa possível, e sobretudo, diversificada. O petróleo ainda cumpre um papel na sociedade atual; em alguns setores ainda não existe algo equivalente. Temos que defender diversidade na matriz, todos saem ganhando.
O que é ser um engenheiro de petróleo para você?
Hoje, é lidar com uma rotina complexa, instável, com uma permanente evolução das ferramentas, encarando mudanças. Cabe a nós, engenheiros de petróleo, hoje mais do que nunca, defender o patrimônio de petróleo na perspectiva de um projeto de país, soberano, que valorize a sua mão de obra local, a sua indústria, seu parque de refino. Defender o patrimônio e defender o Brasil.