Marcelo Braga fala, nesta entrevista, como as mudanças tecnológicas influenciam o
modo de procurar emprego. Foto: Rachel Macoriello/Divulgação.
Rosângela Ribeiro Gil
Internet das coisas, inteligência artificial, big data são mudanças tecnológicas no processo produtivo mundial, por isso considera-se que estamos entrando ou vivendo a quarta revolução industrial, a Indústria 4.0. Como tudo isso vai influenciar ou já tem alterado o emprego? Seremos todos substituídos por robôs? Quais carreiras têm futuro?
De acordo com a consultoria americana IDC, existem cerca de 250 mil postos de trabalho para profissionais de tecnologia no Brasil, um setor que movimentou US$ 38 bilhões só em 2017. Segundo o Fórum Econômico Mundial de 2016, o mundo perderá milhões de empregos nos próximos três anos, principalmente aqueles que estão relacionados a funções administrativas e industriais. Em uma estimativa feita pela consultoria McKinsey, só no Brasil serão 15,7 milhões de trabalhadores afetados pela automação até 2030.
Conversamos sobre o tema com Marcelo Braga, CEO da Reachr e especialista em Gestão de Pessoas.
Como as mudanças advindas das tecnologias da informação e da chamada quarta revolução industrial vêm impactando a forma de procurar emprego já no Brasil?
Velocidade, transparência, conectividade, simplicidade e mobilidade têm sido o desejo de todos que estão à procura de emprego ou de profissionais. A tecnologia na área de recursos humanos já é uma realidade no mercado americano e está chegando com tudo no mercado nacional. São as chamadas HR Techs – soma dos termos human resources (recursos humanos) e technology (tecnologia) e significa empresas que oferecem serviços ligados à área de recrutamento, avaliação de performance e gestão de pessoas.
Profissionais querem se candidatar sem mais precisar de currículo de vida (CV) e preencher poucos campos. Espera-se que a tecnologia seja capaz de buscar informações que já estão na rede sobre o postulante. Empresas buscam fazer com que suas divulgações cheguem a um público cada vez maior, com capacidade de seleção digital até chegar aos finalistas que serão avaliados pessoalmente. Para isso, integração de plataformas, inteligência artificial, machine learning, mobilidade fazem toda a diferença no processo. No Brasil já existem soluções de HR Techs que não deixam a desejar com as empresas americanas.
O que são postos de trabalho ligados à tecnologia e como esse mercado está no País?
São poucas as áreas no mercado brasileiro que podemos dizer que não há desemprego. Tecnologia é uma dessas. Hoje exportamos profissionais de TI (tecnologia da informação). Muitas empresas contratam brasileiros, mesmo que remotamente, para atuar em projetos externos. Desenvolvedores, arquitetos de soluções, cientistas de dados, tecnologia mobile para aplicações em setores como financeiros, seguros, telecomunicações, startups como fintechs, agronegócio, saúde, mobilidade urbana, têm sido os maiores demandantes.
Como se preparar para esse novo cenário e novas funções?
São diversas as escolas complementares de tecnologia que estão surgindo no Brasil. Sem dúvida a formação acadêmica é importante, mas para aqueles que escolheram outras áreas de formação e pretendem ingressar em tecnologia ainda há tempo. As funções virão com a demanda. Sabemos que mais da metade das atividades que teremos ainda nem foi criada. Importante é estar antenado, sempre atualizado. Nada virá de um dia para o outro, mas será uma mudança quase que imperceptível. Fato é que tecnologia e marketing digital estão inseridos no contexto que virá.
Algumas profissões podem desaparecer e outras serem criadas?
Sem dúvida, muitas profissões se tornaram obsoletas e muitas outras surgirão.
O recrutamento já está sendo feito de maneira digital? Se sim, quais as dicas para quem vai enfrentar esse cenário?
Já há um bom direcionamento para ser totalmente digital. Empresas mais inovadoras já começaram a digitalizar seus processos e colher os benefícios. Outras empresas estão em compasso de espera para tomar a decisão de mudança.
Quais as competências e habilidades desse profissional na era das inovações tecnológicas e digitais?
A área de recursos humanos será muito impactada. A grande maioria das atividades operacionais será absorvida pela tecnologia. O sempre desejado RH estratégico será cada vez mais exigido, pois deverá estar totalmente integrado ao negócio, sem precisar se esconder em atividades operacionais que ainda tomam grande parte do dia a dia das áreas de recursos humanos.
Numa era em que a tecnologia e a digitalização tendem a criar mundos até paralelos, como garantir o espaço do humano no mundo do trabalho?
Muito cedo para dizer, mas não acredito que a tecnologia tirará empregos, mas sim mudará a forma de trabalho. Tudo leva a crer que será muito comum trabalhar para mais de uma empresa ao mesmo tempo e que o tempo de atuação em cada empresa será cada vez menor.