Soraya Misleh
Nesta sexta-feira (12) é celebrado o Dia do Engenheiro Agrônomo. Segundo consta do site do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), há 208.249 profissionais da área registrados no Sistema. Maria Luiza de Moraes Leonel Padilha, 58 anos, é uma das mulheres que integram esse conjunto. Nascida em Itapetininga (SP), formada em 1983 pela Fundação Pinhalense de Ensino, mestre em Administração, doutora e pós-doutora em Meio Ambiente, atualmente, segundo observa ela, cresce o contingente feminino na engenharia em geral: são 40% nos cursos. Não obstante, ainda enfrentam o desafio da discriminação de gênero – e na agronomia não é diferente. Nesta entrevista, Maria Luiza Padilha fala sobre sua trajetória, mercado de trabalho e declara seu amor pela profissão escolhida: “É maravilhosa. Permite conhecer um pouco da sociedade. Não é limitante, pelo contrário, o leque de atuação é muito abrangente.”
Por que você escolheu a Engenharia Agronômica?
Eu gostaria muito na época de trabalhar na área de meio ambiente. O que me chamava atenção na época era Lutzenberger [José Antônio Kroeff Lutzenberger, agrônomo brasileiro que participou ativamente na luta pela preservação ambiental, falecido em 2002] e também questões de usina nuclear na Europa [acidentes], mortandade de peixes e fome. E eu achava que fazendo agronomia ia trabalhar para resolver algumas coisas. Pensei antes em fazer ecologia, mas minha família não deixou, porque não era uma profissão regulamentada. Daí conversei com agrônomos que me falaram que, com a profissão, teria uma gama de possibilidades de trabalho. E realmente isso aconteceu. Eu saí da faculdade, fui trabalhar na Embrapa [Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária], em um convênio empresa-escola, de lá fui para a Companhia Energética de São Paulo onde fiquei 15 anos. Ali comecei como trainee na área de Engenharia de Avaliações, indo para o campo, passei para chefe de setor e depois fui trabalhar na Assessoria da Presidência já na área de qualidade. Na preparação para a privatização, saí. Fui para a AGF/Allianz Seguros e fazer mestrado. Decidi pela área de meio ambiente, teve uma oportunidade e comecei a dar aula na Faculdade de Tecnologia Ambiental do Senai, onde fiquei por 15 anos. Fiz doutorado, pós-doc nessa área ambiental, o Senai achou que não era mais interessante manter esse curso e o fechou em dezembro do ano passado. Agora estou no Mackenzie fazendo um curso de reciclagem nessa área de perícias em engenharia de avaliações.
Como está o mercado de trabalho?
Tem emprego sim, mas tem que se atualizar constantemente em função da tecnologia. No campo há proprietários se unindo para contratar agrônomos não só para assistência técnica, mas também para pesquisa a melhores cultivares. A percepção do produtor rural é de que precisa ter alguém com conhecimento técnico para que possa produzir mais. Não só isso, a legislação ambiental hoje é muito restritiva, então ele também precisa saber o que pode e o que não pode fazer.
Você já enfrentou algum tipo de discriminação por ser mulher?
Vivi isso sim e fico muito preocupada, porque quando entrei na faculdade éramos quatro mulheres e 36 homens. Esses dias li no jornal que são 40% de mulheres nas faculdades de engenharia, só que ainda temos um mercado muito machista. Por exemplo, onde estudo no Mackenzie meus colegas são machistas, postam no Whatsapp posturas machistas. É muito difícil, porque desde as brincadeiras feitas em desrespeito a nós, mulheres, você começa a relegar para poder sobreviver. Eu estou com quase 60 anos ainda ouvindo isso, parece lá no primeiro emprego na Cesp, quando um coronel à época me disse: “Não dava três meses para você sair daqui.” Ele duvidava que eu ia conseguir trabalhar no campo. Aquilo foi um banho de água fria. Eu era a única agrônoma na área de engenheira de avaliações e foi muito difícil ser chefe de setor, é muito difícil. Passei por situações muito complicadas, desafiadoras, não é fácil ser engenheira mulher. Mas eu gosto muito do que eu faço, adoro estudar coisas novas, vendo o que pode ser feito, tanto de pequena agricultura quanto de tecnologia no campo. São questões diferentes, mas têm que viver juntas. Quem alimenta é a pequena agricultura, mas o País sobrevive da grande. Então acho que não escolhi errado, estou extremamente satisfeita com o que fiz, adoro minha profissão.
Quais as atribuições de um engenheiro agrônomo?
O campo de atuação é muito grande. Em engenharia de avaliações tinha uma área muito grande de desapropriação em que era preciso avaliar a terra, as culturas, as benfeitorias, a gente fazia esse trabalho, esse laudo para poder indenizar as pessoas, e quem podia assinar era o agrônomo. Eu tinha que fazer levantamento no campo, atualizar quanto o solo produzia. Passei a conhecer defensivos agrícolas também. Tem ainda a área de pesquisa, a questão tecnológica de genética é muito importante e tem a própria área de meio ambiente, implementos agrícolas, parte de irrigação, agrometeorologia. É possível atuar tanto no campo quanto na cidade. Na cidade de São Paulo, no Instituto Biológico e no Viveiro Manequinho Lopes dentro do Ibirapuera tem vários engenheiros agrônomos, assim como ocorre normalmente em todos os outros parques. Além disso, na agricultura, parte de solos, de cultura. Na pecuária, piscicultura, granjas, tem a parte de alimentação animal com dosagens adequadas de hormônio para que esse animal esteja sadio para abate. O agrônomo também tem esse conhecimento. Assim como em reflorestamento, preservação ambiental, conservação do solo, manejo florestal, demarcação de áreas, de reservas, produção de energia de biomassa. E na área acadêmica.
A um jovem que está pesquisando sobre qual profissão escolher, qual a recomendação?
Uma das questões é gostar da natureza, dos animais, das plantas. Consequentemente vai afetar a questão social, pode trabalhar com pequena ou grande propriedade, usar mais ou menos defensivo agrícola, agricultura orgânica, mas precisa gostar de ir para o campo, colocar uma bota, não ter medo de cobra, estou disposto a trabalhar debaixo de chuva, sol. A profissão é maravilhosa, permite conhecer um pouco da sociedade, não é limitante, pelo contrário, é abrangente. Se você gosta um pouquinho por exemplo de administração, pode atuar em propriedade rural, com agronegócio, com pequena propriedade. Pode trabalhar como chefe de uma área, de uma empresa. Se gosta de solo, pode trabalhar com conservação de solo, fazer projetos de conservação de estradas ou mesmo de produção.