Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
A figura clássica do engenheiro – aquele profissional totalmente técnico, que trabalha com foco nas áreas de projetos, realizando estudos e desenvolvendo toda a parte técnica dentro das empresas – está ganhando novos contornos e interfaces. Pelo menos é o que já vem acontecendo na Mitsubishi Electric, uma das maiores companhias de automação industrial do mundo.
Um exemplo disso é a trajetória de Pedro Okuhara, 34 anos, graduado em Engenharia de Controle e Automação pela Universidade Paulista (Unip) e ainda com MBA (com especialização em 3 áreas: Marketing, Estratégia e Gestão, e Empreendedorismo) pela Fundação Getúlio Vargas, e especialização em Gestão de Energia pela Unicid/AHK (Câmara de Comercio Brasil Alemanha). Especialista de produto e aplicação formado em engenharia mecatrônica, ele hoje trabalha na área de Marketing da empresa. Nesta entrevista com a gente, o profissional fala mais sobre essas transformações. “Hoje em dia, temos engenheiros em praticamente todos setores, como financeiro, logístico, marketing, comercial, entre outros”, afirma Okuhara, funcionário da Mitsubishi desde setembro de 2017.
Você poderia falar sobre as circunstâncias que estão “tirando” de cena a figura do profissional apenas técnico?
Desde a invenção dos computadores, o avanço tecnológico facilitou muito a vida da parte técnica da engenharia, fazendo com que os novos profissionais sejam capazes de realizar todos cálculos técnicos com a ajuda de ferramentas que otimizam e facilitam o dia a dia.
Lembra-se de quando os engenheiros passavam horas desenhando com nanquim nas mesas com papel vegetal? Isso ficou para trás. Hoje podemos contar com a ajuda de softwares são capazes de fazer esse trabalho e ainda conectamos os projetos a realidades virtuais, simulando em 3D se terão o rendimento esperado.
Isso mostra a evolução de um profissional operacional para um cada vez mais estratégico, capaz de pensar em processos completos e em suas consequências (inclusive financeiras) para entregar mais.
É claro que ainda temos necessidades de especialistas, porque a tecnologia é complementar ao que aprendemos na engenharia. Mas é necessário se manter atualizado para estar por dentro dos avanços, conhecer finanças, administração, recursos humanos, impactos ambientais, legislações etc. Tudo isso está na pauta de um profissional que chamamos de engenheiro nos dias atuais.
Mesmo formado em mecatrônica, você trabalha na área de Marketing. Você entende que essa "migração", inclusive para outros setores, como financeiro, comercial etc., muda o perfil da própria área, sempre associado a desenvolvimento de um país?
Durante a minha carreira tentei me manter conectado à engenharia, portanto sempre trabalhei com marketing de produtos elétricos e de automação. Mesmo no meu caso, tenho de lidar com aspectos de mercado, finanças, estratégias, legislações etc.
No mercado, existem engenheiros nos mais diversos ramos, e acredito que não existe uma mudança no perfil do profissional, e sim uma evolução. Por ser um profissional voltado a criar soluções para resolver necessidades ou problemas com aspectos tecnológicos, processos, finanças, legislações, administração e recursos, o perfil do engenheiro se encaixa em quase qualquer função do mercado. Isso talvez explique a facilidade que o engenheiro dos dias atuais seja tão utilizado em outras funções.
Nessas funções agregadas por causa do saber técnico da área, o engenheiro continua sendo engenheiro?
Sem dúvida. Um dos principais focos do engenheiro são as invenções e inovações, ou seja, estamos sempre em busca do next step (próximo passo). A engenharia é uma forma de usar todo conhecimento existente para resolver problemas ou otimizar sistemas, utilizando o menor investimento possível, no menor tempo possível, respeitando regras e legislações e atingindo o futuro agora.
Como a engenharia mecatrônica está na sua função na área de marketing?
A mecatrônica está completamente ligada ao core business (parte principal do negócio) da Mitsubishi Electric como provedora de soluções para automação. Isso facilita bastante o meu trabalho para desenvolver o gerenciamento de ciclo de vida dos produtos pelos quais sou responsável, uma vez que o conhecimento técnico otimiza o tempo de estudo que uma pessoa com formação apenas de administração ou marketing teria necessidade.
Na área de marketing de produtos, desenvolvemos toda estratégia de lançamento de produtos no mercado, passando pela análise de mercado para viabilidade inicial, passando por precificação, elaboração de políticas de canais de vendas, promoção e pós-vendas, aplicações para clientes; e, quando necessário, até na descontinuação da linha de produto para eventual substituição de tecnologia.
Por fim, esse novo patamar laboral, como você destaca, exige novas habilidades além do estrito saber técnico. Quais são elas?
Existem muitos cursos acadêmicos, treinamentos, livros e até certificações para as diversas áreas que complementam o curso de engenharia para atuar em áreas específicas. Um bom exemplo é a certificação do PMI (Project Management Institute), que é focada em Gestão de Projetos, uma área que pode se conectar com qualquer tipo de empresa para execução de diversos tipos diferentes de projetos de forma otimizada e eficiente, seguindo um padrão internacional.
Mas, além de treinamentos, é necessário desenvolver habilidades interpessoais, trabalho em equipe, comunicação, empatia, visão do cliente, finanças, administração de empresas, legislação, meio ambiente, entre outras, que precisam estar conectadas ao perfil da empresa e da equipe.