Trabalho digno e sindicalismo na Revolução 4.0 – Situação atual e impactos da inteligência artificial
A partir da 14ª Jornada Brasil 2022, a CNTU inaugura uma nova linha de reflexão e ação, acompanhando e intervindo no debate sobre a Revolução 4.0, a inteligência artificial e outras inovações que prometem provocar alterações profundas nos modos de viver, conviver, aprender, pensar, produzir e trabalhar.
Os drásticos impactos das transformações em curso exigem a abertura de um debate o mais amplo possível, com o envolvimento efetivo de toda a sociedade.
As interrogações são muitas e demandam respostas satisfatórias. A 4ª Revolução Industrial está aumentando a produtividade e criando um mundo de abundância e equilíbrio ou tornando dispensável o trabalho humano e concentrando riqueza? Os robôs e a Inteligência Artificial (IA) estão revolucionando o processo produtivo, ampliando o leque de bens e serviços e transformando para melhor as formas de convívio social ou estão aumentando as desigualdades, favorecendo elites já altamente privilegiadas e apartando pessoas?
A Revolução 4.0 traz promessa de positivo avanço tecnológico, mas resta o temor justificável quanto a resultados nefastos, entre os quais o aumento do desemprego e a redução salarial, aumento da potência letal das armas militares de ataque a distância e do poder mortífero da indústria de guerra, destruição do meio ambiente, entre outros receios.
Essa aceleração das transformações sociotecnológicas é anunciada no Brasil numa conjuntura nacional gravíssima, de tremendas adversidades para os trabalhadores. Observam-se desindustrialização, desnacionalização, perda de direitos sociais e trabalhistas, baixo investimento público e privado na economia, concentração de renda, desemprego, precarização, empobrecimento das camadas médias e aumento dos índices de pobreza e miséria.
Num quadro político de grave polarização ideológica e de constrangimentos diários nas instituições da República, a democracia se enfraquece, dificultando ao extremo o enfrentamento desse quadro, sob risco de esfacelamento completo da vida civilizada.
O movimento sindical segue vivo, mas se encontra enfraquecido pelas reformas trabalhistas aviltantes, pelos ataques ao seu direito de existência e pela crise econômica. Nessa hora, é preciso lucidez para prosseguir, reorganizar-se e se reencantar pela política de cunho democrático, distributivista e civilizatória.
Somos a favor das inovações técnicas como instrumentos de melhoria da vida e da produção de bens e serviços. Não podemos abrir mão de decidir como queremos viver e não podemos entregar à tecnocracia o poder de definir sozinha os meios e as formas de existência, pois o bem viver é o que mais importa aos povos. Portanto, a inovação técnica deve ser seletiva e racional, favorecendo o bem-estar social e o equilíbrio socioambiental.
É nesse sentido que a CNTU, apoiada em suas federações e sindicatos filiados e em seu Conselho Consultivo, se propõe atuar. Assim, diante das transformações trazidas pela Revolução 4.0, essa ampla rede de lideranças pelo progresso social e pela democracia defende:
1) políticas públicas que limitem excessos técnicos abruptos contra a estabilidade dos trabalhadores e da vida humana;
2) políticas de proteção social frente ao desemprego estrutural decorrente das inovações tecnológicas;
3) políticas de orientação, formação e qualificação dos trabalhadores frente às transformações tecnológicas;
4) estudo de janelas de oportunidades para a geração no Brasil de conhecimentos, negócios e trabalhos no contexto da revolução tecnológica em curso;
5) adoção pelas entidades sindicais de técnicas inovadoras para melhorar seu desempenho e participação democrática;
6) esclarecimento e orientação em prol da saúde, da educação, da solidariedade e da dignidade frente às transformações materiais e existenciais promovidas pela expansão técnica.
Com determinação, esperança e luta vamos contribuir com o debate de ideias, a formulação e a implementação de políticas que coloquem o avanço tecnológico a serviço da cooperação internacional pela preservação do planeta e da promoção da paz entre os povos e nações. Estejamos atentos e fortes.
São Paulo, 16 de agosto de 2019