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04/11/2019

O currículo como ferramenta poderosa nos processos seletivos

A gestora Alexandra Justo, nesta entrevista, dá muitas dicas de como elaborar um currículo forte para participar de processos seletivos cada vez mais competitivos

Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia


O currículo vem da expressão latina “curriculum vitae” que significa algo próximo à trajetória de vida, onde devem constar informações sobre formação educacional, acadêmica, experiências profissionais, além de ser uma forma de demonstrar habilidades e competências. Ele é ainda a principal ferramenta na conquista de um emprego, sendo uma das primeiras fases em processos seletivos na maior parte das empresas. Portanto, é importante elaborar o currículo em termos de conteúdo e estruturação.



Alexandra NOV2019Alexandra Justo: "O currículo é a verdade sobre uma pessoa e tem uma validade jurídica." Foto: Rosângela Ribeiro Gil.

Entrevistamos a gestora Alexandra Justo, do Oportunidades na Engenharia, do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP), para saber como se elabora um currículo objetivo e que represente, de fato, a trajetória de vida e profissional de uma pessoa.

O currículo é o primeiro passo para se alcançar um bom desempenho num processo seletivo?

É um passo fundamental. É quando o candidato pode se apresentar num formato mais associado ao que o mercado de trabalho reconhece visando uma contratação. Nesse sentido, ele deve conter dados de identificação, informações acadêmicas, profissionais, de cursos extracurriculares e complementares. Isso tanto no envio físico do currículo como no preenchimento de currículo nas próprias plataformas das empresas. Vale dizer que são informações básicas de apresentação para ser selecionado para as próximas etapas. O currículo bem formatado traz um desempenho diferenciado num processo seletivo.

O que é esse bem formatado?

É quando o currículo nos satisfaz com informações completas e bem estruturadas. Primeiramente, com os dados pessoais ou de identificação, cabe aqui o nome sem abreviaturas, nacionalidade, idade, formas de contato como celular, e-mail, endereço por exemplo. Depois, temos o tópico “Objetivo” que está relacionado ao cargo ou função que a pessoa tem interesse em desempenhar dentro de uma determinada empresa. Ele não é um resumo ou texto sobre competências atitudinais, experiências etc.. É redundante, mas o objetivo precisa ser objetivo. Algumas empresas já buscam contratar os candidatos pelas competências, ainda assim, é importante citar o cargo que mais se aproxima e se preferir optar por indicar a(s) área(s) de atuação e/ou especialização.

Na sequência, vem o “Resumo de qualificação”, que é um resumo por tópicos das principais experiências e/ou o que mais destaca aquela pessoa. Seguindo, temos a “Formação acadêmica” com a inclusão de informações acadêmicas, como os cursos realizados e que tenham reconhecimento junto ao MEC [Ministério da Educação] ou diplomas com qualificação no exterior e validação no País.

Logo em seguida vem o item “Experiência profissional” com a relação dos trabalhos realizados, seja no contrato formal, como autônomo, consultoria etc..  Indica-se a citação da empresa contratante, período de atuação, cargo e um breve resumo das atividades desenvolvidas. Aqui é preciso dar ênfase aos nossos estudantes que, muitas vezes, não têm as experiências práticas. Cabe, então, orientar que coloquem, nesse item, as atividades acadêmicas, como projetos e trabalhos que desenvolveram, orientações que receberam. Todas essas experiências são muito bem-vindas.

Prosseguindo nessa formatação curricular, ainda trago as orientações sobre cursos extracurriculares. É importante que a pessoa se atualize constantemente, como em cursos mais técnicos na área de formação ou em gestão de pessoas, certificações, novas ferramentas e/ou metodologia de trabalho.

Por último, tem o “Informações complementares” que compreendem indicações sobre idiomas, informática, intercâmbio, atividades voluntárias, entre outras. Todavia, caso a pessoa tenha, por exemplo, inglês avançado, certificações na área de TI [Tecnologia da informação], em programas como AutoCad ou BIM [em português, Modelagem da Informação da Construção], tudo isso pode ser inserido no “Resumo de qualificação” também. Mas se a pessoa tenha feito esse aprendizado por conta própria, isso pode ser colocado nas informações complementares. Importante entender essa diferenciação.

"O currículo bem formatado traz um desempenho
diferenciado num processo seletivo."

 

O objetivo pode variar conforme a vaga? Se sim, deve-se fazer um currículo específico para cada oportunidade ou proposta de trabalho?

Isso mesmo. Podemos ter um “currículo mestre” onde toda a sua trajetória esteja lá, mas, dependendo da vaga, o candidato deve fazer um currículo trazendo as experiências, cursos e competências mais próximos à descrição daquela vaga. Por exemplo, uma pessoa formada em Engenharia Civil está disputando uma vaga nessa sua graduação, no "Objetivo" ela vai escrever “Engenheiro(a) civil”. Vejo o currículo como se fosse uma “carteira de identidade”, ou seja, ele é a verdade sobre uma pessoa e tem uma validade jurídica. Sempre é bom lembrar que tudo que está escrito no currículo poderá ser comprovado.

Muitas empresas já utilizam ferramentas de inteligência artificial para fazer a seleção ou busca inicial dos candidatos mais próximos ao que elas querem. Como adequar o currículo a esse novo cenário?

A inteligência artificial é uma avaliação binária e vai ocorrer de forma favorável ao candidato a partir do momento em que ele compreender as palavras-chave inerentes àquela vaga e se elas constam do seu currículo, na plataforma física e digital. É preciso saber quais são as palavras-chave da minha profissão.

Onde descobrimos essas palavras?

Gosto de utilizar alguns caminhos. Inicialmente, elas já se encontram na própria descrição da vaga ou anúncio da empresa, ou mesmo são sugeridas nas plataformas digitais de recrutamento.

A nossa área desenvolveu uma ferramenta bem interessante que é o “Mapa da profissão”. Nele, temos toda a regulamentação, legislação, descrição de atividades e competências técnicas e operacionais das modalidades de engenharia. É um material rico de pesquisa. Somado a ele trazemos informações oficiais da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), que defino como um “currículo gigante” com as atribuições passo a passo e competências comportamentais de cada profissão.

Existe um número ideal ou padrão de páginas? É interessante colocar foto? Qual tipo de letra, cor? Precisa ser assinado e colocar número dos documentos pessoas, como o RG, por exemplo?

Recentemente, em evento nacional, um grupo de recrutadores e selecionadores disse levar de três a quatro segundos para fazer uma pré-seleção a partir do currículo, levando em conta formação e qualificação inerentes à vaga. Há uma década, esse tempo era de 30 segundos. Então, o número de páginas é sim fundamental. Não adianta fazer um currículo extenso, o que é necessário é ter um documento que valide a real experiência e atraia o selecionar a levar esse currículo à próxima etapa. Por isso, acredito que o número ideal de páginas é de uma página e meia até duas, no máximo.

Caso se opte pelo uso da foto muito cuidado com a imagem que vai colocar no currículo. Sugiro, na hora de fazer a foto, pensar: com que roupa vou para o trabalho, essa seria uma melhor sugestão de como se vestir para a foto. Isso vale para o currículo e para as plataformas digitais, como o LinkedIn. Vale salientar, contudo, que algumas empresas, em função de possíveis políticas antipreconceitos, preferem não ter acesso à imagem do candidato.

Já em relação à cor e ao tamanho da letra devemos pensar no recrutador, ou seja, facilitar o trabalho dele. Por isso, indico a fonte Arial e o tamanho 11. Se possível, não utilizar cor nas letras, apenas o preto mesmo. E sem assinatura ao final do currículo, nem e números de documentos.

 

Como é o atendimento do Oportunidades na Engenharia?

O serviço prestado por esta área existe há quase duas décadas. Mas, por conta das novas demandas de mercado, passou por uma reestruturação a partir de abril de 2018. Atualmente, trabalhamos na divulgação de vagas cursos e na orientação de apoio à carreira. Temos o “Mapa da profissão”. Um importante diferencial hoje é a plataforma digital de autônomos, onde validamos esses profissionais, e o mercado pode encontrá-los.

Temos um lema muito interessante que é o “Conectando talentos, ideias e negócios” que trazemos com muita força nos nossos atendimentos personalizados disponíveis aos associados ao SEESP. Ouvimos a experiência e a trajetória de vida de quem estamos atendendo - estudante ou profissional. A partir desse contexto trazido pela pessoa começamos a elaborar e validar o currículo, inicialmente. Também alinhamos o currículo a ferramentas digitais importantes, como o LinkedIn, mas não só.

Orientamos os associados aos processos seletivos que envolvem as dinâmicas, testes, simulações, jogos, atualmente a própria gamificação e apresentação por vídeo, dentre outros.

As entrevistas também são decisivas para definir quem fica com a vaga. Por isso, fazemos simulação de entrevistas, tendo em vista as modalidades individuais e/ou coletivas, presenciais, ou por conexão via internet. Temos uma preocupação muito grande em não padronizar essa pessoa, mas que ela entenda quais são as suas competências profissionais e pessoais mais fortes para que consiga se posicionar com destaque à vaga. É um grande momento de autodesenvolvimento dessa pessoa.

Também temos profissionais que não buscam vagas formais, que têm uma carreira consolidada, grandes consultores ou que se aposentaram e estão desenhando um novo momento da profissão. Então, aí desenvolvemos todo um trabalho de trilhas de carreira.

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