Soraya Misleh
Comunicação SEESP
Cinco bilhões das 7,5 bilhões de pessoas que povoam o planeta já têm acesso à internet móvel ou fixa. A informação foi dada por Leopoldo Yoshioka, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), ao debate “50 anos da Internet, a inovação que transformou o mundo”. A atividade foi promovida pelo Conselho Tecnológico do SEESP na noite desta quarta-feira (12/2), no auditório do sindicato, na Capital. À mesa, especialistas contaram um pouco dessa história e apontaram os desafios atuais resultante da tecnologia que revolucionou o mundo nos mais variados aspectos – social, econômico, cultural.
Coordenador do Conselho Tecnológico do SEESP, José Roberto Cardoso abriu o evento enfatizando a importância da discussão no marco dos 50 anos da internet, completados em 29 de outubro último. Na data realizou-se a primeira conexão da rede Arpanet. Desenvolvida no setor de pesquisa do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, é considerada “a mãe da internet”, como explicou Demi Getshcko, diretor-presidente do NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR). “Isso teve impacto decisivo à pesquisa e economia global, mas também no modo de vida das pessoas”, destacou Cardoso. Vice-presidente do sindicato, Celso Atienza frisou: “É uma inovação fantástica, e temos que comemorar, em especial aqui, na casa do engenheiro.”
Considerado o pai da internet no Brasil, Getschko explicou que em 2019, além dos 50 anos da internet, celebraram-se 30 anos de uma aplicação sobre ela, a web, que chegou ao Brasil somente no início dos anos 1990. A partir daí, a evolução foi rápida e grande. Seu Comitê Gestor no País foi constituído em 24 de abril de 2009. “O marco civil, grande garantidor de direitos, foi aprovado em 2014.” Segundo o especialista, que no mesmo ano recebeu homenagem no “Hall da Fama da Internet” e o prêmio Personalidade da Tecnologia do SEESP na categoria Internet, tudo sempre foi feito por grupos de indivíduos. “A internet nasceu dentro da Arpanet, com dinheiro militar, mas o pessoal e as ideias sempre foram libertários. O conceito é de uma rede que não tem um centro de controle, distribuída e aberta. Esse é o espírito”, salientou Getschko, ao citar vários dos pioneiros que construíram essa história, bem como as declarações de “independência” digital e do ciberespaço que dali surgiram. “É gerada uma rede de ponta a ponta, em que ninguém teoricamente deve interferir. O protocolo é agnóstico, ou seja, pela neutralidade e livre inovação.” Para o diretor-presidente do NIC.br, a responsabilidade pelas violações que ocorrem hoje não é da internet. “São coisas abaixo dela, que resultam por exemplo em criptografia. Pode proteger, mas também servir a crimes.”
Ameaça ou oportunidade
Ante a velocidade e complexidade do avanço tecnológico, outros desafio é a Internet das Coisas (IoT) – um mundo extremamente conectado. “Há preocupação com a privacidade. Pense em uma geladeira que pedirá, sozinha, mais cerveja. E sua balança em casa vai avisar seu médico, que decidirá cancelar a encomenda [por entender que o consumo é excessivo]”, brinca Getschko.
Nathalia Sautchuk Patrícia, assessora técnica do Comitê Gestor da Internet no Brasil, lembrou que a governança é global, multissetorial e multiparticipativa. “É um campo de colaboração dos diversos atores.” Do ponto de vista técnico, ela explicou que um desafio é o esgotamento dos endereços de IPs livres. “A estimativa era que a capacidade era de até 4 bilhões e praticamente já se chegou a isso. Estamos num momento de transição dos protocolos. É como nos telefones celulares, em que se precisou colocar o número nove na frente.”
Outra questão é garantir estabilidade e segurança na rede. “Um dos grandes problemas são ataques cibernéticos, que também requerem implementação de novos protocolos. É um projeto de engenharia extremamente complexo e tecnicamente é muito importante como capacitar as pessoas para isso.”
Também há, conforme Sautchuk, desafios econômicos, como medidas antitruste; legislativos, à proteção de dados e direitos autorais; e na questão de direitos humanos, quanto à liberdade de expressão, privacidade e acesso à informação.
A reflexão do que já ocorre e das perspectivas futuras foi proposta por Yoshioka: “É uma ameaça ou oportunidade? Nós, engenheiros, estamos preparados? Daqui a cinco ou dez anos teremos carros autônomos rodando pelas cidades. A fábrica da Tesla [na Califórnia, EUA] já tem nível de automação 3 ou 4 [funciona com IoT, praticamente sem mão de obra]. Já chegou o momento da singularidade [em que a inteligência artificial substitui a humana]? ”
Na sua ótica, crise pode ser vista também como oportunidade. Ele avalia que este cenário não será o fim do emprego para engenheiros, mas exigirá o uso da tecnologia de forma mais eficiente.
Eduardo Mendes, presidente do Grupo MH – o qual patrocinou a atividade –, enfatizou a importância de focar a indústria 4.0 nesse contexto, a qual surgiu na Alemanha há cerca de seis anos. “É preciso analisar as tendências. Em 2019, segundo estudo da Gartner, havia 15 bilhões de dispositivos conectados no mundo. Em 2025 serão 75 bilhões.”
Ele completou: “A indústria da construção de nuvem tem potencial astronômico. Nos Estados Unidos um data center tem 100MW. No Brasil, entre 2012 e 2013, havia aproximadamente 20-30MW no total; hoje são por volta de 150MW.” Passo importante foi dado em outubro de 2019, como contou Mendes: no período, na cidade de Vinhedo, interior de São Paulo, foi inaugurado o maior data center da América Latina. “É um investimento essencial ao desenvolvimento da indústria 4.0 e da conectividade em geral”, apontou ele, que afirmou estar trabalhando em projetos para a indústria de alimentação.