logo seesp ap 22

 

BannerAssocie se

27/02/2020

Agrônomas da Prefeitura contam sobre elaboração do Plano de Arborização de São Paulo

Deborah Moreira*

Há um ano foi criada a Divisão de Arborização Urbana na Secretaria do Verde e Meio Ambiente (SVMA) de São Paulo. De lá pra cá, um grupo de engenheiros agrônomos têm se debruçado sobre o Plano Municipal de Arborização Urbana, previsto no artigo 286 do Plano Diretor de 2014. Quem coordena o trabalho é a engenheira agrônoma Priscila Cerqueira, diretora da divisão. Ela e a Fernanda Soliga Voltam, também engenheira agrônoma que integra a divisão, conversaram com o Jornal do Engenheiro sobre as ações que vêm ocorrendo e o que está previsto até o final deste ano, quando se encerra a atual administração.

Entre as iniciativas, está um convênio firmado no final de 2019 com o Instituto de Pesquisa Tecnológica (IPT), que vai coletar dados sobre quedas de árvores, avaliar as causas das quedas. Os resultados devem gerar um relatório, ainda sem data de divulgação, que contribuirá para prevenir quedas. "Esses dados vão ajudar a fazer um preventivo melhor", diz Priscila Cerqueira.

Confira a íntegra abaixo.

poda de arvore foto bia arruda internaExiste um departamento que cuida especificamente das árvores na cidade?

Priscila Cerqueira (PC): Até 1987 não havia uma lei. Foi somente após os altos índices de corte nas décadas de 60 e 70, com o desenvolvimento da construção civil, que percebeu-se a necessidade de preservar a vegetação arbórea. Hoje em dia, com a Lei 10.365/1987, tudo o que for referente a manutenção (manejo, poda, corte) precisa de autorização do poder público. Esse momento foi essencial para a carreira do engenheiro agrônomo, que ficou responsável, por lei, de autorizar o manejo. O subprefeito autoriza após ouvir o engenheiro agrônomo. Em 1993, a secretaria do Verde foi criada e é ela quem faz a gestão dos parques. Já a gestão da arborização nas calçadas, nas praças, é feita pelas subprefeituras.
Fernanda Voltam (FV): Foi criada uma gestão de arborização em 2019. Até então, só tinha o olhar da execução, para atender as demandas. Agora, está se pensando mais no planejamento. Por isso, começamos a desenvolver o Plano Municipal de Arborização Urbana, previsto no Plano Diretor. Quase 80% dos engenheiros agrônomos, florestais e biólogos estão colaborando com o estudo. De maio a até dezembro de 2019 era uma fase de diagnóstico, levantamento de todos os problemas: desde o licenciamento, fiscalização, manejo, até o plantio. Desde janeiro deste ano, estão sendo elaboradas as propostas. Além dos técnicos, também estamos consultando as concessionárias como Sabesp, Enel, Comgas, os viveiros, os fiscais da secretaria e das subprefeituras. A população também foi escutada a partir de um questionário disponível online (até 1º de março). Foram realizadas seis oficinas presenciais. Queremos saber quais as expectativas da população, se o que ela espera é o que estamos trabalhando no plano. A gente percebe que eles [população] não estão muito satisfeitos... porque também as árvores estão caindo... E percebemos que a população quer participar e tem muitas iniciativas da população, que acabam não consultando os nossos manuais, não levando em conta orientações importantes para evitar problemas futuros, como árvores de grande porte que prejudicam calçadas. Os manuais foram elaborados pela equipe técnica da prefeitura, que pensa a inserção das espécies novas em determinada área, levando em conta o todo, os projetos previstos para cada região da cidade.

Quando ficará pronto o Plano Municipal de Arborização Urbana?

PC: O Plano de Arborização Urbana é previsto no Plano Diretor, de 2014, e antes do lançamento dele, que será em junho deste ano, seu conjunto de propostas será colocado em consulta pública em maio.

Qual o principal problema das árvores de São Paulo?

PC: O maior problema das árvores são os fungos. Os cupins vêm depois. Os fungos aparecem por conta da umidade, ou alterações climáticas muito drásticas. Quando surgem são praticamente imperceptíveis porque é na parte interna. Quando aparece na parte externa é porque por dentro já está bem deteriorado. E quando essa madeira está bem apodrecida,  molinha, fofinha, o cupim vem consome tudo. Daí aparecem os ocos que causam as quedas.

FV: Mas existem diversas causas para os fungos. Eles podem vir pela copa e descer pelo tronco, que vai apodrecendo de cima para baixo. Ou, ainda, um oco embaixo do tronco pode ter sido causado por uma poda mau feita.

PC: Exato. E isso não ocorre de um dia para o outro. O tronco vai se deteriorando lentamente, por anos. Até que um dia de temporal, ela acaba caindo.

Tem outras causas observadas?

PC: Tem bastante Erva de Passarinho, por exemplo, que é uma planta parasita, que cresce sobre a árvore, internalizando suas raízes, que consome a seiva da árvore, o que leva a morte da espécie.  Com planejamento, é possível realizar podas que retiram essas pragas, que ficam geralmente na copa das árvores.

FV: O que percebemos com a prática do dia a dia, é que esse parasita ataca principalmente as exóticas. As regiões de árvores mais antigas é onde apresentam maiores quantidades, onde tem maior concentração e exóticas, como Higienópolis e Jardins, como nas Tipuanas.

Existe um levantamento nesse sentido sendo feito?

PC: A secretaria fechou um convênio há uns três meses com o IPT [Instituto de Pesquisa Tecnológica], que está coletando dados sobre quedas de árvores, tentando avaliar qual é o problema que causou a queda, o que pode contribuir para prevenir novas quedas no futuro. Se tinha fungo, cupim, se levantou raiz, qual a proporção da copa para o tronco, qual era a espécie. Dependendo do desenho da copa da árvore, que pode estar maior de um lado, pode causar a queda com ventos fortes. Ou ainda, devido ao grande volume de chuva, o solo fica tão encharcado que ela perde a sustentação entre o solo e a raiz. Também há casos da árvore cair num dia lindo de sol. O levantamento do IPT vai trazer muitas informações importantes para uma avaliação melhor sobre as condições das árvores.

Quando teremos essas informações?
Ainda não tem uma data porque acabou de começar e tem duração prevista de dois anos.

E na cidade é proibido usar produtos, como defensivos, para cuidar das espécies?
 
FV: Sim. Quando você passa um defensivo numa árvore, você precisa isolá-la. Imagina numa calçada onde passam animais, crianças, e elas acabam entrando em contato com o produto. E se chover acaba espalhando no chão. Também a forma como é aplicado, por pulverização, corre o risco do conteúdo chegar na casa de alguém, em um hospital. Então, por questão de segurança, a Anvisa determinou não usar.

E como resolver isso?

PC: O melhor tratamento é a prevenção. Desde o momento do plantio, dando condições adequadas para que ela se desenvolva, como espaço para as raízes crescerem. Evitar poda, porque a poda é um machucado, por onde podem entrar bactérias e fungos. Evitar as roçadeiras para cortar a grama porque tem um índice muito grande de machucados na base das árvores, onde tem muita umidade do solo.

capa manual de arborziacao internaO morador pode plantar na cidade?

FV: A lei não proíbe o morador de plantar. O que recomendamos é que a subprefeitura da região seja consultada previamente para checar se tem um planejamento para a região ou se passa alguma rede de serviço que pode ser danificada durante o plantio. A consulta pode ser na subprefeitura ou na secretaria do Verde.

Mas a população acaba tomando iniciativa por conta da espera por técnicos da prefeitura, que ainda é muito alta.

FV: Existem atualmente, nas calçadas e canteiros centrais, 652 mil árvores mapeadas [dados de 2015].  No plano que estamos desenvolvendo, a gente tem mapeado a demanda por poda e corte de árvores na cidade e a gente já entendeu qual é a dinâmica da fila. Não é que demora muito para atender, é o modelo de como, onde, o quê e quando fazemos a vistoria. A tomada de decisão é baseada na demanda. Então, se você não pedir para um técnico ir lá, pelo serviço de atendimento ao cidadão (Portal 156), ele não vai. E não é a maioria que pede. Então, num determinado dia existe uma programação para o serviço. Não tem um sistema inteligente que permita olhar todos os exemplares de uma única rua, com planejamento, sem precisar ficar atendendo demandas que geralmente são urgentes. A fila existe por conta dessa forma de trabalho, a fila é muita grande porque perdemos muito tempo no deslocamento, por destinos distantes uns dos outros.

O novo plano municipal pode contribuir para melhorar o atendimento?

FV: A ideia do planejamento é suprir esse atendimento, que é feito em duas etapas pelo menos. Uma para avaliar o que precisa ser feito. E outra para a execução. Então, o sistema planejado não é que ele vai só dar mais agilidade, ele vai otimizar tempo, uso do recurso humano e financeiro. O planejamento está considerando diversos critérios como avenidas que impactam mais na circulação de carros e pessoas, a vegetação mais antiga, onde caem mais árvores, os bairros que tem dificuldade para interditar o trânsito.

Vai permitir verificar onde precisa de mais áreas verdes? É a periferia que possui menos verde?

PC: Sim. É a periferia que possui menos áreas verdes. Existe outro plano em andamento que está analisando as áreas verdes da cidade, mapeamento a área da copa das árvores, que aí abrange tudo, calçadas, canteiros, praças e parques para detectar a área de cobertura na cidade. Com isso, será possível saber onde é preciso plantar mais árvores. O levantamento de 2015, só georreferenciou as árvores, onde estão. Agora, vai proporcionar saber o tamanho das copas e, com isso, a idade delas também. E esse levantamento deve sair ainda neste ano.

É possível plantar frutíferas na cidade?

FV: Não recomendamos o plantio nas calçadas porque elas caem e podem causar quedas ou atrair pessoas que sobem nas árvores se colocando em risco por conta da fiação elétrica. E também não sabemos qual a qualidade essas frutas, porque os solos da cidade são muito variados, não tem só solo natural, muito vêm de outros locais, e podem estar contaminados com metais pesados. O alto índice de poluição do ar acaba depositado na casca do fruto. Também tem a parte agronômica mesmo. Quando tem uma área de produção de fruto é preciso ter cuidado com adubação e preparação do solo. Também é preciso podar a árvore com uma frequência diferente.

Vocês têm contato com a população que planta?

PC: Estamos fazendo o levantamento dos coletivos que plantam árvores para que eles se aproximem mais da gente e continuem plantando adequadamente, respeitando os manuais.
Pretendemos construir um plano em conjunto com a população.

Serviços:

Baixe os manuais de Arborização e de Poda neste link

Poda de árvore ou denúncia de poda ou remoção não autorizados pode ser feito pelo Portal da Prefeitura: https://sp156.prefeitura.sp.gov.br/

*Esta entrevista é complemento da matéria "Preservação de áreas verdes na capital em risco" da edição 537 do Jornal do Engenheiro

** Leia também complemento da matéria do JE 537 "Pesquisa demonstra aumento do interesse por áreas verdes nas cidades".


Fotos: De cima para baixo, poda de árvore realizada por equipe terceirizada da Subprefeitura da Mooca/Beatriz Arruda; capa do Manual de Arborização da cidade.



Lido 2188 vezes
Gostou deste conteúdo? Compartilhe e comente:
Adicionar comentário

Receba o SEESP Notícias *

agenda