Recuperação exigirá Estado eficaz e protagonismo da engenharia
A economia brasileira, que já enfrentava sérias dificuldades, certamente sofrerá impacto significativo da situação gerada pela pandemia do novo coronavírus e das medidas necessárias para desacelerar a contaminação e proteger a todos. Há estimativas de que o encolhimento do Produto Interno Bruto (PIB) em virtude da pandemia pode variar de 5% a 8%, com graves reflexos nas taxas de desemprego e subutilização da força de trabalho, conforme aponta artigo do Observatório da Economia do Le Monde Diplomatique Brasil.
Também é extremamente preocupante a situação da indústria que, segundo estudo da Fundação Getulio Vargas divulgado na segunda-feira (4/5), está operando em apenas 57,5% de sua capacidade. Tal queda se deu em dois meses, como também aponta o levantamento, posto que em fevereiro esse índice era de 76,2%.
Se já padecíamos com a desindustrialização precoce que afeta o Brasil, agora vivemos grave inutilização do nosso parque fabril, o que significa menos desenvolvimento e inovação e mais eliminação de postos de trabalho de qualidade.
Grave ainda é o quadro na construção que, no final do ano passado, esperava retomada de até 3% nas estimativas mais otimistas, depois de longo período de retração. No entanto, a situação que se coloca desde março já alterou as previsões. “Todas as análises mostram um profundo impacto sobre a demanda e oferta da economia, invertendo assim todos os sinais que antes indicavam crescimento”, informa boletim do SindusCon SP de 28 de abril.
Ou seja, não há ilusões em relação às dificuldades pela frente. Por isso mesmo, é preciso desde já planejar a recuperação. O desafio, sabe-se, exigirá papel forte e eficaz do Estado e não poderá prescindir de participação central da engenharia.
Entre as principais medidas a serem tomadas com esse objetivo e orientação está a retomada das obras públicas paralisadas. Existem milhares delas em todo o País e sua reativação teria impacto imediato na atividade econômica, gerando emprego e renda rapidamente. Além disso, finalizar esses empreendimentos significa entregar equipamentos públicos necessários à população e infraestrutura essencial à produção do Brasil.
Em 22 de abril, o governo federal havia anunciado, sem muitos detalhes, investimentos da ordem de R$ 30 bilhões para concluir cerca de 70 obras de infraestrutura, começando o trabalho em outubro. A estimativa divulgada é que, ao longo do tempo, essas inversões gerem até 1 milhão de empregos.
Apesar de tímido, tendo em vista as necessidades do País, o “Pró-Brasil”, como foi batizado o programa, traz a virtude de apontar para um rumo de ação e avanço, com o Estado assumindo a responsabilidade que lhe cabe: induzir o desenvolvimento. A partir dele, outras iniciativas podem ser desenhadas e efetivadas.
Espera-se, portanto, que as notícias que já circulam nos veículos de comunicação de cancelamento do projeto pelo Ministério da Economia não se confirmem. É preciso que haja compreensão por parte do Executivo e do Congresso da necessidade imperativa de investimentos públicos. Sem esses, não há hipótese de a crise amplificada pelo coronavírus se resolver por vontade do mercado.
A engenharia nacional está a postos para contribuir com a retomada da economia e espera que o poder público cumpra seu papel pelo bem-estar da sociedade brasileira.
Eng. Murilo Pinheiro
Presidente do SEESP