A observação é do CEO Tiago Mavichian, da Cia de Estágios, em live realizada pelo SEESP nesta quarta-feira (13/5) sobre mercado de trabalho
Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
Em mais uma live concorrida, nesta quarta-feira (13/5), no Instagram, o SEESP trouxe um debate importante para os dias atuais de pandemia pelo novo coronavírus (Covid-19): como os processos seletivos seguem daqui para a frente. O convidado da noite foi Tiago Mavichian, CEO da Companhia de Estágios, que foi taxativo: “O mercado vai querer saber o que você fez durante a pandemia. Você ficou assistindo televisão? Ou se mexeu, buscou conteúdos, fez networking?” O debate foi coordenado por Alexandra Justo, gestora da área Oportunidades na Engenharia do SEESP.
Logo ao início, Mavichian informou que a Cia de Estágios, desde o começo da pandemia, adotou uma postura positiva e propositiva de trabalho, realizando diversas ações, como a criação da página “#juntoseconectados”, que reúne notas técnicas, vídeo, cases e outros conteúdos sobre a crise. Além disso, a recrutadora aderiu ao movimento #nãodemita lançado por grandes companhias. “Nele, as empresas se comprometem a não demitir neste momento de crise, até porque essa situação vai passar”, exorta.
Já distantes de processos de seleção massacrantes e até humilhantes, assegura Mavichian, os atuais estão mais conectados à conduta das empresas mais preocupadas com as pessoas e temas sociais. “Na maioria dos casos, esse tempo ficou para trás. Porque se leva em conta a candidate experience [experiência do candidato] e a employee journey [jornada do empregado], pois esse candidato ou futuro empregado também é um consumidor dos produtos, serviços ou valores daquela empresa”, avalia. Por isso, prossegue ele, as contratantes estão mais inclinadas a fazer um processo sério, transparente e respeitoso. “Lembrando que a empresa vai escolher, mas o candidato também vai.”
Além dessa conduta, Mavichian fala que os processos de seleção e recrutamento estão cada vez mais virtuais e digitais, utilizando muitas ferramentas ligadas à inteligência artificial (IA). Com a pandemia, as inovações tecnológicas tendem a se intensificar e algumas empresas, como disse, não pararam as contratações. Foi necessário, ressalta, criar soluções rápidas e algumas companhias já começam a fazer o processo seletivo 100% digital. “Para o candidato, dificilmente as coisas vão ser como antes e serão processos cada vez mais tecnológicos”, aponta. E recomenda que os candidatos continuem a fazer cadastros em sites e plataformas sérios que anunciem boas vagas.
A etapa digital requer, indica Mavichian, por exemplo, que o pretendente faça os formulários da melhor maneira possível, preenchendo todos os campos solicitados, porque a IA e outros filtros “vão usar todas as informações do cadastro para fazer a identificação e a leitura. Então, quanto mais completo o cadastro estiver, mais chances de o candidato ser 'enxergado' pela ferramenta." Outra dica é não subestimar nenhum tipo de experiência de vida, como participação em trabalhos voluntários, atividades no diretório acadêmico, intercâmbio, alguma iniciação científica feita na faculdade, atividades extracurriculares, principalmente para o estudante que está atrás de vaga de estágio e não tem experiência profissional. “Até a experiência de residir em outra cidade para estudar é interessante.”
Não existe candidato bom ou ruim
Mavichian reforça que o processo seletivo vem mudando de maneira muito forte e rápida. “Antes tinha a entrega do currículo, alguns testes online – que, basicamente, levantavam a parte de conhecimentos gerais, lógica e idioma – depois tinha a parte presencial, num processo de 12 a 15 pessoas, com a entrevista ou alguma dinâmica em grupo com o objetivo de avaliar comportamento e que habilidade aquela pessoa tinha. Esse modelo, com a tecnologia, mudou muito, a IA passa a identificar as pessoas individualmente pelo comportamento e decisões.”
A Cia de Estágios, exemplifica, realiza teste comportamental e tem dois tipos de jogos, em que “mapeamos o comportamento do candidato durante a prática para identificar algumas das suas características com base em suas decisões. Não avaliamos se ele é bom ou não, mas se tem determinada característica. Não existe candidato bom ou ruim, mas o perfil da vaga e o que para aquela posição seria o melhor”.
A ideia, explica, é cruzar informações. “Quando a gente abre uma vaga, o analista ou psicólogo fala com o gestor para entender como é a área, o que já funcionou ou não, desafios, características que ele entende sejam boas. Feito isso, é postada a vaga na plataforma. Aí o sistema começa a trabalhar para identificar filtros técnicos, se tenho uma vaga em Recife não posso ter uma pessoa que está estudando em São Paulo, por exemplo. Se é uma vaga que precisa de inglês – e quero aqui fazer um parênteses de que a gente tem brigado bastante com as empresas para não exigirem inglês se realmente não for imprescindível, porque pode também causar frustração no candidato – e outros requisitos.”
Nos jogos, observa Mavichian, o candidato não consegue ensaiar ou representar um papel como se fosse um teatro. “O jogo mostra ele tomaria as decisões numa situação real.” Apesar disso, o CEO lembra que, num processo seletivo, ainda é necessário estudar a empresa, a área, ver quem são o gestor e os executivos. “Fazer essa lição de casa ainda conta ponto.”
A decisão não é tomada apenas numa avaliação, destaca Mavichian. “Todas as etapas são levadas em conta.”
Competências em alta
Ele relaciona algumas das competências comportamentais (soft skills) mais buscadas no momento: as relacionadas ao trabalho em equipe, assumir o seu papel no time – vai ter aquele que coordena bem, outro que executa; outro que sabe apresentar e vender muito bem; tem o perfil analítico, o do organizador; e muitas outras. “Todas têm em comum a capacidade de se trabalhar em time. E tem, ainda, a capacidade de comunicação, de saber apresentar projetos etc.. Por exemplo, o engenheiro é conhecido no mercado como muito inteligente e analítico, mas precisa se compatibilizar com o que o mercado exige hoje em todas as suas posições: a comunicação e saber trabalhar em equipe.”
Mavichian acrescenta: “A boa notícia é que as competências comportamentais podem ser desenvolvidas.”
Ao final, o debatedor apontou: “O que você está fazendo agora vai mostrar o seu perfil, mostrar qual a decisão que tomou. O modelo de trabalho será mais digital. A presença no escritório vai diminuir bastante. A capacidade de equipe será mais exigida, assim como a integração com tecnologias. Perceber a sua resiliência ao tomar uma pancada dessas [a pandemia] e conseguir reagir. O que está fazendo hoje vai ser perguntado e vai mostrar quem você é para o mercado.”
Diversos temas foram tratados nesse grande debate que teve duração de quase uma hora. Todo o conteúdo pode ser assistido pelo canal do SEESP no YouTube. A próxima live acontece na quarta-feira (20/5), às 19h, também pelo canal da entidade no Instagram (oportunidades_na_engenharia). O tema será "O papel dos profissionais de engenharia no processo de atualização das Normas Regulamentadoras de Saúde e Segurança do Trabalho", com participação de Marcos Wanderley Ferreira, vice-presidente do SEESP, e Aguinaldo Bizzo de Almeida, diretor do sindicato e membro dos Grupos de Trabalho Tripartite sobre NRs 10 e 35.
Confira a live com Mavichian na íntegra: