Comunicação SEESP*
Um conjunto de instituições públicas estaduais e federais tem colocado o conhecimento científico transformado em tecnologia e inovação na busca por ajudar a sociedade diante da pandemia causada pelo novo coronavírus.
Parte dessa rede, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em aproximadamente 50 dias, já criou e está desenvolvendo mais de 60 projetos de ensino, pesquisa, extensão e inovação nas áreas de saúde, educação e engenharias. Além disso, tem aberto chamamentos para parcerias.
Entre as ações objetivas e com resultados concretos protagonizadas por docentes, técnico-administrativos e estudantes da UFSCar estão a realização de testes diagnósticos para Covid-19, o desenvolvimento de testes rápidos, a produção e doação de protetores faciais, de equipamentos de proteção individual e de álcool em gel; o conserto de respiradores artificiais, além de cuidados em saúde.
Ademais, nesta sexta-feira (15/5) inaugura dez novos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), exclusivos para tratamento de pacientes com Covid-19, em seu Hospital Universitário Prof. Dr. Horácio Carlos Panepucci (HU), vinculado à Rede Ebserh [Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares] - que investiu R$ 7,5 milhões, por meio do Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (Rehuf), gerido pela própria estatal.
Novos leitos de UTI que serão inaugurados
no HU-UFSCar. (Foto: Divulgação)
No mesmo projeto, foi contemplada a construção de um moderno centro cirúrgico com cinco salas operatórias e Central de Materiais e Esterilização, ambas em fase de entrega, prevista para o final deste mês. Além de processo seletivo emergencial, que possibilitou, até agora, a contratação de 54 profissionais temporários.
Chamamento à parceria
Nessa direção, ainda, o Laboratório de Bioquímica e Tecnologias Bioluminescentes do campus Sorocaba da UFSCar está iniciando um projeto de desenvolvimento de testes bioluminescentes de detecção, rastreamento viral e seleção de drogas para Covid-19.
Laboratório de Bioquímica e Tecnologias Bioluminescentes
do campus Sorocaba. (Foto: Arquivo)
A bioluminescência consiste na produção de luz por organismos vivos e ocorre em insetos como, por exemplo, os vaga-lumes, e também em alguns fungos e animais marinhos. “Os testes bioluminescentes são muito usados em culturas de células e animais, não em humanos. Uma vez que o vírus modificado que infecta a célula a torna bioluminescente, é possível rastrear o vírus em células e modelos animais pela bioluminescência emitida. A partir disso, pode-se desenvolver testes de seleção de drogas antivirais em ensaios pré-clínicos, ajudando a encontrar novas drogas", explica o professor Vadim Viviani, do Departamento de Física, Química e Matemática (DFQM-So), que coordena o laboratório.
O professor da UFSCar, que já foi presidente da International Society for Bioluminescence and Chemiluminescence (ISBC), conta que existem inúmeros trabalhos aplicando luciferases (enzimas capazes de transformar energia química em luminosa) e bioluminescência na área médica.
“Quando surgiu a pandemia por Covid-19, fui logo pesquisar na literatura o uso de testes bioluminescentes para esse tipo de vírus e, como esperado, encontrei vários trabalhos publicados. Assim, considerando a expertise do meu laboratório, comecei a procurar potenciais parceiros que trabalhem com Covid-19 para ajudar a desenvolver testes virais bioluminescentes no Brasil, 100% nacionais. Não é uma tarefa simples. Pelo contrário, é muito desafiadora e envolve vários conhecimentos. Meu laboratório, apenas, não tem condição de desenvolver sozinho, mas pode oferecer as ferramentas moleculares e infraestrutura para ensaios bioluminescentes", completa.
Por isso, o projeto está buscando a parceria de grupos que trabalhem com biologia molecular de Covids e desenvolvimento de testes de seleção de drogas. "Nosso laboratório está preparado para fazer a parte de engenharia molecular do vírus, para inserir o gene de luciferase dentro do genoma [material genético] viral, e realizar ensaios bioluminescentes", afirma Viviani.
Ainda de acordo com o professor, "o desenvolvimento de testes bioluminescentes para Covid-19 é muito complexo, pois envolve manipulação em ambientes de contenção com nível de biossegurança que não temos ainda no nosso laboratório. Além disto, a construção do vírus modificado não é trivial, porque demanda manipulação de vírus de RNA [isto é, com material genético] ao invés de DNA, que é mais facilmente manipulável. Assim, precisamos de laboratórios que tenham experiência com manipulação dessa modalidade de vírus".
Segundo Viviani, já existem testes de rastreamento e seleção de drogas por bioluminescência para HIV, herpes, papilomavírus, incluindo Covids, entre outros. “São trabalhos realizados principalmente por grupos europeus, americanos e chineses. No Brasil desconheço o uso dessas tecnologias, com exceção de alguns testes usando kits importados", diz.
Enquanto isso, o laboratório da UFSCar já trabalha no desenvolvimento de imunoensaios bioluminescentes, pois não dependem do vírus em si, e conta com o apoio de projetos financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Os parceiros interessados em participar e obter mais informações podem entrar em contato pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Sobre o laboratório
O Laboratório de Bioquímica e Tecnologias Bioluminescentes da UFSCar trabalha com bioluminescência, especialmente enzimas luciferases, sendo um dos líderes mundiais nesse tipo de pesquisa.
Ao longo dos últimos 20 anos clonou genes de várias enzimas luciferases de vaga-lumes, tendo o maior banco de luciferases recombinantes do mundo e seus mutantes.
Também caracterizou essas enzimas, investigou sua estrutura molecular e sua função. Com esses conhecimentos, desenvolveu novas luciferases e seus genes repórteres (que conferem bioluminescência as células e tecidos) para finalidades de marcação bioluminescente de células e geração de biossensores intracelulares de pH e metais pesados. Conta com vários depósitos de patentes, algumas inclusive licenciadas e com produtos no mercado – desenvolvidos na época em que o professor Viviani trabalhou no Japão.
Para saber mais sobre as atividades do laboratório, acesse www.biolum.ufscar.br.
* Com informações da Assessoria de Imprensa da UFSCar