Executivo da Companhia de Estágios, em live, fala sobre o reposicionamento de processos seletivos e empresas a partir da pandemia da Covid-19.
Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
Como os processos seletivos seguem daqui para a frente com o cenário de crise criado pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19) foi o tema discutido, em 13 de maio último, com o CEO da Companhia de Estágios, Tiago Mavichian. Ele foi o convidado de live realizada pelo SEESP no perfil oportunidades_na_engenharia, no Instagram. O assunto atraiu jovens e profissionais que queriam saber sobre competências comportamentais (soft skills), recrutamento 100% digital, gamificação e como se preparar para entrevistas e apresentações em vídeo. Mavichian deixou, entre tantas, uma dica de ouro: “O mercado vai querer saber o que você fez durante a pandemia. Você ficou assistindo televisão? Ou se mexeu, buscou conteúdos, fez networking?”
O debate foi coordenado pela gestora da área de Oportunidades na Engenharia do SEESP, Alexandra Justo. À abertura, a gestora destacou a frutífera parceria entre a entidade e a Cia de Estágios na divulgação de vagas de estágios específicas para estudantes de engenharia. Ela parabenizou a recrutadora por apoiar a causa #nãodemita e pelo recebimento do selo do Great Place to Work 2020 (GPTW), neste ano, sendo considerada uma das melhores empresas para se trabalhar. A GPTW, como salientou Justo, é uma autoridade global no mundo do trabalho e muito reconhecida pela área de recursos humanos e de gestão.
Ao longo do debate, ela trouxe assuntos que estão na cabeça de todos os profissionais e estudantes, em tempos de pandemia: o que é um processo 100% digital, como se preparar para as entrevistas online e criar um vídeo de apresentação. Como ressaltou, os processos seletivos tinham etapas muito tradicionais, como a entrega de currículos, entrevistas presenciais e em alguns processos testes e algumas dinâmicas em grupo. Hoje esse modelo foi extremamente ampliado considerando os fenômenos como a inteligência artificial, bastante pautado nas palavras-chave, o machine learning, os jogos virtuais, busca de competências comportamentais etc..
Em quase uma hora de debate, o CEO discorreu sobre esses temas que interessam ao estudante que procura estágio e ao profissional que busca uma colocação ou recolocação no mercado. A seguir, a transcrição de alguns trechos da fala de Tiago Mavichian na live.
#JuntoseConectados e #nãodemita
A Companhia de Estágios, desde o começo da crise, adotou uma postura positiva e propositiva de trabalho. Criamos uma página, a #juntoseconectados, que reúne ações contra a crise, desde notas técnicas, vídeos, cases e outros conteúdos. Apoiamos também o movimento #nãodemita, lançado por grandes empresas. Elas se comprometem a não demitir neste momento de crise, até porque essa situação vai passar.
Processos virtuais
Os processos estão cada vez mais virtuais e digitais, com gamificação e outras ações. Com a pandemia, apesar de algumas empresas terem suspendido as contratações, tivemos outras que não pararam. E foi necessário criar solução com mecanismos 100% digitais.
Para o candidato, dificilmente as coisas serão como antes também. Os processos tendem a ser mais tecnológicos. Por isso, é importante se cadastrar em sites e plataformas sérios que anunciem vagas. O cadastro deve ser feito da melhor maneira possível, com atenção e cuidado, preenchendo todos os campos do formulário. Isso porque as ferramentas que utilizam a inteligência artificial e outros filtros vão usar e cruzar todas as informações para fazer a leitura e a identificação dos candidatos mais aderentes à vaga. Então, quanto mais completo o cadastro mais chances de ser “enxergado” nessa parte digital.
Para o estudante, vale a dica de não subestimar nenhuma experiência de vida na hora de fazer o cadastro. Orientamos que coloque o que se fez em termos de trabalho voluntário, iniciação científica na faculdade, participação em diretório acadêmico, atividade extracurricular, intercâmbio. Até a experiência de mudar de cidade para estudar vale.
Palavras-chave e match
Existem dois modelos básicos que a área de recursos humanos (RH) usa na hora dos processos seletivos: um é a busca por filtro e o outro, por palavras-chave. A primeira é quando o RH define o nome do curso, experiências específicas (ter AutoCAD, por exemplo). Essa é uma linha de atuação.
A outra é usar ferramentas da inteligência artificial que proporcionarão uma leitura mais completa do perfil do candidato, com base, inclusive, em decisões anteriores, para fazer um match mais assertivo entre o candidato e o que a empresa está procurando. A ideia é avaliar mais valores, comportamentos e competências, primeiro; e depois filtros técnicos.
Portanto, o processo tradicional de cadastro de currículo, testes online – que, basicamente, levantavam a parte de conhecimentos gerais, lógica e idioma –, algumas dinâmicas presenciais de grupo estão ficando para trás. Com a ciência de dados, as pessoas são identificadas individualmente pelo comportamento e decisões. E como isso funciona? Por exemplo, na Cia de Estágios, além de teste comportamental, temos dois tipos de games, em que mapeamos o comportamento do candidato durante o jogo para identificar algumas das suas características com base em suas decisões. Não avaliamos se ele é bom ou não, mas se tem determinada característica e qual o nível dela. Não existe candidato bom ou ruim, existe o perfil da vaga e o que seria o melhor para aquela posição.
Importante, aqui, falar um pouco sobre o que acontece antes da vaga definida e anunciada. O analista ou psicólogo vai falar com o gestor para entender como é a área, o que já funcionou ou não, desafios, características que ele entende sejam boas, quais as características e competências que quer identificar nos candidatos. O sistema vai identificar também filtros técnicos, por exemplo, se é uma vaga em Recife não posso ter uma pessoa que está estudando em São Paulo e não pode mudar; se é idioma de inglês, é requisito. Faço um parênteses: a gente tem brigado bastante com as empresas para não exigirem inglês se realmente não for imprescindível, porque pode causar frustração no candidato, fazendo-o sair da empresa. E aí as empresas não sabem porque não conseguem reter talentos.
O nosso desafio é entender quais são realmente as características e competências necessárias para aquela ocupação para ter uma vaga factível e possível.
Inteligência artificial
Ainda é importante o candidato estudar a empresa, a área, ver quem é o gestor. Essa "lição de casa" ainda conta ponto, claro. Com a gamificação, o que se quer é se aproximar mais e melhor de quem é aquela pessoa, porque no jogo não dá para ensaiar ou desempenhar um papel como se fosse um teatro. O jogo mostra como o candidato tomaria as decisões em determinadas situações.
A IA vai buscar as competências com base nos testes do jogo e outros tipos. Com base nisso, será convidado para uma etapa virtual, por vídeo, em que vai falar com o pessoal da consultoria, do RH e, ao final, com o gestor ou executivo da empresa.
Avaliação mútua
O candidato a uma vaga não precisa ficar triste ou frustrado se não passou num processo seletivo. Sabe por que? Porque quando você entra na empresa, precisa e quer dar certo. Então, a ideia é acertar para os dois lados. Mostrar quem você é num processo vai ajudar a tomar a decisão correta, porque o candidato também avalia a empresa.
Nesse sentido, destaco uma pesquisa que fizemos em que os candidatos apontaram o que mais odeiam num processo seletivo: em primeiríssimo lugar, não receber feedback da empresa; em segundo, processos longos que fazem até o interessado esquecer; e, por fim, muitas etapas. Com base nisso, a gente tentou construir os nossos processos de forma enxuta para ser uma experiência positiva para todos.
Conduta social das empresas
Processos seletivos massacrantes e humilhantes, na maioria dos casos, ficaram para trás. Porque hoje conta também a candidate experience [experiência do candidato] e employee journey [jornada do empregado] depois que ele entra na empresa, pois o empregado é também consumidor dos produtos, serviços e valores vendidos pela empresa. Hoje, as empresas precisam ter uma etiqueta de conduta social e de preocupação com as pessoas. É uma preocupação fazer um processo sério, transparente e respeitoso. Lembrando que a empresa vai escolher, mas o candidato também vai.
Mas as empresas estão inovando. Temos o caso bem legal da Reckitt Benckiser, grupo inglês de produtos de saúde e higiene, que fazia uma seleção diferente a partir de desafios em cima de um problema social do país em que ocorria o processo seletivo. Os candidatos tinham de apresentar uma solução utilizando os produtos da marca. Era um programa baseado em três pilares: divulgação da marca, encontrar talentos e gerar inovação, ideias. A Cia de Estágios coordenou esse processo, no Brasil, por dois anos. A empresa testava a capacidade de se mobilizar em torno de uma causa.
Gamificação
O termo gamificação [que vem do inglês gamification] identifica, de forma resumida, a utilização de elementos de jogos em contextos que não se resumem a entretenimento. Existem dois modelos principais de gamificação que podem ser adotados nos mais diferentes contextos: o analógico, jogos que envolvem tabuleiros, cartas ou outras dinâmicas presenciais; todavia, o mais usado, nos recrutamentos, é o digital, que aproveita os avanços tecnológicos para criar uma experiência dentro de uma plataforma eletrônica, assim como os games mais sofisticados. São vários tipos de jogos usando as mais diversas tecnologias a partir da 2D. De forma especial, a Cia. de Estágio já trabalha com o universo 3D, com o uso de óculos de realidade virtual para levantamento de perfil dos candidatos.
Apresentação em vídeo
Os processos seletivos estão valendo-se da tecnologia para diversificar e inovar, mas todas as etapas são importantes. Por causa da pandemia, as apresentações por vídeo tendem a crescer. Por isso, atenção na hora de gravar ou mesmo de ter uma conversa ao vivo online com imagem. Os recrutadores estarão muito atentos aos detalhes e observando o ambiente. Inicialmente, verifique o dress code [código de roupa] daquela empresa e adequado à sua área. Atenção que existe um código para o engenheiro, uma das profissões mais versáteis e que transita em quase todas as áreas; a roupa social deve ficar mais para advogados.
Definida a roupa, o que não pode faltar num vídeo de apresentação é o olho no olho. O candidato precisa ter aquele brilho, vontade e energia. Depois, informações básicas, como, nome, faculdade e curso que está fazendo, o que na sua trajetória é relevante, algum intercâmbio, engajamento em alguma ação social. Conte tudo isso com paixão, segurança e energia, porque o gestor vai ouvir com atenção.
Lembre-se que você não vai pedir uma vaga, mas se mostrar adequado e preparado à posição. Mostre que você tem consciência do seu perfil e está preparado para se desenvolver no que for preciso.
Competências em alta
O processo sempre tem foco em talento e competência. O recrutador começa com o mapeamento. Exemplos básicos: pessoa da área de venda, precisa de alguém que se relacione e se comunique bem. O recrutador vai fazer uma série de perguntas para saber como você se comportou em diversas situações, qual seu papel, o que sentiu. Ou propor uma situação hipotética para avaliar o que você faria.
Mesmo o engenheiro, conhecido no mercado como muito inteligente e analítico, precisa se compatibilizar com o mercado atual. As competências mais buscadas basicamente estão relacionadas à capacidade de trabalhar em equipe, cada um assumindo o seu papel no time; tem aquele que coordena bem, outros que são perfeitos na execução; outro que sabe se apresentar e vender bem; tem aquele com maior capacidade analítica, de encontrar padrões; o melhor na organização; mas há muitas outras competências.
O que você fez na pandemia
Para finalizar, gostaria de destacar que o mercado vai querer saber o que você está fazendo ou fez durante a pandemia. Ficou em casa assistindo TV, sem reagir? O que você está fazendo agora vai mostrar o seu perfil, mostrar qual a decisão que tomou. Além disso, ganha força o modelo de trabalho digital e a presença no escritório vai diminuir bastante, a capacidade de equipe será mais exigida, assim como a integração com tecnologias, resiliência de tomar uma pancada dessas e conseguir reagir. O que você está fazendo hoje vai ser perguntado e vai mostrar quem você é para o mercado. Por isso, mexa-se. Faça alguma coisa. Busque conteúdo, cursos, melhore o networking, leia, busque novas formas de fazer.
Vagas
Quero deixar uma dica aqui para todos que existem vagas abertas no site da Companhia de Estágios, no www.ciadeestagios.com.br. Quem não tem cadastro ainda, é só fazer, é muito fácil. Tem bastante vaga também para os estudantes de engenharia.
Confira o vídeo abaixo com a live na íntegra: