Agência Sindical
Os condutores, pela própria função que exercem, ficam mais expostos a contaminações pela Covid-19. Esse quadro se agrava ante a má vontade das empresas em oferecer Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), produtos de higiene e outros meios de defesa da saúde. A resistência patronal obriga o Sindicato dos Condutores de São Paulo a ingressar com medidas judiciais. A entidade também busca acordos por empresa, mas encontra dificuldades. Essa situação foi narrada pelo motorista Luiz Gonçalves, Luizinho, em live da Agência Sindical, na quarta-feira (275). Luiz preside a Nova Central Sindical de Trabalhadores SP.
Confira abaixo os principais trechos da conversa:
O trabalho hoje
A fase é difícil. Protocolamos a pauta de reivindicações em março. Aí chegou a pandemia. Vieram também as Medidas Provisórias do governo, lesiva aos trabalhadores. A crise da Covid-19 levou à redução da frota. Tratamos de afastar vários aposentados que estavam na ativa e trabalham por necessidade. Tivemos que negociar redução da jornada e salário. Houve acordo com patronal, mediado pelo governo municipal.
Contaminação
A categoria tem sido afetada brutalmente. Em março, tivemos que suspender as negociações da data-base pra cuidar dessa situação. Nossa Secretaria de Saúde acompanha a evolução da contaminação. Tivemos número grande de óbitos e de contaminação em maio.
Papel dos trabalhadores
A Prefeitura tentou colocar o trabalhador pra fiscalizar a postura dos usuários. Nós recusamos. Isso compete ao poder público. Os companheiros tentam dialogar com os passageiros, que também são trabalhadores, mas sempre há quem não respeite as recomendações sanitárias.
Parte da empresa
Queremos que todas meçam a temperatura dos trabalhadores. Caso se constate temperatura alta, encaminhe ao ambulatório. Mas tem empresário que coloca dificuldade em tudo; aí é preciso apelar ao Judiciário. Veja: tem Sindicato que já conseguiu prorrogar a data-base aumentar salário etc. Mas não conseguimos negociar com os empresários, estamos com uma dificuldade danada. Tivemos que ir à Justiça com pedido de dissídio coletivo pra tentar prorrogar a Convenção Coletiva. Vamos tentar fechar uma Convenção Coletiva de Trabalho, mas é grande o grau de dificuldade.
Testes
Testes em massa não têm sido feito. Chegamos a quase 600 contaminados. E muitos estão na fila pra fazer teste. As clínicas particulares e públicas alegam que estão sem testes. Só 140 que fizeram o teste. E 35 companheiros foram a óbito pela Covid-19. Toda empresa é obrigada a ter ambulatório, médico do trabalho, enfermeiro. Na realidade, porém, o sujeito é afastado, toma Novalgina, passa a febre, volta ao trabalho.
Cloroquina
Essa onda não pegou na categoria, virou piada. Nosso jornal esclarece o trabalhador que é medicamento de risco. Devemos seguir as recomendações das autoridades médicas.
EPIs
Algumas empresas espontaneamente começaram a providenciar o EPIs. Na minha opinião, tinham que oferecer aquela máscara transparente, usar acrílico pra fazer a cabine do cobrador e do motorista. Estamos também preocupados com o pós-pandemia, porque tem empresa que pode quebrar e demitir, e isso é muito preocupante.
Higienização dos ônibus
É outra dificuldade. Algumas empresas, por imposição do poder público, fazem. O problema é que, quando chega no Parque Dom Pedro, ou no fundão da cidade, não tem essa limpeza. Um monte de gente sobe e desce no itinerário e nem sempre no inicial ou final da linha tem alguém pra higienizar. Precisa de gente pra higienizar a frota e os terminais. Bastava contratar conseguir pessoas que precisam trabalhar. Isso ajudaria bastante hoje e no futuro, pois a demanda continuará.
Dúvidas dos trabalhadores
Nós temos uma forte organização por local de trabalho. Diretoria, cipeiros e delegados estão dia e noite nas garagens. A categoria tem sido orientada. Tem empresa que demite nesse período e tem sempre alguém no Sindicato pra fazer homologação. A vida continua, não estamos parados. E estamos dando toda assistência aos trabalhadores.