Com agências*
A primeira greve nacional dos entregadores de aplicativos teve ampla repercussão. Há registro de protestos tanto nas capitais, quanto nas médias e pequenas cidades, em todas as regiões do País. A “grande novidade”, segundo o diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Fausto Augusto Junior, foi que a mobilização transcendeu os próprios trabalhadores, atingindo também os consumidores.
Entregadores ocupam diversas vias públicas, como a Ponte Estaiada / Fotos: Mídia Ninja
Muitos restaurantes também se solidarizaram com a categoria e revelaram que estão insatisfeitos com os aplicativos delivery, que cobram taxas altas sobre cada pedido, além de mensalidade, para incluírem o restaurante no catálogo de entrega. O iFood, por exemplo, cobra de duas maneiras: uma taxa de 12% por pedido para estabelecimentos que fazem suas próprias entregas; ou uma taxa de 27% para os que utilizam a entrega da plataforma – em ambas as modalidades há uma mensalidade de R$ 130.
Ao longo de todo o dia, os termos #BrequeDosApps e #GreveDosApps estavam entre os mais comentados no Twitter. Muitos consumidores também utilizaram as lojas virtuais para criticar os aplicativos de entrega pela exploração desses trabalhadores.
“O consumidor sabe o quanto está pagando pela sua entrega. O que ele não sabe é o quanto daquele valor fica, de fato, para o entregador. Esses aplicativos chegam a ficar com até 50% do valor da entrega. E quem, de fato, efetiva esse trabalho acaba ficando com muito pouco”, disse Fausto, em entrevista ao Jornal Brasil Atual, nesta quinta-feira (2).
A grande adesão e repercussão fez com que os organizadores na capital paulista já antecipassem uma nova mobilização, caso as empresas não sinalizem com qualquer tipo de negociação. Segundo os organizadores, provavelmente será nos dias 11 e 12 de julho (sábado e domingo).
Entre as reivindicações da categoria estão a entrega de álcool gel, máscaras e equipamentos de segurança que, segundo eles, as empresas como Ifood, Rappi, Loggi, James, Uber, e outras, prometeram, mas não entregaram para ajudá-los na prevenção à Covid 19. As reivindicações envolvem ainda aumentos do preço por quilômetro rodado e do preço mínimo por corrida, seguro de roubo, acidente e vida e fim dos bloqueios indevidos, além de vale-refeição. Muitos trabalham com entrega de comida e passam o turno inteiro sem se alimentar adequadamente.
“As empresas ainda não deram nenhuma resposta, mas a gente vai dar um prazo, talvez, até sábado ou domingo que vem, e se elas não responderem a gente pode fazer uma nova paralisação no outro fim de semana”, diz Diógenes Silva de Souza, um dos organizadores da greve dos entregadores em São Paulo.
O Estado de São Paulo tem cerca de 500 mil motociclistas. O número cresceu durante a pandemia, devido ao aumento das entregas, especialmente de alimentos. Mas o pagamento por quilômetro rodado caiu, o que obriga a jornadas extenuantes - era de R$ 4,6 por quilômetro rodado, baixou pra 70 centavos. É o que relata Gerson Silva Cunha, presidente do SindimotoSP. Ele falou na terça-feira (30/6), em live da Agência Sindical, sobre a precarização da categoria: “Esse trabalhador, aqui em São Paulo, roda mais de 60 quilômetros. Quando muito ganha R$ 60,00 ou R$ 70,00, mas numa jornada que pode chegar a 16 horas”.
Já o diretor do Dieese lembra que o apoio da sociedade será fundamental para que as reivindicações da categoria avancem e para que os aplicativos não adotem práticas antissindicais, como punições aos trabalhadores envolvidos na greve.
Abaixo, os principais trechos da entrevista com o presidente do Sindmoto-SP:
Protesto - "Nosso protesto é nacional. Em São Paulo e em muitos outros Estados. Vários municípios estarão na luta. Sairemos de cinco regiões até o Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região. Iremos pela avenida dos Bandeirantes, Marginal Pinheiros, subiremos a Rebouças e desceremos a Consolação até o TRT".
Motivo - "Pedir agilidade nas ações civis públicas que esperam ser julgadas. Queremos que o Tribunal interceda por nossa categoria. A ação civil busca direitos e vínculo trabalhista. O Ministério Público identificou que os trabalhadores têm vínculo. As empresas de APPs se dizem intermediadoras de negócio, como a Eats, IFood, Rappi e outras. Mas são elas que colocam valores e ditam as regras".
Cadastro - "O credenciamento do trabalhador é feito por meio de aplicativo. Em alguns dias, a plataforma é ativada e ele começa a sair pra rua. As empresas só pedem habilitação e documento da moto. Também exigem que a pessoa tenha celular e a motocicleta".
Segurança - "No acidente, a responsabilidade seria do Aplicativo. Porém, nos últimos dois meses seis motociclistas perderam a perna. A empresa de APP largou os meninos no desamparo. O Instituto Lucy Montoro doou próteses. Já temos várias ações judiciais contra essas empresas".
Ciclistas - "Só precisam preencher os dados e comprovar onde moram. Após isso, pedalar. Mas não recebem EPIs, como máscaras, capacetes e luvas. Eles não têm dinheiro pra comprar e acabam ficando expostos".
Renda - "Hoje um motociclista faz média de R$ 60,00 e no máximo R$ 90,00 por dia. Roda mais de 60 quilômetros. Bem mais. Na bicicleta, o trabalhador tira de R$ 35,00 a R$ 60,00. Faz de 12 a 16 horas por dia, de domingo a domingo".
* Agência Sindical, CUT e Rede Brasil Atual