A modalidade pode atuar em projetos, gestão, cultivo e comercialização na cadeia produtiva aquícola
Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
A profissional que nos fala da sua trajetória na carreira para celebrar o Dia do Engenheiro de Aquicultura, neste 14 de julho, destaca a “oportunidade de divulgar” a profissão. Daniele Klöppel Rosa Evangelista, aos 38 anos de idade e 15 de formada, faz questão de dizer, com muita satisfação, que é “100% realizada e feliz com a minha escolha pela Engenharia de Aquicultura”. No Brasil, segundo números do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), são 207 profissionais na modalidade, sendo 46 mulheres, e 161 homens.
Ela se graduou na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). “Esse curso só existia nessa universidade, estava ainda em fase de implementação. Entrei no primeiro semestre de 2001, compondo a quinta turma da instituição. Formei-me em 2005, aos 23 anos.” Hoje, ela é supervisora do Setor de Prospecção e Avaliação de Tecnologias da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Pesca e Aquicultura), em Palmas (TO).
Sobre os diversos desafios enfrentados na profissão desde o início da graduação, vale destacar uma frente de batalha importante, como ressalta Rosa Evangelista: “Ser mulher significa ser ativista contra a cultura do machismo, em qualquer profissão ou posição hierárquica em que estivermos.”
Nossa entrevistada é paulistana de nascimento. Mudou para a cidade de Itu, interior paulista, aos 8 anos de idade, onde morou até ir para a universidade, em Florianópolis (SC).
Como foi a sua escolha pela engenharia de aquicultura?
A escolha da profissão com tão pouca idade e experiência de vida é muito difícil! Lembro que eu tinha muitas dúvidas, quase todos os dias eu olhava o mesmo Guia do Estudante após o almoço, esperando ter uma “luz” e me decidir sobre qual curso tentar no vestibular.
Um dia, parei o olhar em uma tarja vermelha bem grande, onde estava escrito “novo” bem grande e se referia ao curso de Engenharia de Aquicultura, como eu não sabia o que era, parei para ler a descrição, e achei super interessante. Envolvia matérias que eu gostava, como biologia e química, e atuava com o ambiente aquático. Isso me chamou atenção porque, por ser filha de um pescador amador apaixonado, sempre tive muito contato com o mundo da pesca e dos peixes, e isso me pareceu, de certa forma, ‘familiar’. Então, me decidi por esse curso. Prestei o vestibular e passei.
Como foi o início e o desenvolvimento da sua carreira?
Foi bem difícil. O mercado ainda não conhecia esse profissional. Os concursos públicos não incluíam essa formação nas descrições das vagas nem as pessoas sabiam o significado do termo ‘aquicultura’. Ainda durante a faculdade, lembro que as pessoas nos paravam no meio da rua para perguntar o que significava o termo ‘aquicultura’ que estava estampado na mochila. E essa realidade demorou muito tempo a mudar. No início, as melhores opções para os recém bacharéis era abrir o próprio negócio ou seguir carreira acadêmica, via cursos de mestrado e doutorado. Optei pela segunda opção. Segui para o curso de mestrado.
Finalizei o mestrado, em 2008, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), na área de Agroecologia e Desenvolvimento Rural. Já fiz diversos cursos de curta duração em temáticas específicas, e atualmente estou cursando um MBA em Agronegócios na Esalq-USP [Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", da Universidade de São Paulo].
O que faz um engenheiro de aquicultura?
Antes de tudo ele é um profissional eclético. Ele tem uma formação multidisciplinar, por isso é capaz de atuar na área de projetos, gestão, cultivo, comercialização, enfim, em qualquer um dos elos da cadeia produtiva aquícola, ou em qualquer uma das fases do processo produtivo. Para mim, esse leque enorme de opções sempre chamou muito a atenção.
Como é o seu trabalho na Embrapa?
Atuo na transferência de tecnologia. Meu trabalho envolve ações de gestão, contato com clientes da Embrapa e o estudo de impactos de tecnologias aquícolas desenvolvidas e transferidas pela empresa para seus usuários finais, os produtores.
Quais desafios que você enfrentou, inclusive como mulher?
Por ser uma profissão nova no País, os desafios iniciais foram inúmeros, desde a obtenção do registro junto ao MEC [Ministério da Educação], registro no Crea [Conselho Regional de Engenharia e Agronomia] até a consolidação do profissional de engenharia de aquicultura em um mercado historicamente dominado por agrônomos, zootecnistas e biólogos.
Além de todo esse cenário, ser mulher na engenharia requer ainda mais comprometimento, competência e seriedade. Conheço grandes profissionais da engenharia de aquicultura que, na sua maioria, são mulheres.
A cultura machista é da sociedade, não somente da engenharia. Ser mulher significa ser ativista contra a cultura do machismo, em qualquer profissão ou posição hierárquica em que estivermos.
As novas tecnologias digitais têm ajudado a sua profissão?
Sim! Com certeza! As tecnologias digitais têm mostrado a sua importância há um bom tempo, com ferramentas e novas formas de produção, mas com a pandemia, elas ganharam um destaque irrefutável. A possibilidade da realização do teletrabalho, com uma produtividade tão boa quanto ou melhor que antes, a possibilidade de network, de construções conjuntas, a distância, com certeza, ajudam todas as profissões.
Como você definiria a importância da engenharia de aquicultura para a sustentabilidade e a sociedade?
É um profissional diferenciado, formado com uma grade curricular moderna, multidisciplinar e atenta à característica holística do meio rural. No ambiente rural tudo está integrado, e o foco principal são as famílias que vivem nesse meio, que dependem desse rol de atividades rurais para sobreviver. E elas devem fazê-lo da forma mais sustentável possível, ou seja, sem agredir o meio ambiente, que é seu insumo principal para desenvolver sua atividade econômica. Além disso, deve proporcionar máxima otimização dos recursos disponíveis, com as tecnologias adequadas, para gerar um retorno financeiro capaz de perpetuar a família ou a empresa rural nessas atividades. O objetivo é criar um ciclo de sustentabilidade. A engenharia de aquicultura está preparada para atuar dessa forma.
Pode nos falar um pouco da sua trajetória pessoal e familiar? Como concilia a profissão e a vida pessoal?
Em 2009, tive a oportunidade de ser consultora FAO [Organização para a Alimentação e Agricultura, das Nações Unidas – ONU], no então Ministério da Pesca e Aquicultura. Trabalhei na coordenação do Censo Aquícola Nacional 2008. Em 2010, fui aprovada no concurso da Embrapa e iniciei minhas atividades na Embrapa Pesca e Aquicultura, em 22 de novembro de 2010, em Palmas.
Casei em 2013, e tive minha filha em 2018. Conciliar trabalho e vida familiar é um desafio que tenho conseguido fazer com bastante tranquilidade, mas devo isso à rede de apoio que tenho. Meu marido também é da Embrapa, então, compreende os desafios e dificuldades do dia a dia na empresa, e tenho o apoio incondicional dos meus pais que se mudaram para Palmas para cuidar da minha filha enquanto estou no trabalho. Sou 100% realizada e feliz com a minha escolha pela Engenharia de Aquicultura.