Márcia Carrero*
Há um ano publiquei um artigo alertando sobre a necessidade de um novo olhar para as mudanças necessárias à mobilidade urbana. Mal sabia o que estava por vir. O setor terá que se reinventar e inovar. Mostrar, assim como em outros segmentos, que aprendeu a lição. O problema de deslocamento sempre foi uma grande preocupação, mas nunca tratado como prioritário.
Home office na quarentena
Com as novas mudanças, adoção do home office na quarentena - medidas que parece veio pra ficar parcial ou integral - e a descoberta para muitos de que não precisa mais gastar duas horas para ir e outras duas para voltar, o desafio será enorme, porém necessário.
Novas regras de convivência e higienização foram impostas no setor. Hora de repensar para quando o novo normal chegar efetivamente, sobre a ocupação máxima nos ônibus. Mas como isso será possível? Mesmo antes da pandemia o setor já vinha sofrendo com o problema da superlotação e outras várias deficiências no setor.
Um setor que já estava em alerta!
No meu artigo de 2019, mencionei como exemplo o modelo de Hong Hong, que viu como grande oportunidade investir em centros urbanos periféricos tornando-os grandes polos comerciais, melhorando a empregabilidade local e também criando novas moradias nos entornos dos metrôs. Com esses novos postos de trabalho melhorou o tempo de trajeto ao trabalho e ao mesmo tempo facilitou o acesso ao transporte público.
A grande sacada das autoridades de trânsito de Hong Kong foi perceber que existia uma alta densidade urbana numa determinada área geográfica de espaço reduzido, onde muitas pessoas utilizavam, trabalhavam e se divertiam. É nesse cenário favorável que a MTR aproveitou para investir num sistema de rotas fixas de metrô, onde explorou ativamente esse ambiente de forma benéfica para ambos, população e comércio local. A MTR resolveu investir em imóveis ao redor das estações da rede, integrando ferrovias e investimento imobiliário local, um dando suporte ao outro. A MTR se tornou uma autoridade tanto em metrô, quanto em propriedades de terrenos.
Morar perto do trabalho
Morar próximo do trabalho já era objeto de desejo para muitas pessoas pela melhoria de qualidade de vida e pela facilidade de acesso, entre outros motivos. Mas, com o advento da pandemia e receio de novas ondas de contágio, ficou ainda mais necessário morar perto do trabalho, melhor ainda se puder ir a pé sem usar transporte público. Esse deve se tornar um dos grandes desafios na busca de soluções para o problema atual e que será muito valorizado.
Acelerar a eletrificação da rede de ônibus, buscar a redução da emissão da frota de automóveis e motocicletas, incentivar a estrutura da mobilidade a pé.
Difícil tarefa: manter esses assuntos na pauta pós-pandemia, diante do provável desequilíbrio financeiro do estado e da falta de emprego.
Mobilidade
Em relação à mobilidade existe uma probabilidade grande das pessoas fugirem do transporte público em busca da segurança pessoal e voltarem a utilizar transporte individual. O que pode agravar e ocasionar um retrocesso muito grande no equilíbrio da cidade multimodal. Principalmente nesse equilíbrio da mobilidade em São Paulo, que já era muito frágil.
Já estávamos numa situação de estresse antes da pandemia, com longos deslocamentos, congestionamentos e má qualidade no transporte. Se esse precário equilíbrio for rompido, com a volta de carros, as grandes cidades como São Paulo vão parar ou entrar em colapso.
Temos urgência em encontrar soluções eficazes para um problema que sempre esteve abaixo dos nossos radares sobre a qualidade no transporte público. Essa falta de planos de médio prazo para resolver isso, vem bem antes da pandemia e se agravou com ela. Agora precisa ser pra agora!
Hoje, em plena pandemia, já há muitas cidades ao redor do mundo que já estão se preparando para aumentar as áreas de ciclovias, de pedestres, diante da nova necessidade de manter distância, uma boa base para alguns avanços de infraestrutura.
Século 21 – Uma cidade em alerta
Várias adequações serão necessárias.
Há pouco tempo apareceram os patinetes em alguns bairros.
E várias faixas de ciclovias, novidades que ainda estamos aprendendo a lidar.
Haverá uma nova revolução nessa área de mobilidade. Com um novo olhar para a cidade do século 21 e não mais do século 20. A prefeitura terá que ter uma visão jovem e atualizada, isso ajudará a ter um olhar de mobilidade de forma avançada.
Na Europa, por exemplo, as pessoas se afastaram do transporte público por falta de confiança. O setor terá dois grandes desafios pós-pandemia:
- manter os passageiros de antes, afugentados pelo medo da contaminação;
- Conseguir receitas extras tarifárias - incluindo o financiamento social do transporte público.
Será fundamental uma mudança substancial do setor sob o risco de haver um colapso do serviço.
A crise gerada pela pandemia do Covid-19 está mostrando a fragilidade da infraestrutura de transporte e a necessidade de uma nova visão em relação ao setor por parte dos governantes.
Uma grande lição de casa para o Brasil fazer!
* Especialista em Estratégias de Marketing, gerente de Planejamento, Marketing Digital; social media.