Soraya Misleh / Comunicação SEESP
Terminologia originada nos Estados Unidos, que combina os ambientes físico e digital, tem se revelado o assunto do momento: “phygital”. Essa realidade, inovação e engenharia foram o tema da live da semana realizada pelo SEESP com o apoio do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo (Crea-SP). A transmissão online ocorreu nesta quarta-feira (9/9), pela página da entidade no Instagram (oportunidades_na_engenharia). A atividade teve coordenação de Edilson Reis, diretor do sindicato, e participação de Valter Pieracciani, sócio-diretor e fundador da Pieracciani Consultoria.
Agraciado pelo SEESP com o prêmio Personalidade da Tecnologia na categoria Inovação em 2015, este último é engenheiro, autor de vários livros, entre os quais "Império da inovação: lições da Roma antiga para tornar sua empresa mais inovadora" (LVM Editora).
Para ele, os engenheiros brasileiros estão sendo cada vez mais desafiados e têm papel central na transformação "phygital". “O pivô é a formação, a capacitação do engenheiro. Aprendemos na escola como resolver problemas e fazer um mundo melhor, o que se dá pela inovação, que não é só no produto, pode ser tecnológica, na gestão de negócios. Pode ser uma inovação simples.”
Edilson Reis (acima) e Valter Pieracciani, na live. (Reprodução Instagram)
Exemplo nessa direção, trazido por Reis, foi o desenvolvimento dos ônibus de dois andares em São Paulo. Projetados em apenas 45 dias na antiga Companhia Municipal de Transporte Coletivo (CMTC), a partir da carroceria de um caminhão Scania, passaram a circular na cidade a partir de 8 de setembro de 1987. De acordo com Pieracciani, sua desativação em 1993 se deu por problemas políticos, não técnicos.
O diretor do SEESP acrescentou ainda a grande evolução tecnológica no sistema de transporte, o que traz agora o desafio de reduzir os custos de mobilidade. “Que a gente implante junto com o poder público o Laboratório de Mobilidade, em parceria com a consultoria de Pieracciani, dando inclusive oportunidade ao jovem engenheiro”, sugeriu.
Nessa linha, Pieracciani afirmou que “o conceito ‘phygital’ se encaixa como uma luva no sistema de transporte público e no desenvolvimento de cidades inteligentes como um todo. “Parte da vida é feita pelo celular e outra dentro de um ônibus, automóvel ou loja”, detalhou.
Transformação digital
O debate sobre transformação digital se iniciou ainda na década de 1990. “No Laboratório de Inovação do Varejo, o Prova, há três ou quatro anos, afirmava-se que o comércio adotaria o modelo digital. Os comerciantes diziam: ‘Jamais!’.” O que aconteceu foi essa combinação que resultou no ‘phygital’”, explicou Pieracciani, cuja consultoria fornece apoio técnico ao Prova.
Isso muda a forma de atuação dos engenheiros. “É o nosso grande desafio. Agora vamos ter que projetar experiências, que é todo o relacionamento que seu cliente tem desde o momento em que escolhe a marca até o fim da vida útil do produto”, ensinou. Isso, na sua concepção, exige do engenheiro observar o cotidiano das pessoas e demanda se repensarem os currículos das faculdades da área.
Para ele, o engenheiro tem o desafio de “integrar bateria de tecnologias maravilhosas, como realidade ampliada, big data, internet das coisas, smart grids [redes inteligentes], economia de energia, cidades inteligentes. Temos que desenvolver um projeto novo que não é mais só o ônibus, a roda, o motor. É a vida das pessoas, sua experiência”. Ao encontro disso, é fundamental a valorização profissional.
Portanto, foi categórico: “Além da capacidade técnica e coragem de superar desafios, o engenheiro tem que ter a sensibilidade de perceber o que é importante para seu usuário. Tem que ter empatia e flexibilidade.”
Sob essa percepção, Pieracciani citou alguns casos de sucesso. “Desenvolvemos no Prova algumas startups que atuavam com realidade ampliada. Você colocava o celular sobre o produto e podia ganhar um desconto. E o caso mais recente foi a criação da máquina Moderninha. Olhe como entra a engenharia: os grandes problemas desses meios de pagamento eram o custo de distribuição de bobinas (400 mil por semana no Estado de São Paulo) e manutenção. A equipe encontrou a solução para acabar com ambos, com venda da máquina ao comerciante, ao invés de aluguel, e envio de SMS ao cliente”, relatou.
Conforme o especialista, ao lançamento, foram vendidas ao dia 4 a 5 mil Moderninhas, para pessoas que não conseguiam até então arcar com os custos de uma máquina de cartão, como “manicures, personal trainers, taxistas, camelôs”. Ele salientou: “A engenharia transforma o mundo, dá acesso ao sonho das pessoas.”
Informou ainda que o Prova selecionou 12 startups entre 400 propostas, todas constituídas por profissionais da categoria, para apresentar soluções como essa a comerciantes. “Demos ainda 104 cursos em 18 meses”, frisou.
Ele trouxe ainda exemplo internacional: “Dois jovens engenheiros tiveram uma sacada: vamos tentar inventar um termostato que as pessoas gostem demais e não precisaria ser programado pelo telefone. Eles desenvolveram um que aprende com o dono da casa, percebe quando ele entra, levanta ou vai dormir. E com os hábitos ele regula a temperatura. Foi uma integração de tecnologias já existentes. Essa empresa foi comprada pela Google por US$ 3 bilhões.” O especialista orgulha-se: “Olhe o que a engenharia está se propondo a fazer. É sensacional.”
A próxima live acontece no dia 24 de setembro, às 18h. O tema é “Estratégias para aproveitamento da ventilação natural: arquitetura bioclimática”, com a participação de Myrthes Marcele Faria dos Santos , arquiteta e urbanista, sócia-diretora da Equalize Consultoria em Eficiência Energética, e coordenação de Cláudia Maria Coimbra, diretora da Delegacia Sindical do SEESP em Campinas. Sempre na página do Instagram da entidade (oportunidades_na_engenharia)
Confira a live “Engenharia, inovação e realidade ‘phygital’”: