Comunicação SEESP
Com agências*
O SEESP lamenta o falecimento, na última quinta-feira (10/09), aos 70 anos, em decorrência de um infarto, do professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP) João Steiner. O astrônomo e pesquisador brasileiro incansável era membro do Conselho Tecnológico do SEESP, um dos primeiros a integrá-lo.
Nascido em 1950 em São Martinho, interior de Santa Catarina, Steiner graduou-se pelo Instituto de Física da USP (1973), fez mestrado (1975) e doutorado (1979) em astronomia no IAG-USP e pós-doutorado no Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics (1979-1982). Era professor titular do IAG desde 1990.
João Steiner fez parte de uma geração que deu relevância e visibilidade à astronomia brasileira. O presidente da Fapesp, Marco Antonio Zago, destacou três características que marcaram a vida acadêmica de Steiner: um pesquisador reconhecido internacionalmente pelas suas contribuições ao avanço do conhecimento, particularmente sobre os mecanismos dos buracos negros; um cientista engajado na divulgação da ciência que aproveitava todas as oportunidades para comunicar-se com a sociedade, usando linguagem ao mesmo tempo didática e cativante. E em terceiro: "Foi um gestor da ciência envolvido na criação de espaços para ciência: foi responsável pela criação do Laboratório Nacional de Astrofísica, coordenador das Unidades de Pesquisa do MCTI e diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP, além de articular a participação da ciência brasileira em consórcios internacionais de astronomia, como o Gemini, Soar e o GMT”.
Steiner coordenou alguns grandes projetos na Fapesp. Também presidiu a Sociedade Astronômica Brasileira (1982-1984), foi tesoureiro e secretário-geral da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) entre 1988 e 1992 e diretor de ciências espaciais e atmosféricas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) de 1987 a 1989. Contribuiu para o desenho do sistema de pesquisa no Brasil, tanto no Inpe como na USP e especialmente no plano nacional, como secretário das unidades de pesquisa do País, em que implantou várias organizações sociais e ajudou a definir as missões dos institutos.
Coordenou o projeto do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Astrofísica (2009-2016) e a implantação do Sistema Paulista de Parques Tecnológicos. Foi condecorado em 2001 com a Ordem do Rio Branco - Grau de Comendador, concedida pelo Ministério das Relações Exteriores - e em 2010 com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, pelo MCTIC.
Steiner foi membro dos conselhos diretores dos telescópios Gemini – cujas operações iniciaram em 2004 com dois telescópios “gêmeos”, um nos Andes chilenos e outro no Havaí – e do Southern Observatory for Astrophysical Research (SOAR, na sigla em inglês), inaugurado nos Andes em 2005. Também representava a Fapesp no consórcio para construção do Telescópio Gigante Magalhães (GMT, na sigla em inglês), no deserto do Atacama, no Chile. A Fapesp investirá US$ 40 milhões no megatelescópio por meio de um projeto coordenado por Steiner. O investimento equivale a cerca de 4% do custo total estimado e garantirá 4% do tempo de operação do GMT para trabalhos realizados por pesquisadores de São Paulo, além de assento no conselho diretor do consórcio.
“Era um privilégio passar um tempo na companhia daquele homem que emanava amor pelo conhecimento e por partilhá-lo. Posso apostar que qualquer jornalista que até então torcesse um pouco o nariz para assuntos científicos, e fosse passar algumas horas entrevistando o professor, sairia de lá empolgado pela astronomia. Era isso o que ele fazia: nos contaminava com sua energia vibrante, um entusiasmo inabalável. Eu nunca vi o professor Steiner desanimado. Um pouco cansado, uma ou outra vez; desanimado, jamais”, disse a jornalista Luiza Caires, jornalista e editora de Ciências do “Jornal da USP, que escreveu um artigo contando seus momentos com o professor no IAG para gravar sua coluna “Entender Estrelas”, veiculada na Rádio USP.
O campo atual de pesquisa de Steiner era em núcleos ativos de galáxias. Em um estudo recente, o pesquisador e colaboradores propuseram um mecanismo universal para a ejeção de matéria pelos buracos negros (leia mais em agencia.fapesp.br/34007/).
“A astronomia brasileira perdeu um de seus maiores nomes. Ele desempenhou um papel importantíssimo na participação do Brasil nos observatórios Gemini e SOAR, que até hoje são os principais telescópios disponíveis para a comunidade astronômica brasileira”, postou no Twitter Gustavo Rojas, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e membro da comissão organizadora da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica.
*Com Agência FApesp e Jornal da USP