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27/01/2012

Fórum de Porto Alegre quer outras agendas na Rio + 20

Ativistas criticaram o texto base das discussões da conferência, que será realizada em junho, no Rio de Janeiro, e demonstraram temor sobre o possível fracasso do encontro.

       O clima de pessimismo sobre os rumos da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio + 20, marcou o segundo dia de debates no Fórum Social Mundial Temático, em Porto Alegre. Ativistas criticaram o texto base das discussões da conferência, que será realizada em junho, no Rio de Janeiro, e demonstraram temor sobre o possível fracasso do encontro.

       A aposta dos movimentos sociais é que, no caso de esvaziamento da reunião da ONU, as propostas apresentadas pela sociedade civil deverão ganhar força. Militantes ambientais, comunidades indígenas, sindicalistas, agricultores, grupos de mulheres, jovens e negros farão a Cúpula dos Povos, também no Rio, em paralelo à Rio +20, patrocinada pelos governos.

       O encontro sobre sustentabilidade que será promovido pelas Nações Unidas no Rio é um dos principais temas dos debates desta edição do Fórum Social Mundial Temático, além da crise do capitalismo e da justiça social. O evento de Porto Alegre, iniciado na terça-feira, será preparatório para a conferência do Rio.

       O empresário Oded Grajew, um dos idealizadores do Fórum Social Mundial, disse que o texto base das discussões da Rio + 20 está "muito abaixo das expectativas": "O documento não fala da desigualdade. Hoje, no mundo, 50% dos mais pobres detêm 1% da riqueza; 1% dos mais ricos detém 5% das riquezas e 10% dos mais ricos detêm 84% das riquezas. Fazer um documento como esse [sobre sustentabilidade] sem estar centrado no combate da desigualdade é enfiar a cabeça na areia."

       O consultor ambiental Tasso Azevedo mostrou-se desestimulado. "Não há mais tempo de pensar em grandes objetivos: temos que focar no que pode ser feito e como. Não conseguimos cravar onde queremos chegar. Assim ficará difícil cobrar as responsabilidades depois", disse Azevedo, ligado à ex-ministra Marina Silva. "A pobreza entra na discussão quase como uma condicionante: primeiro resolve a pobreza para depois falar de sustentabilidade. É uma falácia, quase igual àquela de deixar o bolo crescer para depois dividi-lo."

       O texto criticado por ambientalistas e ativistas foi divulgado pelas Nações Unidas no início deste mês e é a primeira versão a ser acordada e firmada pelos países na conferência do Rio. O documento de 19 páginas e 128 parágrafos recebeu contribuições de uma centena de países, que totalizaram mais de 6 mil páginas de propostas.

       Estrela do debate, o teólogo Leonardo Boff foi aplaudido ao reclamar das limitações da Rio +20 e do texto que serve de base para a conferência. "O documento como está não leva a nenhum lugar. Não enfrenta as questões, não assume nenhuma crítica ao sistema do capital. É um documento que já nasceu velho, no século XIX, atendendo aos interesses das grandes corporações. Será fácil aprová-lo, mas não terá nenhuma significância", comentou.

       O teólogo e filósofo Frei Betto lançou dúvidas sobre a "capacidade" da ONU e do G-8 em defender o tema do desenvolvimento sustentável. "Pelo que vimos em Copenhague, o G-8 não está interessado na questão ambiental", comentou. "Mas a Rio +20 pode ser um grande evento da sociedade civil. Agora que os países desenvolvidos estão em crise, o meio ambiente será a arma deles para aumentar a pressão sobre os países em desenvolvimento."

       Para a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, a Cúpula dos Povos, articulada pela sociedade civil, deve ser reforçada na Rio +20. "Infelizmente há uma posição dos governos de que se deva ter baixas expectativas em relação a esses fóruns internacionais. Fizeram isso na COP 16, no México, agora em Dubai, na COP 17, e não vai ser diferente na Rio +20", comentou.

       A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, presente em outro debate sobre desenvolvimento sustentável, rebateu as críticas de que a Rio+20 será um teatro de governantes e disse que confia na força da sociedade civil brasileira e mundial para que o evento tenha êxito. "Na realidade, é um debate que inicia um processo. A conferência estabelece processos, uma visão de médio prazo, novos compromissos e novos engajamentos. Eu não pactuo dessa visão de que é um teatro", disse.

       Segundo a ministra, o objetivo da conferência não é rever paradigmas ou legados da Rio 92, realizada há 20 anos na capital fluminense, mas trabalhar o conceito de desenvolvimento sustentável a partir de uma nova visão de mundo - onde as relações sociais e econômicas se modificaram. "A conferência está toda modelada para uma repactuação em torno do desenvolvimento sustentável. É um debate político, não é uma conferência em que você vai adotar um instrumento legal vinculante como foi em 92", explicou.

       Izabella lembrou que esta é a primeira vez que se faz um encontro dessa conjuntura no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo ela, o próprio secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, demonstrou entusiasmo com a ideia, "porque estamos procurando novos caminhos de fazer a ONU dialogar diretamente com os países e a sociedade".

       "É uma conferência que vai debater novos empregos, inovação tecnológica, erradicação da pobreza, segurança alimentar, segurança energética e hídrica. Vamos discutir padrões de produção e consumo sustentáveis, obrigações para os países desenvolvidos", disse.



(Valor Econômico e Agência Brasil)
www.fne.org.br




 

 

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