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23/10/2020

Engenharia civil para o desenvolvimento do País

Na data comemorativa, a profissão deve ser valorizada e utilizada em obras de infraestrutura e com práticas sustentáveis

Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia

 

Pesquisadores indicam que a engenharia civil é uma das mais antigas engenharias do mundo e surge quando a espécie humana deixa a vida nômade e começa a construir sua própria moradia. A partir disso, as estruturas adquirem características cada vez mais complexas e vão evoluindo conforme o desenvolvimento de técnicas e tecnologias. Ela é o ramo da engenharia que engloba a concepção, o projeto, construção e manutenção de todos os tipos de infraestrutura necessários ao bem estar e ao desenvolvimento da sociedade. Nesse sentido, vale destacar que, em 21 de outubro último, a Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) lançou mais uma edição do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento” com o tema “Recuperação pós-pandemia”, onde apresenta uma proposta concreta de retomada de obras públicas paralisadas em todo o Brasil, principalmente as relacionadas ao saneamento, habitação e logística. 

 

Fernando Lavoie 2O professor Fernando Luiz Lavoie leva para a sala de aula também sua experiência como engenheiro civil no mercado.  

O termo “engenharia civil” apareceu no Brasil ainda no período colonial. Mas somente depois da chegada da família real portuguesa, em 1808, surgiu a primeira escola de engenharia brasileira: a Real Academia Militar do Rio de Janeiro. Com algumas modificações ao longo dos anos, essa escola vai se dividir em duas: o Instituto Militar de Engenharia, que tinha ideais puramente militares; e a Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, voltada à pesquisa e ao desenvolvimento das engenharias.

 

Para parabenizar os profissionais no Dia do Engenheiro Civil, neste 25 de outubro, entrevistamos o engenheiro civil e hoje professor do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), Fernando Luiz Lavoie, de 42 anos de idade. Graduado em 2003 pela Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo, Lavoie é mestre em Geotecnia pela mesma instituição de ensino, com defesa de dissertação em 2006. No momento, está fazendo doutorado também na USP.

 

Entre todas as modalidades da profissão, a Civil é a que tem o maior número de profissionais registrados, no País, segundo estatísticas do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea). São mais de 351 mil engenheiros civis, desses, cerca de 276 mil são homens e 75.783, mulheres.

 

Vamos conhecer a trajetória do professor que atuou no mercado durante 15 anos, antes de assumir a docência, em 2012.

 

Como o senhor se decidiu pela engenharia civil e teve alguma influência familiar?
Sim, meu pai foi uma das minhas influências, pois ele é engenheiro eletricista. Desde os meus cinco anos de idade, ficava encantado com as grandes construções, como pontes, rodovias, viadutos. O tempo passou e tive certeza que queria ser engenheiro civil. A possibilidade de realizar grandes projetos e construções com o intuito de melhorar a vida das pessoas me atrai muito.

 

Como foi a relação do trabalho na engenharia com a docência?
Fiz iniciação científica desde o terceiro ano do curso de engenharia civil e sentia que poderia me especializar um pouco mais antes de me inserir no mercado de trabalho. Por isso, na sequência da graduação fiz mestrado em geotecnia antes de iniciar a minha carreira na prática. Após o mestrado, trabalhei na área técnica de duas indústrias fabricantes de geossintéticos no Brasil. Foram 15 anos atuando no mercado.

 

Em 2012, tive a oportunidade de iniciar a minha carreira como docente no IMT. No início, tive um pouco de receio, pois é uma responsabilidade muito grande instruir as futuras engenheiras e engenheiros do País. Mas, em pouco tempo, senti-me confortável em sala de aula e criei o meu estilo de ensino, trazendo muito da minha experiência no mercado.

 

A engenharia civil é uma das mais antigas engenharias.
Somos responsáveis por prover recursos básicos, como a distribuição de água, destinação e tratamento dos efluentes gerados pelos cidadãos e pelas indústrias, moradias, locomoção, geração de energia, organização do trânsito e muito mais.

 

Como a área vem mudando ao longo do tempo?
Existem diversos momentos importantes de mudanças na engenharia civil. Uma delas foi na organização da indústria da construção civil, cuidando da proteção dos seus trabalhadores, reduzindo desperdícios e buscando impactar menos o meio ambiente. Outro momento foi o desenvolvimento de novos materiais de construção civil, mais inteligentes, com maior desempenho e menor impacto ambiental. Hoje, sem dúvida nenhuma, a grande preocupação é criar soluções com materiais sustentáveis e com gestões de obra que propiciem menores danos ao planeta.

 

E tem, ainda, o BIM [sigla em inglês para Building Information Model, em português pode ser traduzido para “Modelo de Informação da Construção”] que está revolucionando os nossos projetos, pois com esta ferramenta podemos controlar de maneira mais eficiente todos os processos, com maior ou mais precisão, facilitando a tomada de decisão antecipada, evitando retrabalho, reduzindo custos na obra e proporcionando o cumprimento de prazos.

 

Fernando LavoieFernando Luiz Lavoie em visita a uma barragem de rejeitos, em Caeté (MG), em 2020. Crédito: Arquivo pessoal.

 

Como essa mão de obra pode ajudar no desenvolvimento?
Somos fundamentais para o País, porque precisamos de infraestrutura para o desenvolvimento sustentável, com custo coerente à realidade brasileira. Ou seja, a responsabilidade da concepção de projetos de infraestrutura para os próximos anos está nas mãos desses profissionais. A sociedade precisa entender isso.

 

Somos um País com muita experiência na construção de grandes barragens para geração de energia. Temos também muitas rodovias construídas por aqui. Precisamos investir em ferrovias, hidrovias e em matrizes energéticas alternativas, tais como energia eólica e solar.

 

Quais os campos de atuação?
A engenharia civil está nas construções de residências, rodovias, ferrovias, hidrovias, obras viárias como viadutos e pontes. Pode atuar, ainda, no tratamento de água e esgoto, efluentes industriais, coleta e destinação de resíduos sólidos urbanos – o lixo doméstico –, além da construção de obras especiais, tais como aeroportos, barragens para geração de energia e nas novas concepções de destinação dos rejeitos da mineração.

 

Em sala de aula, como o senhor vê tantos jovens se dedicando ao estudo dessa profissão e como os incentiva?
Valorizo muito os meus alunos de engenharia. Eles são muito cobiçados para outras áreas, como o mercado financeiro, pois a forma lógica e racional de raciocínio da área chama a atenção desse mercado. Por outro lado, valorizo o estudo e a busca por conhecimento. É fundamental que os alunos aproveitem o período na universidade para usufruir da possiblidade de entender os conceitos da engenharia e buscar aplicá-los ainda na universidade por meio de programas de extensão. Sempre digo aos meus alunos que, ao final, aqueles com melhor formação serão mais valorizados no mercado de trabalho, pois trarão mais resultados a médio e longo prazos.

 

Qual o perfil comportamental desejado desse profissional nos dias de hoje?
Precisa saber trabalhar em equipe, e respeitar as diferenças entre as pessoas. Um ponto bem interessante é saber interagir com as gerações anteriores na implementação de novas tecnologias, e, sobretudo, ter em mente sempre a busca por ações e soluções sustentáveis ao meio ambiente.

 

Como concilia a vida profissional com a pessoal e familiar? E o que gosta de fazer além de estar em sala de aula?
Minha tendência é trabalhar um pouco a mais, porque gosto de produzir técnica e cientificamente. Minha esposa Ingrid me lembra sempre de parar de trabalhar. Mas concilio bem o trabalho com a vida pessoal e familiar. Por isso, no meu tempo livre, fico com a minha esposa, meus pais e meus amigos. Adoro aprender línguas, dizem que cada língua nova aprendida é uma nova vida que ganhamos, pois além do inglês, agora estou me dedicando ao espanhol. Nestes tempos de fortes ideologias no mundo, também dedico um pouco do meu tempo para aprender um pouco sobre filosofia.

 

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