Agência Sindical
Entre novembro e dezembro, cerca de 80 milhões de brasileiros recebem o 13º salário. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), tendo em vista a média de R$ 2.458,00 por trabalhador, o pagamento total do benefício deve somar R$ 215 bilhões.
História
A reivindicação pelo abono natalino se avolumava desde os anos 40. Gradativamente, as categorias mais organizadas conseguiam o direito por meio de acordos. O Sindicato dos Telefônicos de São Paulo, por exemplo, o assegurou em 1956.
No entanto, garantir um décimo terceiro pagamento demandou lutas e greve geral de oito dias em 1962. Com a simpatia do Presidente João Goulart, os trabalhadores, em julho daquele ano, conseguiram o direito, com a lei 4.090/62, que instituiu sua obrigatoriedade.
O sociólogo Rubens Goyatá Campante, integrante do Núcleo de Pesquisas da Escola Judicial do TRT-3ª Região, conta parte dessa história em artigo no jornal Brasil de Fato (publicado em 3/5/2017). Ele diz: “Grandes estatais e multinacionais já o pagavam - algumas, menos que o salário mensal. A grande maioria dos empregadores, porém, não o fazia até que o Congresso Nacional aprovasse, uma semana após a greve, a Lei 4.090/62”.
Segundo o pesquisador, “as associações patronais anunciaram o fim do mundo, alegando que a lei seria demagógica e irresponsável”. Ainda diziam que “não pagavam, não por má vontade, e sim pelo fato de que desestabilizaria a economia, quebraria as empresas, traria desemprego”. Famosa manchete de O Globo: “Considerado desastroso para o país um 13 º mês de salário”.
Conta Goyatá que a greve, “18 dias após o Brasil conquistar o bicampeonato mundial de futebol”, afetou sobretudo estatais, embora o setor privado não tenha passado incólume. Nos transportes, ferrovias, bancos e portos, houve paralisação, assim como nas refinarias e distribuidoras da Petrobras. Cruzaram os braços trabalhadores de São Paulo, Fortaleza, Belém, Recife, Salvador, Campina Grande, Vitória, Santos, Cubatão, Belo Horizonte, Paranaguá, Itajaí, Criciúma e outras.
RJ
No artigo ao Brasil de Fato, o sociólogo fala da força da greve no Rio de Janeiro. “O movimento teve o alcance mais profundo e mais trágico. A paralisação foi majoritária na construção civil, telefonia, gráficos, têxteis, bancários, aeroviários, rodoviários, metalúrgicos, trabalhadores de transportes nos bondes e ferroviários da Central do Brasil”, diz.
Devido à greve, relata, a população da Baixada Fluminense que se dirigia ao trabalho, em 5 de julho, ficou sem condução. A rebeldia do momento, somada à insatisfação crônica com as outras carências, provocou saques. Os comerciantes, a princípio, pouco fizeram. À tarde, quando as forças policiais chegaram, mataram 50 pessoas. O chamado "motim da fome" deixou na Baixada outro saldo triste: os grupos de extermínio. Comerciantes criaram, com apoio de policiais, o primeiro grupo, chamado Vigilantes da Ordem.
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