Curso ensina conhecimentos necessários para a transformação de minérios em metais e ligas metálicas
Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
O Dia da Engenharia Metalúrgica é celebrado em 10 de abril, conforme calendário do conselho profissional (Confea). A metalurgia é uma das atividades técnicas mais antigas da humanidade. Seu desenvolvimento começa pelo uso de metais nativos como ouro e prata para fazer ornamentos, passando pelo desenvolvimento de técnicas de obtenção dos metais a partir dos minérios, técnicas de conformação, tratamentos térmicos etc. Conforme a Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação, o profissional da área “atua na elaboração de estudos e de projetos de processos metalúrgicos e de produtos, desde sua concepção, beneficiamento, análise e seleção de materiais metálicos, até sua fabricação e controle de qualidade”.
Professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) desde 2014 e coordenador do Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da mesma instituição, Eduardo Franco de Monlevade exalta que, nos últimos 200 anos, a metalurgia deu um “salto fabuloso com a descoberta e desenvolvimento de novos elementos, técnicas de análise que permitem entender a estrutura dos metais em um nível atômico, técnicas de obtenção de imagens em alta resolução espacial, e entendimento de mecanismos pelos quais os fenômenos acontecem e agem para determinação das propriedades”. A importância dos materiais em geral e da metalurgia é tamanha, observa ele, “que os estágios iniciais da civilização são batizados em termos do material dominante: idade da pedra, idade do bronze, idade do ferro”.
Paula Moreira Magalhães, aluna do novo semestre do curso de Engenharia Metalúrgica da Poli-USP, elogia o empenho do professor Monlevade em sala de aula, “ele é muito dedicado e incansável em sala de aula”. Ela entrou na universidade ainda bem jovem, aos 17 anos, em 2017. A sua decisão de se graduar engenheira vem desde o ensino médio, diz. “Sempre gostei das três áreas de exatas, matemática, física e química. Escolhi a engenharia porque tem todas essas disciplinas.”
Concorrer a uma vaga de um dos cursos mais disputados no País se deu ainda na adolescência, quando participou de uma feira de profissões na própria USP, “conversei bastante sobre engenharia de processos e metais da Poli. Gostei muito do que vi e resolvi prestar o vestibular da Fuvest [Fundação Universitária para o Vestibular]”.
No terceiro ano do curso, Magalhães optou pela área de metais, “porque é a mais antiga e tem uma base sólida, ao mesmo tempo em que acompanha as inovações do mundo”. A percepção é correta e endossada pelo professor, pois “as pesquisas estão muito bem alinhadas com as necessidades do mundo e da sociedade moderna”.
Como no curso de engenharia o estágio é obrigatório, ou seja, sem ele o estudante não recebe o diploma, Magalhães já estagia na área numa empresa de blindagem de carros, na capital paulista. “Estou na área relacionada à engenharia de materiais, buscando soluções com melhor custo e benefício e aplicabilidade, testando cola, adesivo, material antibala. Também preparo grupo de prova para fazer teste de corrosão”, descreve.
Metalurgia, ética e sustentabilidade
A futura engenheira assegura que o curso se destaca principalmente “porque somos estimulados a pensar, liderar e resolver problemas e criar consciência da importância da profissão para a sociedade”. Monlevade reforça: “A responsabilidade social é um valor chave nas atividades de engenharia.” Segundo ele, não é aceitável que “uma fábrica polua as reservas de água de uma cidade, que emita resíduos tóxicos que causem impacto locais – como a poluição sonora nas vizinhanças da fábrica ou poluição de cursos de água. Da mesma forma, não é aceitável que uma indústria ou qualquer empresa negue aos funcionários direitos fundamentais previstos na lei ou na Constituição”. Valores, garante o docente, que tenta passar para os alunos em sala de aula, além do conhecimento técnico.
Magalhães projeta sua atuação na área vinculada à análise de falhas, “uma das matérias do curso”, observa. Ela explica: “Quando um metal, um parafuso ou qualquer peça metálica quebra uma amostra é enviada para o laboratório para análise de falhas.” Tal atividade é fundamental, prossegue a estudante, para se fazer uma “inspeção visual por meio de microscópio ótico, inspeção química conferindo a composição se está de acordo com o apresentado na peça. Feito isso se elabora um relatório apontando o que causou as falhas”. Como aponta o docente, é uma ética profissional no trato de processos, técnicas e controles que deve ser sempre respeitada. “As consequências de uma falha do material podem ser inofensivas, como um garfo entortar, ou fatais, como a quebra de uma peça do carro que cause um acidente grave. A responsabilidade por esses eventos não pode ser negligenciada”, ensina Monlevade.
Ética que já está presente na formação de Paula Moreira Magalhães: “Por meio da análise de falhas é possível observar tudo pelo microscópico ótico ou eletrônico e estudar como eles estão arranjados, sua composição química, as porcentagens de carbono de modo a entender porque ele quebrou. O motivo pode ser desde o uso do aço errado, a temperatura e até a umidade podem modificar a formação dos grãos. Dependendo como esses grãos estão arranjados influencia nas propriedades físicas da peça tais como dureza, e rigidez determinando a qualidade do metal.”
A responsabilidade se estende, como indicam Monlevade e Magalhães, ao meio ambiente. “Um dos focos principais de pesquisas em engenharia metalúrgica é a diminuição do impacto ambiental não só da atividade industrial como também dos produtos finais que utilizam os metais”, indica o docente.
Nesse sentido, é importante o desenvolvimento e otimização de técnicas de reciclagem, diminuição das emissões de carbono na produção dos metais, reutilização de resíduos. Como observa o professor, a recuperação de metais a partir de sucata e outros resíduos vem ganhando muita importância. “O ser humano explorou brutalmente a crosta da Terra, e muito do que se tirou está aí para ser reutilizado. Para isso, é preciso desenvolver e otimizar técnicas para recuperação desses resíduos.”
Engenharia e mulher
Em 2018, um fato mudou uma história de 124 anos. A professora Liedi Legi Bariani Bernucci era a primeira mulher a assumir o cargo máximo administrativo de uma das principais escolas de Engenharia do Brasil, a Poli-USP. A graduanda Paula Moreira Magalhães confirma que a conquista repercutiu intensamente entre as estudantes da instituição. “Sabemos que a engenharia tem uma presença baixa de mulheres ainda. Somos poucas ainda na profissão, como estudantes e na docência também”, constata, mas prossegue com otimismo: “Ela [a diretora da Poli] será sempre uma força muito grande. É uma luz para todas nós, porque ela entende o que passamos, pensamos e sentimos.”
Para o professor Monlevade, é urgente desvincular a imagem das atividades tecnológicas dos homens e, para tanto, exorta, deve-se “combater fortemente o machismo que existe nas faculdades e no mercado de trabalho”. O ambiente dos cursos de engenharia, admite, ainda é muito opressivo para as mulheres. Magalhães confirma, dizendo que, no início do curso, ouviu comentários de “que a engenharia não é curso para mulher, que não temos capacidade”.
Fonte: https://www.poli.usp.br/mulheres
A demarcação de gênero na engenharia, constata a estudante, já ficou evidente, no início do curso, pois de 50 alunos em Material/Metal, apenas dez eram mulheres, número que se reduziu ainda mais, “quando dividiu a sala entre metal e materiais, 20 alunos foram para metal, sendo três mulheres”. Essa impressão vai ao encontro da defesa de que a maior inserção de mulheres em empregos de engenharia é uma questão que depende de ações de toda a sociedade, universidades e mercado de trabalho, avaliam Magalhães e Monlevade.
O docente critica a cultura que associa as atividades tecnológicas ao gênero masculino e o apagamento de mulheres espetaculares na hora de contar a história. Todavia, existe um movimento, mesmo que ainda tímido, de resgatar o mérito das mulheres na área técnica. “Um exemplo disso é o filme sobre as três matemáticas negras que foram importantíssimas para a Nasa [agência espacial dos Estados Unidos]”, diz, referindo-se à película “Estrelas além do tempo”.
Engenheiras e mães
Magalhães e Monlevade observam que o problema é ainda maior quando se trata de mercado de trabalho, da inclusão e permanência da mulher na profissão. “No meu estágio, sou a única mulher na engenharia num grupo de nove. Trabalho numa fábrica com 250 homens”, diz a graduanda. Visão confirmada pelo docente: “O machismo é generalizado e se volta, inclusive, contra as mulheres que se tornam mães, pois muitas, quando voltam da licença maternidade, são demitidas. Em pleno 2021, não dá para aceitar que mulheres tenham de ouvir, em entrevistas de emprego, perguntas se têm ou pretendem ter filhos, quem fica com o filho ou quem o leva ao médico.”
Segundo Monlevade, dentro da Poli-USP, existe o movimento “Politécnicas (R)existem”, cujo propósito é denunciar comportamentos machistas de docentes, alunos e funcionários. “É preciso que iniciativas como essa sejam reconhecidas, respeitadas, estimuladas, divulgadas e levadas a sério”, defende.
Você sabia que o SEESP oferece:
I - Orientação à carreira
O SEESP mantém a área Oportunidades na Engenharia que atende estudantes e profissionais da área na parte de orientação à carreira, com diversas ações, entre elas: atendimento personalizado (serviço exclusivo para estudantes e profissionais associados ao SEESP) com análise de currículo, orientação de LinkedIn, simulação de entrevista, dicas atuais sobre processos seletivos online e presenciais, elaboração de trilha de carreira e de estudo etc. O setor mantém, ainda, plataforma de divulgação de vagas de estágio e outras oportunidades; cadastro de autônomos; conteúdos atualizados sobre mercado de trabalho; noções gerais de redação e português. Para auxiliar estudantes e engenheiros na hora de formatação do currículo, também tem o Mapa da profissão, com informações de legislação, mercado, palavras-chave para cada modalidade da engenharia etc..II - Associação para os estudantes
O estudante de Engenharia também pode se associar ao SEESP e usufruir de diversos benefícios, inclusive de desconto na mensalidade da faculdade, caso esta seja conveniada ao sindicato. Saiba mais aqui.
III - Núcleo Jovem Engenheiro
Foi criado um espaço bem bacana para os estudantes e recém-formados na área para discutir questões específicas. É o Núcleo Jovem Engenheiro, saiba como participar, clicando aqui.
Engenharia metalúrgica - Raio-X |
Objetivo – Atua na elaboração de estudos e de projetos de processos metalúrgicos e de produtos, desde sua concepção, beneficiamento, análise e seleção de materiais metálicos, até sua fabricação e controle de qualidade, de acordo com as normas técnicas estabelecidas, podendo participar na coordenação, fiscalização e execução de instalações metalúrgicas, mecânicas e termodinâmicas. Além disto, coordenada e/ou integra grupos de trabalho na solução de problemas de engenharia, englobando aspectos técnicos, econômicos, políticos, sociais, éticos, ambientais e de segurança. Coordena e supervisiona equipes de trabalho, realiza estudos de viabilidade técnico-econômica, executa e fiscaliza obras e serviços técnicos e efetua vistorias, perícias e avaliações, emitindo laudos e pareceres técnicos. Em suas atividades, considera a ética, a segurança, a segurança e os impactos ambientais. |
Carga mínima do curso – 3.600 horas |
Estágio – Obrigatório (Lei 11.788/2008) |
Temas abordados na formação – Atendidos os conteúdos do núcleo básico da Engenharia, os conteúdos profissionalizantes do curso são: Eletricidade Aplicada; Mecânica dos Sólidos; Mecânica dos Fluídos; Projetos e Processos Metalúrgicos; Beneficiamento de Minérios; Ciência dos Materiais; Metrologia; Sistemas Térmicos; Termodinâmica; Metalúrgica; Ensaios Mecânicos; Transferência de Calor; Processos de Fabricação; Tecnologia Mecânica; Gestão da Produção; Ergonomia e Segurança do Trabalho. |
Áreas de atuação – Indústrias de base (mecânica, metalúrgica, siderúrgica, mineração e beneficiamento de minérios, petróleo etc.); na produção de veículos e no setor de instalações (geração de energia, estruturas metálicas, entre outros); em indústrias de transformação (siderurgia, fundição, conformação mecânica, entre outras) e em indústrias que produzem máquinas e equipamentos para todas as áreas acima citadas; em empresas prestadoras de serviços e em institutos e centros de pesquisa, órgãos governamentais, escritórios de consultoria e outros. |
Piso salarial – A engenharia, independente da modalidade, é uma profissão regulamentada (Lei 5.194/66) que tem piso salarial definido pela Lei 4.950-A/66. |
Fonte: Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação