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07/05/2021

Eletromobilidade como alternativa aos combustíveis fósseis

 

Soraya Misleh/Comunicação SEESP

 

Inaugurando uma série de eventos para contribuir com o debate sobre a questão da eletromobilidade no Brasil, o SEESP, por meio de seu Conselho Tecnológico e dos conselhos assessores de Mobilidade e Transporte e de Energia, realizou nesta quinta-feira (6/5) o webinar “Sustentabilidade – A energia de tração elétrica utilizada na mobilidade urbana como alternativa aos combustíveis fósseis”.

 

Transmitida pelas páginas do sindicato no Facebook e Youtube, a atividade contou com a participação de especialistas no tema e moderação de José Roberto Cardoso, coordenador do Conselho Tecnológico e professor titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). O potencial brasileiro em face da tendência mundial de transição energética e opção pela eletrificação na mobilidade urbana na direção de reduzir os gases de efeito estufa (que causam o aquecimento global) foi abordado no ensejo, bem como os desafios e perspectivas.

 

Murilo Pinheiro, presidente do SEESP, à abertura. Reprodução Youtube

 

À abertura, Murilo Pinheiro, presidente do SEESP, saudou a iniciativa, lembrando que o sindicato, em meio ao “momento de crise que assola o País”, segue a atuar e promover discussões, virtualmente em função da pandemia de Covid-19, sobre questões tecnológicas em prol da sociedade e da engenharia, como a que foi colocada em pauta no webinar.

 

Ele anunciou ainda que os associados à entidade e demais engenheiros representados pelo sindicato têm a oportunidade de assistir gratuitamente aulas da disciplina “Tópicos em Sistemas de Energia Elétrica”, do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (PPG-Fecc) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ministrado. As aulas acontecem às quartas e sextas-feiras, das 19h às 21h, e são ministradas online ministradas online pelo professor Luiz Carlos Pereira da Silva, coordenador do Campus Sustentável da instituição.

 

Jurandir Fernandes, coordenador do Conselho de Mobilidade e Transporte do SEESP, informou que o curso teve início em março último, e o engenheiro interessado pode rever as 12 aulas já dadas, cuja gravação lhe será disponibilizada, além de dar continuidade. Ao todo são 30. Ele contou que assistiu no dia anterior uma delas e declarou: “Vale muito a pena.” O link para participar e mais informações encontram-se aqui.

 

Fomentar o desenvolvimento

 

Um dos palestrantes, Fernandes destacou a “grandeza do tema num momento muito importante de transição energética mundial para a eletrificação”. No 1º. Anuário Brasileiro da Mobilidade Elétrica, publicado pela Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica, lembrou ele, advoga-se pela eletromobilidade de modo a “gerar empregos, estimular o desenvolvimento do mercado, fomentando a aprendizagem no setor, em conexão com a agenda climática”. O conhecimento, frisou, é necessário para “defender pontos de vista e oferecer bases ao desenvolvimento de uma política pública para o tema, sensibilizando de vereadores ao Presidente da República”. Nessa direção, enfatizou, há várias organizações da sociedade civil envolvidas.

 

Fernandes observou que a pandemia de Covid-19, ao mesmo tempo que acelerou esse processo internacionalmente, aprofundou a crise no Brasil. “Caímos de 7ª. economia do mundo em 2014 para 12ª. Perdemos o grau de investimento em 2015 e entre esse ano e 2019, ainda antes da pandemia, quase 28 mil indústrias fecharam as portas e, consequentemente, 1,4 milhão de postos de trabalho foram extintos. Estamos com o investimento mais baixo em infraestrutura nos últimos 30 anos. Não estamos nem sequer repondo a infraestrutura existente, com exceção da mineração e agropecuária, e quase todos os fabris estão perdendo produtividade.”

 

Especialistas abordaram tendência mundial à eletrificação, potencial brasileiro, desafios e perspectivas. Reprodução Youtube 

Além disso, observou que “os operadores de ônibus já acusam déficit até fevereiro de R$ 12 bilhões. Houve no setor perda de 70 mil empregos diretos e 350 mil indiretos”. Para Fernandes, a eletromobilidade pode ajudar bastante a reverter esse quadro no País.

 

“Queremos, dentro do sindicato, achar nichos para engajar salto em inovação e renovação tecnológica nos próximos anos. Para tanto, vamos agir além dos debates. Temos farto material publicado sobre o tema”, pontuou.

 

Adalberto Maluf, presidente da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), corroborou o impacto da mudança em vários setores e na vida dos brasileiros, inclusive “na recuperação da indústria e geração de emprego”.

 

 

Exemplos internacionais e atraso brasileiro

 

Ele observou que o Brasil tem grande potencial para sair da dianteira em que se encontra quanto à eletrificação na área de mobilidade, que abrange vários segmentos e é “uma das principais tendências mundiais e está no centro de uma nova economia”. O atraso nacional, segundo o presidente da ABVE, historicamente é de dez anos. E vaticinou: “Há muita inovação nas universidades, e novas tecnologias vão surgir dentro do sistema. Se não houver desenvolvimento no Brasil, vai ter que importar.”

 

Pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Mário Leite reforçou que o País tem grandes vantagens naturais a serem utilizadas. “Quarenta e seis por cento de suas fontes são renováveis, a média mundial é 14%. A eletrificação situa-se em 18% e no setor de transporte não se usa quase nada – apenas 0,3%.”

 

Maluf trouxe vários exemplos internacionais que mostram que na pandemia esse processo se acelerou. Entre eles, o Green Deal europeu – acordo verde com uma série de planos e políticas para conter o aquecimento global. “Depois a Alemanha investiu 5 bilhões de euros na recarga de veículos elétricos e a França, 8 bilhões para resgatar a indústria, mais 100 bi na transição energética. Biden [Joe Biden, presidente dos Estados Unidos] definiu um plano de investimento de US$ 621 bilhões em infraestrutura de veículos elétricos e US$ 480 bilhões só para subsidiar a indústria. E o Brasil sequer tem política industrial, enquanto a China está ocupando todo espaço nos últimos dois anos na América Latina, a qual ainda está engatinhando.”

 

Ele continuou: “Dezoito das 20 maiores montadoras multinacionais já têm metas nesse sentido. Os grandes mundiais do setor privado de logística têm compromissos de eletrificação. E mais de 1.300 cidades no mundo estão na liderança.”

 

No Brasil, há municípios que se somam aos bons exemplos e estão antenados com a transição energética, na integração renováveis-mobilidade elétrica. Entre eles, Recife (PE), Fortaleza (CE), Campinas, Salto e São José dos Campos (SP), além da Capital que aprovou sua lei do clima com metas para a redução das emissões de gases de efeito estufa e poluentes (leia mais aqui).

 

“Pesquisa aponta que 92% dos brasileiros querem o ônibus elétrico, pois entendem as externalidades com a combustão fóssil. Cidades poluídas têm três vezes mais mortes por Covid. Ou mudamos para acompanhar o novo paradigma mundial ou vamos ficar parados, colocando o futuro do emprego para engenheiros [em xeque]”, salientou, ao que destacou ser fundamental o investimento público, com o protagonismo do Estado enquanto indutor do desenvolvimento.

 

Na opinião de Cardoso, se houvesse planejamento e não desindustrialização, a situação estaria “bem mais confortável para o Brasil encarar o desafio com galhardia”.

 

 

Desafios

 

Leite concordou com a necessidade de ampliar a eletrificação, mas apontou desafios a serem resolvidos. Entre eles, o fato de que demandaria “mais que duplicar a capacidade de energia elétrica no Brasil”. Também revelou que é mister atentar para o ciclo de vida das baterias e veículos e reciclagem, indicando que alguns materiais são problemáticos desde a exploração do trabalho na extração ao descarte.

 

Cardoso sublinhou tanto a luta do SEESP para barrar e reverter a desindustrialização – aderindo ao projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, iniciativa da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), à qual é filiado – quanto o compromisso com a “engenharia para a paz”. Portanto, sem utilizar componentes eletrônicos oriundos de trabalho escravo ou infantil. “O lítio é extraído a céu aberto na Bolívia e sabemos a situação no Congo [de onde provém o cobalto].”

 

“Nós, engenheiros, temos que ajudar o pessoal das áreas de planejamento, economia e os políticos a analisar quais os caminhos e explorar melhor o potencial do Brasil”, finalizou Leite.

 

Apresentações:

 

Mário Leite, pesquisador do IPT

 

Adalberto Maluf, presidente da ABVE

 

 

Confira o webinar na íntegra:

 

 

 

 

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