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14/06/2021

Inteligência artificial: tecnologias inspiradas nas habilidades humanas

Matéria-prima da IA é um dos maiores insumos, atualmente: os dados.

 

Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
Atualização em 15/6/21


A inteligência artificial virou uma buzzword, ou seja, uma palavra da moda. A observação é do professor Guilherme Palermo Coelho, da Faculdade de Tecnologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Formado em Engenharia de Computação e com mestrado e doutorado em elétrica, o docente está envolvido, atualmente, em pesquisa de inteligência computacional, mais especificamente computação bioinspirada [linha de pesquisa baseada ou inspirada na natureza] e mineração de dados com ênfase em aprendizado de máquina.

 

Coelho, nesta entrevista ao Oportunidades na Engenharia, do SEESP, discorre sobre a IA, uma solução computacional que reúne diversas tecnologias, como redes neurais artificiais, sistemas de aprendizado. O objetivo é simular capacidades humanas ligadas à inteligência, como o raciocínio, a percepção de ambiente e a habilidade de análise para a tomada de decisão.

 

A inteligência artificial é um campo da ciência que estuda, desenvolve e emprega máquinas para realizarem atividades humanas de maneira autônoma. Também está ligada à robótica, ao machine learning (aprendizagem de máquina), ao reconhecimento de voz e de visão, entre outras tecnologias.

 

300 GuilhermePCoelhoProfessor Guilherme Palermo Coelho, da Faculdade de Tecnologia da Unicamp. Foto: Acervo pessoal.O que é inteligência artificial?
A inteligência artificial realmente está na moda, o que a gente chama de buzzword. É algo que realmente invadiu o nosso dia a dia. Mas do que realmente se trata? Com certeza, não é o que vemos em filmes, como Matrix [1999], estamos longe disso. O que existe são programas de computador que possuem mecanismos internos, como as redes neurais, que os permitem aprender a desempenhar muito bem tarefas específicas.

Professor, poderia dar um exemplo dessa programação?
Um software que usa algoritmos, ditos inteligentes, programados, por exemplo, para recomendar uma música a partir do histórico de músicas que você ouve em plataformas de streaming de música, como o Spotify e o Deezer. São ferramentas de inteligência artificial que entram na categoria de aprendizado de máquina [machine learning]. Basicamente, estamos falando de algoritmos que conseguem "aprender", praticamente sozinhos, a partir da quantidade gigantesca de dados disponível em tais plataformas.

 

Isso não se confunde com interpretação de dados, uma tarefa humana.
Exato. Não há interpretação, mas desempenho de tarefas ou funções. No caso do Spotify, existe um universo imenso de clientes cadastrados, ouvindo música constantemente, marcando uma música que gosta, pulando uma música sugerida que não gosta. A IA vai guardar esse histórico para identificar automaticamente usuários que tem perfis parecidos e fazer recomendações. Hoje, a máquina faz de forma intensa, constante, automática e muito veloz o que fazíamos manualmente com os dados.

 

O algoritmo não é autônomo, ele não nasce naturalmente, vamos dizer assim.
Ele é uma programação que tem a mão humana por trás. O algoritmo seria uma receita de bolo, uma sequência de passos. A gente não pode inverter a ordem a nosso bel prazer, porque senão o bolo não sai. Isso é o algoritmo.

 

Como esse universo funciona na área de recrutamento e seleção?
Pode-se ter uma IA que, a partir de dados de currículos e de candidatos, vai cruzar essas informações para um determinado resultado. Aqui, tal IA poderia acrescentar dados que estão nas redes sociais que podem também compor essa busca dos recrutadores. Se existe algum processo vinculado ao seu nome, por exemplo. Ou seja, a empresa estabelece um perfil e define critérios de seleção de candidatos. A ferramenta de IA utilizada vai fazer o cruzamento dos dados disponíveis e relacionar os perfis mais próximo ao que se pretende.

 

Com a pandemia, é uma área que tende a se intensificar em pesquisas e ações.
Um colega de doutorado foi trabalhar em um hospital nos Estados Unidos justamente com robótica, no desenvolvimento de robozinho que tinha acoplado um tablet, mas que fisicamente era uma rodinha. Ele substituía a ida do médico até os quartos. Esses robozinhos iam até os pacientes e então o médico aparecia pela tela e falava. Aqui temos a navegação autônoma. Este exemplo que dei não está relacionado à pandemia. É algo que vivenciei há alguns anos. No entanto, a IA vem sendo aplicada sim para tentar solucionar problemas relacionados à pandemia, nesse sentido, podemos citar algumas ações, como a criação de ferramentas para diagnóstico automático de Covid-19. Estamos em esforço contínuo com essas pesquisas e estudos, inclusive criando parcerias.

 

IA UnicampSistema automatizado desenvolvido por pesquisadores da Unicamp, da USP e colaboradores se baseia na análise do padrão de moléculas do plasma sanguíneo de pacientes.

 

Esse tipo de dispositivo está em nossa casa também?
É o tipo de programação que está sim com a gente o tempo todo, praticamente. Está no nosso celular, na conta do Google e seus serviços de e-mail, agenda, na sala de reunião do meet. Por exemplo, você fala um assunto na sala da sua casa, você abre o aplicativo e aparece alguma propaganda relacionada aquilo que você disse. Tem casos que não dá para comprovar, como no feed de rede social, você percebe que ele está direcionando o que mostra.

 

É a IA manipulando os dados?
Exatamente, ela está direcionando o conteúdo apresentado para você a partir de informações e dados que você vai deixando nessas diversas interfaces que utilizamos.

 

Nessa perspectiva, caminhamos para uma matrix?
Estamos bem longe disso. Mas acredito que estamos mais próximos daqueles filmes de ficção onde você está num metrô, olha um painel e aparece uma publicidade específica para você ou que você tem que fazer uma conexão de voo e automaticamente o sistema percebe que seu voo vai atrasar e ele já remarca sua passagem, sem interação nenhuma. Uma realidade que se torna mais factível com o 5G, que é o fluxo de dados em altíssima velocidade em qualquer lugar.

 

E estamos falando de tudo, não apenas de vendas comerciais, mas também no plano político. A IA pode ser usada para identificar posições e preferências políticas, e tentar me convencer sobre algum fato ou situação.

 

O 5G é uma quebra de paradigma?
O 5G significa altíssimas velocidades de transmissão de dados com uma capilaridade muito grande. Por exemplo, hoje, no celular, fazemos um download de  5 megabits por segundo, com o 5G isso pula para gigabites por segundo. Seria multiplicar por 1.000 a velocidade de transmissão de dados entre dispositivos.

 

Seremos felizes?
Não sei. Hoje, levamos dispositivos, como o celular, no bolso que fica o tempo todo apitando ou nos avisando de algo. Tira até um pouco do romantismo da vida, de ter uma relação mais harmoniosa com o tempo. Essas tecnologias trazem junto com elas muito a questão da ansiedade. Segundos para uma resposta já nos angustiam e nos irritam. Por outro lado, tecnologias baseadas em IA nos permitem realizar coisas inimagináveis alguns anos atrás, o que, se bem direcionado, poderá contribuir para melhores condições de vida no futuro.

 

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* Imagem do destaque da home é de Gerd Altmann por Pixabay.

 

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