logo seesp ap 22

 

BannerAssocie se

12/07/2021

Engenharia florestal: tratar o mundo e as pessoas com amor

A definição é do graduando Guilherme Emanoel Martins Barbosa que está no penúltimo ano em universidade pública de Minas Gerais. 

Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia

 

A criação da engenharia florestal está ligada diretamente ao processo de industrialização brasileira, principalmente a partir da década de 1950, quando “se entendeu a necessidade de um ensino de silvicultura profissional no País”, explica o coordenador desta graduação, na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), o professor Marcelo Luiz de Laia. O docente prossegue com o relato histórico: “O então presidente da República Juscelino Kubitschek determinou ao Ministério da Agricultura um estudo para corroborar a criação de um curso específico de silvicultura. Em 30 de maio de 1960, por meio do Decreto nº 48.247, criaram-se a Escola Nacional de Florestas e o curso superior para o exercício da profissão de Engenheiro Florestal em todo o País. Ou seja, é uma profissão que cuida do cultivo de árvores com cunho econômico.” Em celebração ao Dia da Engenharia Florestal, 12 de julho, vamos conhecer mais essa profissão que chega ao século XXI bastante reformulada.


600 Guilherme Emanuel 1O estudante Guilherme Emanoel Martins Barbosa se diz no lugar certo, na engenharia florestal. Foto: Acervo pessoal.

 

Da origem aos tempos atuais, observa Laia, a profissão foi mudando conforme as necessidades da sociedade, por isso, hoje abarca diversas outras áreas, principalmente as relacionadas à preservação do meio ambiente e sustentabilidade ambiental. “Atualmente, o aluno que ingressa em um curso de Engenharia Florestal aprende, além de cultivar árvores economicamente, a manejar as florestas nativas para a sua preservação e fornecimento de bens econômicos e ambientais, acumula conhecimentos na área de preservação ambiental em geral”, acrescenta.

 

A “magia” do meio ambiente foi o que chamou a atenção e despertou a paixão do estudante Guilherme Emanoel Martins Barbosa, que ingressou na graduação da UFVJM em 2018, com apenas 18 anos. Atualmente com 22 anos, ele afirma, feliz: “Ouso dizer que a profissão é quem me escolheu.” A engenharia florestal, lembra, pode já estar em sua infância e exatamente na casa da avó. “Ela tinha um quintal bem legal, era pequeno e inclinado, rochoso e bem arenoso, tudo para não ser produtivo. Mas, ao contrário do que poderia se esperar, o quintal da minha avó era bem produtivo, com diversas espécies que ela adorava cultivar. Com o passar dos anos fui crescendo e algumas perguntas acerca do crescimento das plantas, frutificação, raiz, absorção, vinham à tona e a curiosidade só aumentavam.”

 

O professor reforça a guinada da especialidade para uma visão mais ambientalista e preservacionista. “Apesar da engenharia florestal ter sido criada para suprir necessidades e finalidades econômicas, com o passar dos anos, principalmente entre o final da década de 1970 e início dos anos 2000, ela vai se voltar muito para o ambientalismo. Por volta do ano de 2006, inclusive, o curso começa a verificar a necessidade de compatibilizar as questões ambientais com a necessidade de produção de bens madeireiros e não madeireiros (óleos, resinas, gomas etc.) oriundos de florestas nativas ou plantadas. Assim, o profissional da área tem conhecimentos técnicos para produzir produtos oriundos de florestas de maneira sustentável ambientalmente e com responsabilidade social”, defende.


Segundo o docente, o Brasil é um dos países que mais conserva suas florestas nativas, referenciando-se em estudos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que apontam que o País “utiliza apenas 9% de seu território para o cultivo agrícola, incluindo a silvicultura, sendo que mais de 66% da área territorial do Brasil é destinada à preservação ambiental”. Por isso, ele acredita que se pode afirmar “que a área de atuação do engenheiro florestal se dá no setor produtivo, com o cultivo de espécies florestais, como eucalipto, acácia, pinus, mogno, cedro, paricá, seringueira, dentre outras”. Além disso, completa, também vai atuar em licenciamento ambiental, manejo de florestas nativas, proteção e conservação à biodiversidade, recuperação de áreas degradadas, melhoramento genético de espécies arbóreas, doenças e pragas florestais, sensoriamento remoto, topografia, solos e nutrição, dentre outras áreas e subáreas das ciências agrárias.

 

Compromisso social
Essa responsabilidade social já se evidencia no discente da UFVJM, quando afirma que suas expectativas para a profissão são as melhores possíveis. Para ele, a contribuição dos engenheiros florestais é fundamental no cenário atual, que conjuga, afirma, crises ambientais e de recursos naturais. “Crise hídrica, efeito estufa, aumento significativo da temperatura da Terra, prospecção alimentar, produtividade em massa, são exemplos de algumas variáveis que vêm assustando a humanidade que clama por uma solução”, alerta, indicando que o setor acadêmico com a realização de pesquisas e a formação de profissionais são ótimos investimentos para uma possível resposta e solução. “São questões colocadas para a humanidade que me fazem aumentar minha sede por mais conhecimento”, destaca.


600 Marcelo Laia 1Professor Marcelo Laia observa que a engenharia florestal evolui com as necessidades da sociedade. Foto: Acervo pessoal. 

O professor Laia endossa as preocupação do graduando e acrescenta que a sociedade contemporânea consome uma quantidade expressiva de celulose, que está na produção de papel e de uma série de outros produtos de higiene, beleza e vestuário. Por isso, sentencia que essa demanda será crescente, ao mesmo tempo em que o consumo de metais, principalmente o ferro e derivados, também é enorme. Ele explica essa relação: “Durante o preparo da liga de ferro, utiliza-se carbono e este é extraído do carvão mineral, um fóssil ambientalmente não adequado, ou do carvão vegetal. Tanto a celulose quanto o carvão vegetal são extraídos da madeira e há duas fontes de madeira: as florestas nativas ou as florestas plantadas. Desse modo, quando o engenheiro florestal atua no cultivo de árvores, esta ação está contribuindo para que florestas nativas não sejam utilizadas para essas finalidades. Uma atuação que contribui, ao mesmo tempo, com a atividade econômica e a preservação ambiental.”

 

Código florestal e Amazônia
Para o discente, a sustentabilidade e a atividade econômica estão fortemente ligadas, por isso reforça a necessidade do respeito aos princípios legais, que “estão muito bem contemplados na legislação brasileira e que precisam ser respeitados, como as áreas de preservação permanente (APPs) e de proteção especial (APEs)”. Barbosa mostra atenção especial com áreas nativas, como a floresta amazônica, pois parte de sua vegetação está sendo degradada e as extrações ilegais continuam. “O Código Florestal (12651/2012) brasileiro é importante, porém ainda não está sendo devidamente cumprido”, lamenta.

 

O futuro profissional adverte: “Sustentabilidade é algo sério e crucial para o equilíbrio entre o suprimento das necessidades humanas e a preservação dos bem naturais, não expondo tanto as gerações futuras. Cabe aos órgãos públicos e privados e as entidades relacionadas o cumprimento das normas e fortalecimento dos ideais.”

 

A grande equação da humanidade, conforme o docente, é saber como explorar recursos naturais sem a destruição completa do meio ambiente, “porque qualquer ação do homem causa danos ao meio ambiente”. Por isso, defende a atuação do profissional de engenharia florestal que “tem todas as qualificações para conciliar a produção dos bens necessários à humanidade e a preservação ambiental”. Ele exemplifica: “A extração de minérios causa um dano considerável, o nosso engenheiro pode indicar a melhor maneira de realizar a recuperação da área atingida pela mineração, quando esta atividade for finalizada. Portanto, recuperar áreas degradadas é um dos campos de atuação desse profissional.”

 

O engenheiro florestal, salienta o docente, trabalha com o ciclo da vida, pois as árvores nascem, crescem, se reproduzem e morrem. “Atuamos de modo que, antes de morrer, as árvores nativas adultas possam ser colhidas e utilizadas pela sociedade. O manejo florestal, se aplicado corretamente, propiciará que a floresta nativa se mantenha ao longo de ciclos de exploração sustentável”, descreve.

 

À pergunta em como não dissociar meio ambiente e desenvolvimento econômico, o futuro engenheiro florestal Guilherme Emanoel Martins Barbosa ensina: “Para um projeto que envolva valores consideráveis economicamente é preciso pensar em três grandes questões: o projeto é economicamente viável, socialmente justo, ambientalmente correto?” Já sobre como fazer a recuperação de áreas degradadas, outras hipóteses devem ser levantadas, ainda segundo Barbosa: “Tem condições de recuperar a área com espécies nativas com o mínimo de impacto possível? Tem condições de implementar espécies frutíferas tornando o local como uma fonte de renda, dando um possível retorno aos moradores da região?”

 

Estágio e atividades extracurriculares
Barbosa tem se empenhado também em realizar atividades extracurriculares. Ele foi monitor de geoprocessamento e georeferenciamento, de microbiologia e em projetos de extensão sobre benefícios versus malefícios dos microrganismos e sobre a utilização do Google Earth para delimitação de bacias hidrográficas. A relação também é extensão quando o discente fala em seus estágios realizados em empresas que operam em bioenergia, na parte de licenciamento e inventário ambiental.

 

250 Guilherme Emanuel 2 1O estudante Guilherme olha para um futuro com mais amor e respeito às pessoas e ao meio ambiente. Foto: Acervo pessoal.Mente aberta
Na descrição do curso de engenharia florestal da UFVJM está que “os interessados na graduação também precisam ter a mente aberta, engenhosa e criativa”. O coordenador explica: “Mente aberta pode ser entendida como aberta a novos conhecimentos, possibilidade de mudar de rumo, rever conceitos. Uma mente engenhosa e criativa pode ser definida, dentre muitas definições, como aquela que busca pelo novo, pelo sustentável, que traga resultados tangíveis e intangíveis para a sociedade, que consiga propor mudanças.”

 

Mercado em alta

Segundo docente e coordenador do curso da instituição federal mineira, o mercado de produtos florestais está em alta. Ele relaciona: “Atualmente, são várias as fábricas de celulose em implantação no Brasil, outras em expansão. Os plantios para a produção de carvão vegetal também estão em crescimento. São nichos tradicionais que estão extremamente aquecidos e acredito que continuará pelos próximos anos.”

 

Outros nichos começam a surgir, aponta Laia, como o de produção de energia elétrica a partir de biomassa florestal, “que teve o seu início em grande escala com a usina Onça Pintada [MS]”. O plantio de mogno africano e cedro australiano para a produção de madeira para serraria tem merecido atenção e os sistemas agroflorestais [SAFs], em que se cultivam numa mesma área animais, floretas e culturas agrícolas, também estão em alta.  Por fim, salienta o coordenador, a exploração racional e sustentável das florestas nativas no País absorverá grande quantidade de profissionais da área.

 

Trabalho com amor
Em 2022, Guilherme Emanoel Martins Barbosa deverá concluir a graduação e se tornar mais um novo engenheiro florestal do País, que já conta com 14.576 hoje registrados junto aos conselhos federal e regionais da engenharia (Confea/Creas). Ele faz questão de definir a engenharia florestal que quer desenvolver: “A minha futura profissão não é somente saber analisar as condições dos ecossistemas, planejar as explorações sustentáveis dos recursos naturais, produzir relatórios de impactos ambiental. A engenharia florestal é tratar com amor o que queremos de bom para o mundo e tentar fazer desse mundo um lugar melhor e mais seguro. Quero fazer a diferença, nem que seja pequena, para construir um futuro melhor para meus filhos e para as pessoas que amo.”

 

E já dá uma lição: “Ser estudante de engenharia florestal é buscar soluções para melhoria da qualidade de vida.”

 

Você sabia que o SEESP oferece:

I - Orientação à carreira
O SEESP mantém a área Oportunidades na Engenharia que atende estudantes e profissionais da área na parte de orientação à carreira, com diversas ações, entre elas: atendimento personalizado (serviço exclusivo para estudantes e profissionais associados ao SEESP) com análise de currículo, orientação de LinkedIn, simulação de entrevista, dicas atuais sobre processos seletivos online e presenciais, elaboração de trilha de carreira e de estudo etc. O setor mantém, ainda, plataforma de divulgação de vagas de estágio e outras oportunidades; cadastro de autônomos; conteúdos atualizados sobre mercado de trabalho; noções gerais de redação e português.  Para auxiliar estudantes e engenheiros na hora de formatação do currículo, também tem o Mapa da profissão, com informações de legislação, mercado, palavras-chave para cada modalidade da engenharia etc..

II - Associação para os estudantes
O estudante de Engenharia também pode se associar ao SEESP e usufruir de diversos benefícios, inclusive de desconto na mensalidade da faculdade, caso esta seja conveniada ao sindicato. Saiba mais aqui.


III - Núcleo Jovem Engenheiro
Foi criado um espaço bem bacana para os estudantes e recém-formados na área para discutir questões específicas. É o Núcleo Jovem Engenheiro, saiba como participar, clicando aqui.

 

Raio-X da Engenharia Florestal

Objetivo – Atua na administração e manejo dos recursos florestais de florestas nativas ou cultivadas. O intuito é a proteção ambiental, melhoria da produção e do processamento de bens florestais madeireiros e não-madeireiros, bem como no aprimoramento dos serviços da floresta (conservação, recreação e lazer). Além disso, planeja e executa planos de manejo florestal, de reflorestamento, de recuperação de áreas degradadas, bem como avalia e analisa os impactos ambientais de empreendimentos nos ecossistemas naturais e traça estratégias e ações para a sua preservação, conservação e recuperação. Coordena e supervisiona equipes de trabalho, realiza estudos de viabilidade técnico-econômica, executa e fiscaliza obras e serviços técnicos; e efetua vistorias, perícias e avaliações, emitindo laudos e pareceres. Em suas atividades, considera a ética, a segurança, a legislação e os impactos ambientais.

Carga mínima do curso – 3.600 horas
Integralização – 5 anos

Estágio – Obrigatório (Lei 11.788/2008)

Temas abordados na formação – Construções Florestais e Estruturas de Madeira; Máquinas e Mecanização Florestal; Economia e Política Florestal;

Colheita e Transporte de Produtos Florestais; Manejo Florestal; Manejo e Administração de Áreas Silvestres; Genética, Melhoramento e Biotecnologia Florestal; Conservação e Manejo da Fauna; Incêndios Florestais; Defesa Sanitária; Propriedade, Industrialização, Comercialização e Utilização de Produtos Florestais; Energia da Biomassa Florestal; Arborização Urbana; Manejo de Bacias Hidrográficas; Ecologia e Fisiologia Vegetal; Topografia e Geoprocessamento;

Biometria Florestal; Silvicultura; Extensão e Sociologia Rural; Matemática; Física; Química; Ética e Meio Ambiente; Ergonomia e Segurança do Trabalho; Relações Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS).

Ambientes de atuação – Empresas e propriedades rurais em projetos de produção, comercialização florestal e gestão ambiental; em organismos de defesa ambiental e sanitária; em unidades de conservação; em empresas de produção, industrialização e comercialização de produtos florestais; em empresas e laboratórios de pesquisa científica e tecnológica. Também pode atuar de forma autônoma, em empresa própria ou prestando consultoria.

Piso salarial – A engenharia, independente da modalidade, é uma profissão que tem piso salarial definido pela Lei 4.950-A/66.

Com informações da Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação

 

Lido 3932 vezes
Gostou deste conteúdo? Compartilhe e comente:
Adicionar comentário

Receba o SEESP Notícias *

agenda