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13/07/2021

Saneamento ambiental é direito básico e de todos

Em 2010, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu o acesso à água tratada e ao esgotamento sanitário como direito humano.


Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia

A Engenharia Ambiental e Sanitária, além de uma sólida formação nas ciências básicas (Física, Matemática e Química), proporciona uma visão focada e específica no que se refere às tecnologias de prevenção e controle de poluição da água, do solo e do ar, bem como uma visão ampla de caráter técnico-gerencial nas áreas de recursos hídricos, saneamento, gestão ambiental e energias renováveis e uma consistente formação humanística. Os profissionais da área têm uma formação humanista, crítica e reflexiva para entender e absorver as necessidades da sociedade considerando aspectos políticos, econômicos, sociais, ambientais e culturais.


600 Maria Gabriela Knapp 2Maria Gabriela Knapp: incentivar as mulheres a fazerem engenharia. Foto: Acervo pessoal. 

O professor Leandro Bassani, do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), campus Chapecó (SC), faz uma linha do tempo sobre a evolução da modalidade no País. Esse curso, explica ele, foi instituído no País sob a égide do Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), em 1971, “pois havia carência de pessoas especializadas na área de saneamento. Os primeiros cursos de engenharia sanitária, portanto, foram instituídos, por recomendação do Planasa, entre 1976 e 1978”. O Brasil tem, hoje, segundo estatísticas dos conselhos federal e estaduais de engenharia, 8.435 engenheiros(as) sanitaristas e ambientais. Em 13 de julho, comemora-se o Dia da Engenharia Sanitária.

 

Evolução ecológica
Segundo Bassani, no início, era só engenharia sanitária associada ao saneamento básico. “Na primeira fase de implantação dos cursos, os eixos de formação desses especialistas seriam o sistema de abastecimento e distribuição de água, de coleta e tratamento de esgoto, e também de coleta e disposição final dos resíduos sólidos e a drenagem urbana. À época, a preocupação estava centrada no saneamento básico que envolve todos esses aspectos”, relata. Todavia, prossegue, a partir do final da década de 1990, o conceito de saneamento básico evolui para o de saneamento do meio, “o que levou à incorporação de disciplinas, como controle de poluição atmosférica, modelagem hidrológica para controle de enchentes, modelagem de qualidade de água, ou seja, modelagem dos fenômenos de poluição ambiental”.

 

A evolução, contudo, não parou por aí. Hoje, a atividade incorpora o conceito de saneamento ecológico. Por isso, esclarece o professor, é mais difícil encontrar cursos de engenharia sanitária apenas. O curso da UFFS engloba a ideia e o conceito de saneamento básico e do meio e os princípios de ecologia para realizar essa atividade. “No nosso curso, além dos eixos do saneamento – abastecimento e distribuição de água, coleta e tratamento de efluentes, resíduos sólidos, poluição atmosférica –, trabalhamos com a gestão ambiental de unidades produtivas, ou seja, o trabalho dentro da indústria no que cabe à parte gerencial relacionada com questões de meio ambiente”, destaca.

 

A modalidade entra na vida da graduanda Maria Gabriela Knapp pela “porta” ecológica, mais especificamente pela reciclagem. “Por muitos anos meu falecido pai teve uma empresa que fazia a revenda de papelão para a indústria”, diz. O pequeno negócio era na cidade natal de Knapp, em Maravilha, no Oeste de Santa Catarina. Ela lembra: “Ainda não tínhamos coleta seletiva, então alguns materiais eram coletados por catadores informais nas ruas que iam até o local que meu pai possuía o barracão, realizavam a venda, e posteriormente meu pai revendia. Após um tempo, meu pai adquiriu maquinário para moagem, lavagem e secagem de plástico.”

 

O pai, recorda ela, levou-a diversas vezes até Chapecó para mostrar como eram feitas as mangueiras plásticas que utilizavam o plástico que ele havia vendido, “achava aquilo mágico”, recorda. Foi desde criança, portanto, que a futura engenheira ambiental e sanitária entendeu a importância da ecologia na vida da sociedade. Até chegar ao curso da UFFS, ela iniciou, mas sem concluir, a graduação na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) aos 18 anos, em 2009. Até 2013, ela participou de diversas atividades extracurriculares, participou de grupos de pesquisa e segue até hoje no Instituto Lixo Zero.

 

Em 2018, Knapp ingressou na UFFS aos 28 anos, “e agora estou no último ano, pois consegui adiantar devido às validações de disciplinas que cursei na UFSC. O meu sonho de ser engenheira é antigo e, mesmo que suado e por vezes adiado, vai ser conquistado com muito esforço, dedicação e persistência”.

 

Ela está muito satisfeita com o curso da UFFS, criado em 2010. Ela descreve: “Os professores são dedicados e empenhados em passar conteúdos de qualidade para os alunos. Estão sempre em busca de novidades e dispostos a colaborar com os projetos, trabalhos de pesquisa, eventos etc. Aqui há um contato mais próximo com os discentes, possibilitando encontros, reuniões, almoços e lanches juntos aos professores e servidores, criando uma relação mais afetiva.”

 

Atividades extracurriculares e estágio
A futura engenharia ainda se prepara para fazer o estágio, tentando conciliar com o período integral do curso, mas já acompanha a atuação de empresa de Chapecó, com foco em consultoria e assessoria para projetos de gerenciamento de resíduos sólidos. “A empresa trabalha diretamente com associações de catadores de materiais recicláveis e, no momento, está se desafiando no mundo do empreendedorismo socioambiental”, diz.

 

No curso da UFSC, Knapp participou da Empresa Júnior de Engenharia Sanitária e Ambiental (Ejesam), depois ingressou num laboratório de pesquisa, o Grupo Transdisciplinar em Gestão da Água e do Território (GTHidro), posteriormente participou do Núcleo de Educação Ambiental (NEAmb), todos da mesma instituição de ensino. “Fora da universidade atuei no Instituto Lixo Zero Brasil e na empresa Brotei Permacultura. Em Chapecó, estou fazendo parte da empresa júnior Ambienta Jr., como presidente.”

 

Profissão do presente e do futuro
Leandro Bassani 1Professor Leandro Bassani, do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, da UFFS. Foto: Acervo pessoal.A Engenharia Sanitária e Ambiental é um curso que cuida do meio ambiente, das pessoas e do futuro. “Não existe um só projeto em que não seja necessário seguir normas técnicas, decretos e leis que normatizam e norteiam a execução e fiscalização dos serviços”, ressalta. Arcabouço legal e regulador que segue preceitos de sustentabilidade, economia de custos, racionalização de recursos etc. “A nossa atividade tem importante papel para as cidades e para o campo. Entender e valorizar esta profissão é de suma importância, visto que a população mundial está em constante crescimento, a demanda de água tratada e encanada, o consumo e consequentemente os resíduos urbanos e industriais aumentam cada dia mais”, assevera.

 

Ela observa: “É uma profissão do futuro. Não haverá um dia sequer que uma pessoa, principalmente quem vive em áreas urbanas, não necessite de uma solução criada e implementada por engenheiros sanitaristas e ambientais, bem como as engenharias parceiras como civil, química, de produção, entre outras.”

 

A visão é partilhada pelo professor Leandro Bassani: “Atuamos diretamente na melhoria dos serviços urbanos, uma demanda social importante do País, uma das nossas competências de base, ou seja, água, drenagem, resíduos sólidos, tratamento de efluentes.”

 

Pioneiro
Bassani resgata um dos pioneiros da engenharia sanitária no Brasil, o engenheiro Francisco Saturnino de Brito que fez vários projetos de saneamento ainda no século XIX. “Um dos mais famosos é o de Santos [SP]. Ele é considerado, ao mesmo tempo, pioneiro da engenharia sanitária e do urbanismo, ou seja, do planejamento urbano devido à visão integrada de planejamento urbano, os serviços urbanos (água, esgoto, drenagem, coleta de resíduos, tratamento de água residuárias) e a própria disposição da cidade. Ficando só no que se refere ao saneamento, a contribuição dele é enorme”, elogia.

 

Todavia, o professor da UFFS pontua que o País precisa avançar muito na área, com “a integração do planejamento urbano com os serviços urbanos. Um exemplo é o problema do controle de enchentes que é recorrente na cidade de São Paulo (SP)”. Segundo ele, o engenheiro Saturnino já havia levantado o potencial risco de inundações se o projeto das avenidas marginais seguisse com a ocupação dos fundos de vales por vias. “Já em 1927, ele alertava para essa situação e propunha um planejamento integrado”, relata.

 

Para ele, as cidades brasileiras são pouco planejadas o que acarreta consequências gravíssimas, como as enchentes, e todas as consequências da ocupação irregular do solo urbano e o lançamento de fluentes de maneira também irregular e todas as dificuldades que há para a coleta de resíduo urbano de uma cidade não planejada. “O desenvolvimento das cidades está diretamente ligado à qualidade de vida das pessoas, o desenvolvimento dos serviços ambientais em zona urbana. Essa seria a grande contribuição a ser dada por profissionais que tenham essa formação”, defende.

 

Knapp já mostra a mesma preocupação: “É urgente encarar o saneamento como algo básico e de necessidade primária. Existem muitos governantes que não associam a falta de saneamento com doenças, por exemplo. Podemos e devemos cobrar dos governantes e administradores projetos de saneamento com atendimento integral, de todos os bairros e localidades dos municípios. Tecnologias e metodologias existem, o que falta é a população como um todo entender que saneamento básico é direito de todos, é básico e deve ser prioridade para melhoria de vida dos cidadãos e do meio ambiente. Tratamento e distribuição de água, coleta e tratamento de esgoto, drenagem de águas pluviais e gerenciamento de resíduos sólidos, isto é saneamento, investimento, evolução.

 

Tecnologia e atuação em alta
Em relação à aplicação de novas tecnologias de informação, Bassani destaca a telemetria, ou seja, controle automático e remoto de estações de tratamento de água e efluentes (ETAs). Paralelo a isso, acrescenta, existe desenvolvimento de novos materiais, filtração por membranas, ultrafiltração [destinada a remover sólidos físicos da água] e da nanotecnologia também. “A nossa área se relaciona mais ao desenvolvimento de tecnologia química e de materiais, penso que o desenvolvimento futuro se dará por aí e um pouco com a telemetria, uma aplicação que já é aplicada nas indústrias para controle das estações, tanto para tratar a água como efluentes.”


600 Maria Gabriela Knapp 3A estudante Maria Gabriela Knapp em atividades relacionadas à reciclagem. Foto: Acervo pessoal.

 

Se entre os anos de 1995 a 2005, o auge da atuação sanitária, no País, foi com relação aos resíduos sólidos em razão da pressão do Ministério Público junto às prefeituras para o enquadramento na legislação, a “bola da vez”, como define o professor da UFFS, será o tratamento de efluente, notadamente esgoto sanitário, à luz do novo marco legal de saneamento que está permitindo a entrada de capital privado e o País é bastante carente ainda no que se refere ao tratamento de esgoto, diferente das redes de tratamento de água onde os sistemas são bem abrangentes.

 

Fora isso, prossegue ele, existe a demanda industrial, a área de gestão ambiental em empresas privadas, em consultorias e até em parcerias envolvendo setor público e privado. Essa necessidade, explica Bassani, segue o ritmo da economia e tem empregado muita gente, até pelo enrijecimento da legislação ambiental de uma maneira geral.

 

Equilíbrio
Diferentemente de outras modalidades, a de engenharia ambiental e sanitária alcança uma participação mais equilibrada entre os gêneros, 3.911 são mulheres e 4.524, homens. Knapp percebe isso na realidade: “Tanto na UFSC como na UFFS, vejo que a maioria dos estudantes é de mulheres. Estamos querendo, cada vez mais, ocupar cargos importantes dentro da engenharia, da pesquisa científica.” Recentemente, indica a graduanda, foi lançado o Programa MinaTech (@minatech.brasil, no Instagram) cujo objetivo é incentivar meninas a prestarem vestibular na área das exatas, “precisamos mostrar a nossa potencialidade, e enfrentar o medo do curso ou do mercado de trabalho”.

Você sabia que o SEESP oferece:

I - Orientação à carreira
O SEESP mantém a área Oportunidades na Engenharia que atende estudantes e profissionais da área na parte de orientação à carreira, com diversas ações, entre elas: atendimento personalizado (serviço exclusivo para estudantes e profissionais associados ao SEESP) com análise de currículo, orientação de LinkedIn, simulação de entrevista, dicas atuais sobre processos seletivos online e presenciais, elaboração de trilha de carreira e de estudo etc. O setor mantém, ainda, plataforma de divulgação de vagas de estágio e outras oportunidades; cadastro de autônomos; conteúdos atualizados sobre mercado de trabalho; noções gerais de redação e português.  Para auxiliar estudantes e engenheiros na hora de formatação do currículo, também tem o Mapa da profissão, com informações de legislação, mercado, palavras-chave para cada modalidade da engenharia etc..

II - Associação para os estudantes
O estudante de Engenharia também pode se associar ao SEESP e usufruir de diversos benefícios, inclusive de desconto na mensalidade da faculdade, caso esta seja conveniada ao sindicato. Saiba mais aqui.


III - Núcleo Jovem Engenheiro
Foi criado um espaço bem bacana para os estudantes e recém-formados na área para discutir questões específicas. É o Núcleo Jovem Engenheiro, saiba como participar, clicando aqui.

 

Engenharia Sanitária – Raio-X

Objetivo – Atua no planejamento, na gestão ambiental e na tecnologia sanitária e ambiental. Em sua atividade, projeta e acompanha a execução de infraestruturas, instalações operacionais e serviços de: abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, drenagem e manejo das águas pluviais urbanas e urbanização. Avalia e analisa os impactos ambientais de empreendimentos nos ecossistemas naturais e propõe ações de preservação, conservação e recuperação do meio ambiente. Coordena e supervisiona equipes de trabalho, realiza pesquisa científica e tecnológica e estudos de viabilidade técnico-econômica; executa e fiscaliza obras e serviços técnicos; efetua vistorias, perícias e avaliações, emitindo laudos e pareceres. Em sua atuação, considera a ética, a segurança, a legislação e os impactos socioambientais.

Carga mínimo do curso – 3600h
Integralização – 5 anos

Estágio – Obrigatório (Lei 11.788/2008)

Temas abordados na formação – Ecologia e Microbiologia; Meteorologia e Climatologia; Geologia; Pedologia; Cartografia e Fotogrametria; Informática; Geoprocessamento; Mecânica dos Fluidos; Gestão Ambiental; Planejamento Ambiental; Hidrologia; Hidráulica Ambiental e Recursos Hídricos; Poluição Ambiental; Avaliação de Impactos e Riscos Ambientais; Saneamento Ambiental; Saúde Ambiental; Caracterização e Tratamento de Resíduos Sólidos, Líquidos e Gasosos; Irrigação e Drenagem; Economia dos Recursos Hídricos; Direito Ambiental; Ciência dos Materiais; Modelagem Ambiental; Análise e Simulação de Sistemas Ambientais; Matemática; Física; Química; Ética e Meio Ambiente; Ergonomia e Segurança do Trabalho; Relações Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS).

Ambientes de atuação – Empresas de tecnologia ambiental; em órgãos públicos e empresas de construção de obras de infraestrutura hidráulica e de saneamento; em empresas e laboratórios de pesquisa científica e tecnológica. Também pode atuar de forma autônoma, em empresa própria ou prestando consultoria.

Piso salarial – A engenharia, independente da modalidade, é uma profissão que tem piso salarial definido pela Lei 4.950-A/66.

Com informações da Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação

 

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