Atuação profissional tem como princípio práticas sustentáveis para o desenvolvimento de grandes e pequenos negócios.
Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
estudo da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), de 2006, a pesca extrativista é uma das formas mais básicas para a subsistência de vários povos no mundo, além de ser uma excelente fonte de proteína possui vários outros nutrientes essenciais. Em 2013, ainda segundo a representação da ONU, as previsões do consumo de pescados aproximavam-se de 20kg por habitante por ano.
A atividade mundial de piscicultura – cultivo de peixes em cativeiro – remonta a mais de 4.000 anos; no Brasil, a prática está associada a chegada dos holandeses à região nordeste, no século XVIII, que constroem tanques nas regiões litorâneas. Segundo
A graduação de Engenharia de Aquicultura é o ramo que se dedica ao cultivo de organismos aquáticos [animais ou vegetais] e ao desenvolvimento de todas as atividades necessárias para que isso ocorra. A definição é do professor e coordenador do curso da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), campus Laranjeiras do Sul (PR), Ronan Maciel Marcos. A graduação na instituição foi iniciada em março de 2010 e oferta 50 vagas por ano. Conforme definição da própria universidade, o curso tem o propósito de, no rigor do desenvolvimento científico e tecnológico, contribuir para o “combate às desigualdades sociais e regionais, tendo na agricultura familiar um setor estruturador e dinamizador do processo de desenvolvimento”.
Em 14 de julho é celebrado o Dia da Engenharia de Aquicultura. A área, conforme registros dos conselhos federal e estaduais da engenharia (Confea-Creas), reúne, atualmente, no Brasil, 207 profissionais. A Resolução nº 493, de 30 de junho de 2006, do conselho federal, definiu as atribuições do profissional em território nacional, sendo, entre outras, o cultivo de espécies aquícolas, irrigação e drenagem para fins de aquicultura, análise e manejo da qualidade da água e do solo das unidades de cultivo etc..
Maciel Marcos agradece a oportunidade de poder falar mais sobre o curso e a universidade. Por isso, orgulha-se de falar, inicialmente, da estrutura física da UFFS que tem, descreve, “uma área experimental em obras e dez viveiros de 400m² e as estruturas acessórias para armazenamento e tratamento de água”. Além disso, prossegue o docente, está prevista a implantação de um barracão para apoio, mas a universidade já tem implantados os laboratórios para as disciplinas básicas, física, química, genética, informática, entre outros. “Também contamos com laboratórios para as disciplinas específicas do curso, topografia, piscicultura, nutrição, zoologia, limnologia, hidrologia, processamento de alimentos e microbiologia”, relaciona.
Para o coordenador, toda a linha pedagógica e física da UFFS está focada em garantir uma formação ímpar aos egressos, “esperamos que nossos alunos tenham capacidade de atuar de forma plena em todas as áreas que a legislação vigente permite, contribuindo fortemente com o desenvolvimento das regiões em que atuam”.
Compromisso que já pode ser identificado no graduando Nicolas Antonio Teixeira de Paula, 20 anos. Ele ingressou na UFFS, em 2019, e a diplomação está prevista para 2023. “Minha trajetória com a modalidade começou já em 2016, no Colégio Agrícola de Foz do Iguaçu [PR], onde conclui o ensino médio e o curso técnico em agropecuária”, lembra. A formação técnica, observa o discente, oportunizou a realização do curso de piscicultura continental realizado no Instituto Federal do Paraná (IFPR). “Com toda essa familiarização a aquicultura se tornou um caminho certo na minha vida”, salienta. Teixeira de Paula só tem elogios ao curso da UFFS: “Como toda graduação, existem altos e baixos, e a engenharia de aquicultura possui complexidades e exige muita dedicação, porém, sinto-me realizado por estudar numa universidade pública federal com professores e profissionais extremamente qualificados.”
Estágio e atividades extracurriculares
No momento, informa o graduando, não está fazendo o estágio. Ele esclarece que a pandemia se tornou um fator limitante para atuar, “consequentemente, nem todas as empresas estão aceitando estagiários neste momento delicado”. Mas ele já se mostra atento e preparado para, tão logo a situação da crise sanitária melhore, iniciar o estágio, “será uma experiência imprescindível para a minha formação profissional”. Todavia, ele relata que, em 2018, na conclusão do técnico em agropecuária, realizou estágio em uma empresa focada na produção de formas jovens de inúmeras espécies da vida aquática “isso já me trouxe um conhecimento prático incrível na minha formação. Trabalhávamos com várias espécies, mas as principais eram tilápia do Nilo, carpa húngara, cabeçuda, espelho, capim e colorida. Entre outras espécies como tambaqui, pacu, dourado, lambari, pintado, jundiá, cascudo, cachara”.
Ao mesmo tempo, Teixeira de Paula, desde o início do curso, sempre esteve envolvido com diversas atividades que pudessem trazer um conhecimento prático sobre o curso e assim aumentar a sua experiência. Por isso, informa ele, atualmente é bolsista no programa de pesquisa e desenvolvimento tecnológico da universidade. “Atuo no laboratório de nutrição e piscicultura juntamente com a professora e orientadora Maude Regina de Borba, desenvolvendo diversas dietas aquícolas orgânicas para somar na tecnologia nutricional do ramo”, explana. E acrescenta: “Até o momento, não possuímos rações comerciais que adentrem os parâmetros da instrução normativa orgânica, e o trabalho que desenvolvemos no laboratório de nutrição e piscicultura da universidade tem se mostrando importantíssimo para este crescimento tecnológico. Com isso, desenvolvo muito conhecimento na prática fora da sala de aula, que, acredito, ser essencial.”
As pesquisas da área estão relacionadas à nutrição de organismos aquáticos, sejam eles animais ou vegetais. “São estudos de aspectos básicos da biologia dos animais que refletem no desenvolvimento de pacotes tecnológicos, como o desenvolvimento de sistemas intensivos baseados em bioflocos [recurso que permite que a água utilizada na piscicultura dure muito mais tempo do que o normal]”, indica.
As tecnologias e competências
Assim como todas as áreas de engenharia, a aquicultura também tem se beneficiado com os avanços tecnológicos, observa o coordenador Maciel Marcos. “Os principais avanços estão relacionados ao desenvolvimento de sistemas mecanizados e mais eficientes e a seleção genética de animais mais adequados aos cultivos. Estamos evoluindo a passos largos os sistemas de produção, os mais avançados estão seguindo os passos da avicultura e suinocultura”, destaca. O benefício maior desse tipo de tecnologia e organização, explica ele, é que o produtor não vai precisar se preocupar com alguns detalhes da sua produção, o pacote é organizado pela integradora, geralmente uma cooperativa. “Ainda, ele consegue os insumos com preços mais competitivos e tem a venda garantida. Isso permite que ele concentre os esforços em produzir com mais eficiência”, aponta.
Como ressalta o docente, além do saber técnico e das tecnologias que estão cada vez mais relacionadas ao exercício da profissão, se faz necessário que o futuro engenheiro desenvolva outras competências também durante a graduação. “Gosto de salientar duas: o relacionamento interpessoal e o saber fazer”, indica. A primeira, descreve, é abordada com um ensino mais amplo e não apenas técnico, diversas disciplinas ao longo curso estimulam essa habilidade, como “a vivência no ambiente universitário”. Já a segunda habilidade é estimulada “com o ensino prático que proporciona ao acadêmico a possibilidade de estudar os conceitos e aplicá-los. Ao longo do curso isso é explorado nas disciplinas, em projetos de iniciação científica e de extensão, na empresa júnior e em projetos de tutoria acadêmica”.
Atuação em alta e sustentabilidade
Segundo o professor, a piscicultura está em destaque no Brasil, atualmente. “Neste ramo todas as áreas estão em alta, pois é necessária mão de obra qualificada desde a reprodução dos animais até o abate. Os engenheiros de aquicultura possuem qualificação para atuar ao longo desta cadeia produtiva”, explica.
Para ele, a produção racional e controlada é sempre benéfica ao meio ambiente. “Cultivos bem conduzidos possuem baixo impacto e grande eficiência, independente do porte do empreendimento”, ensina. A aquicultura, prossegue o docente, tem esse viés ainda mais forte, “quando se consome o peixe de cultivo a pressão sobre a natureza é diminuída já que a demanda por produtos da pesca é menor”. O estudante reforça: “Minhas perspectivas sobre a aquicultura são muito positivas e inovadoras, pois confio na capacidade de suprir uma produção elevada e adequada para o Brasil e o mundo sem a necessidade do extrativismo extremista.”
Para Teixeira de Paula, a sua profissão garante uma “alternativa proteica e energética de alimentação saudável, que está em constante crescimento e demostra maior rentabilidade econômica e um método sustentável para o desenvolvimento do País”, defende. A constatação do estudante se verifica em diversas pesquisas, como a do Grupo Integrado de Aquicultura e Estudos Ambientais, da FAO, que, em 2007, apurou que a produção aquícola e pesqueira brasileira alcançou um volume de 1.015.916 toneladas o que representou um acréscimo de 2,6% em relação ao ano de 2003. O mesmo estudo indica que os principais organismos, em termos de volume, cultivados no País, são os peixes (principalmente tilápia, carpas e o tambaqui), o camarão branco do Pacífico e o mexilhão. Como cultivos emergentes na aquicultura brasileira destacam‐se os peixes marinhos (basicamente bijupirá), as macroalgas e os cultivos de pirarucu em água doce.
Ele esclarece ainda: “Quando falamos de engenharia de aquicultura falamos de produção de organismos aquáticos e não de extrativismo destes recursos, como ainda é bastante utilizado. É justamente neste ponto que a área ganha relevância e importância. Outro ponto que deve ser destacado é a fonte de empregos que a aquicultura oferece devido aos cuidados que devemos ter em uma produção a partir da nossa especialidade. A procura por uma alimentação saudável tem crescido muito nos últimos anos, e os organismos produzidos pela aquicultura é uma grande fonte de alimentos de ótima procedência.”
Segundo o professor, a maior força de trabalho dos profissionais de engenharia de aquicultura está empregada na atividade extensionista, ou seja, “são profissionais que atuam diretamente com os produtores, acompanhando os cultivos e repassando informações técnicas”.
Você sabia que o SEESP oferece:
I - Orientação à carreira
O SEESP mantém a área Oportunidades na Engenharia que atende estudantes e profissionais da área na parte de orientação à carreira, com diversas ações, entre elas: atendimento personalizado (serviço exclusivo para estudantes e profissionais associados ao SEESP) com análise de currículo, orientação de LinkedIn, simulação de entrevista, dicas atuais sobre processos seletivos online e presenciais, elaboração de trilha de carreira e de estudo etc. O setor mantém, ainda, plataforma de divulgação de vagas de estágio e outras oportunidades; cadastro de autônomos; conteúdos atualizados sobre mercado de trabalho; noções gerais de redação e português. Para auxiliar estudantes e engenheiros na hora de formatação do currículo, também tem o Mapa da profissão, com informações de legislação, mercado, palavras-chave para cada modalidade da engenharia etc..
II - Associação para os estudantes
O estudante de Engenharia também pode se associar ao SEESP e usufruir de diversos benefícios, inclusive de desconto na mensalidade da faculdade, caso esta seja conveniada ao sindicato. Saiba mais aqui.
III - Núcleo Jovem Engenheiro
Foi criado um espaço bem bacana para os estudantes e recém-formados na área para discutir questões específicas. É o Núcleo Jovem Engenheiro, saiba como participar, clicando aqui.
Engenharia de Aquicultura – Raio-X |
Objetivo – Formar um profissional de nível superior que vai se valer das ferramentas conceituais, metodológicas, técnicas e científicas da área de Aquicultura para projetar, planificar e avaliar metodologias e técnicas aplicáveis ao cultivo de organismos aquáticos, visando à produção eficiente de alimentos e derivados de origem aquática, a serviço do desenvolvimento regional integrado. |
Carga total do curso – 3.765 horas |
Integralização – 5 anos |
Estágio – Obrigatório (Lei 11.788/2008) |
Temas abordados na formação – Atendidos os conteúdos do núcleo básico da Engenharia, os conteúdos profissionalizantes do curso são: Aquicultura; Biotecnologia Animal e Vegetal; Cartografia e Geoprocessamento; Ecossistemas Aquáticos; Oceanografia e Limnologia; Gestão de Recursos Ambientais; Investigação Pesqueira; Máquinas e Motores; Meteorologia e Climatologia; Microbiologia; Navegação e Pesca; Tecnologia da Pesca e de seus Produtos; Matemática; Física; Química; Ética e Meio Ambiente; Ergonomia e Segurança do Trabalho; Relações Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). |
Ambiente de atuação - Como consultor em empresas de produção de organismos aquáticos, em associações e cooperativas de produtores, prefeituras, secretarias de agricultura, empresas públicas e privadas; montar fazendas de água doce ou salgada para a criação de organismos aquáticos; trabalhar no ensino e na pesquisa da aquicultura em instituições públicas e privadas em nível superior ou técnico; atuar como empresário na produção de organismos aquáticos e seu beneficiamento; acompanhar, na indústria, o beneficiamento do pescado. |
Piso salarial – A engenharia, independente da modalidade, é uma profissão que tem piso salarial definido pela Lei 4.950-A/66. |
Fonte: Universidade Federal da Fronteira Sul |