Artigo discorre e dá dicas sobre como desenvolver uma comunicação positiva no mundo profissional.
Rosângela Ribeiro Gil*
“Quem não se comunica, se trumbica.” Essa era a célebre frase repetida à exaustão pelo considerado maior comunicador da televisão brasileira, o Chacrinha, apresentador de programas de auditório de grande sucesso das décadas de 1950 a 1980. Exatamente 33 anos depois da sua morte, o conselho do nosso emblemático comunicador não só é atual, mas se tornou fundamental para o mundo corporativo e profissional de diversas, ou todas, ocupações. Portanto, o saber se comunicar, hoje, está entre os requisitos de processos seletivos e de recrutamento de empresas e consultorias.
Mas o que é essa tal comunicação que preciso saber e “fazer”? Vamos à origem da palavra que vem do termo latino communicare, que significa partilhar, participar, tornar comum algo. Desde o nascimento já entramos no mundo nos comunicando, primeiro com o choro “berrado”. Esse pode ser considerado o primeiro ato de comunicação nosso. A partir daí vamos crescendo e mudando as nossas formas de interação – se antes chorávamos para indicar fome, sede, dor, fralda suja ou outro tipo de desconforto, com o passar do tempo vamos aprendendo e adotando outros tipos de contato com o nosso entorno.
Chegamos à vida adulta tendo passado por um processo constante de aprendizado, adquirindo saberes técnicos e habilidades comportamentais, enfim, vamos construindo a nossa relação específica com o mundo e as pessoas. No ambiente profissional, precisamos transformar essa trajetória de informação e experiências num ato comum com os interlocutores – estes podem ser um cliente, um empregador, um par, uma equipe, um público, recrutadores etc. Lembre-se sempre: a comunicação é um ato de troca, ou seja, ela pressupõe o ato da fala e da escuta, nos seus mais diversos formatos de inclusão.
Essencial à vida
Numa vida em sociedade, o ato de comunicar é uma ação essencial à vida. Por natureza, somos seres comunicadores. Inclusive nos momentos de silêncio. Com a pandemia do novo coronavírus, a capacidade da troca de informações foi ainda mais demandada e diversificada em meios digitais, principalmente. Na crise sanitária que se abateu no mundo a partir de 2020, estamos utilizando ainda mais a nossa capacidade de comunicação verbal e não verbal.
As linguagens
Verbal – É a utilização da palavra, na forma oral ou escrita. É uma forma de comunicação rotineira entre as pessoas, em leituras de jornais, revistas e artigos diversos; e em discursos ou palestras, ou em qualquer conversação.
Não Verbal – O código de linguagem, nesse caso, são os movimentos faciais e corporais, o uso de símbolos e outras “pistas”; ou seja, tudo que indica a comunicação de algo.
Na oral, estamos participando de lives, webinares e todo tipo de debate online. Na escrita, o universo desta comunicação se amplia, como uma simples informação (oral ou escrita) via aplicativos de mensagem (WhatsApp, Telegram etc.). A necessidade da comunicação, portanto, se tornou ainda mais relevante – seja na oralidade ou na linguagem escrita. Neste último formato, isso requer conhecimento básico elementar sobre as regras gramaticais da língua, no nosso caso o Português, para redigir e-mails, fazer apresentações, planilhas etc..
Planejamento
Assim como tudo na vida, devemos definir ações a partir de boas reflexões que nos levem a planejamentos eficientes. Na comunicação no ambiente de trabalho não é diferente. Por isso, para conseguir falar e ser entendido organize as ideias de forma lógica – com começo, meio e fim. Estabeleça e foque no seu objetivo – o que quero comunicar, a ideia que devo passar, o resultado que preciso demonstrar.
Para o desenvolvimento de uma comunicação tanto no formato oral como no escrito, faça algumas perguntas: “Com quem estou falando? Para quem estou escrevendo? Devo utilizar esse termo? A pessoa que está ouvindo/lendo reconhecerá isso? Eu estou sendo claro? Estou fazendo-me entender?”. Isso também se refere a se adequar ao ambiente, ao objetivo, pois de nada adianta escrever um texto rebuscado num e-mail para um colega de trabalho que tem como objetivo apenas verificar uma informação rápida; assim como não podemos cair na coloquialidade ao enviar um ofício para uma chefia, por exemplo.
Vale ressalvar que, na escrita, reforce os cuidados com a língua portuguesa, pois uma vírgula no lugar errado pode alterar o sentido de uma frase ou mensagem. Por isso, revise os textos escritos e, na dúvida, procure uma fonte confiável para esclarecimentos.
Uma dica legal é fazer leituras regulares para criar uma aproximação melhor com a língua. Vale ler jornais, sites noticiosos, livros etc. Importante: em tempos de fake news, confirmar procedência das informações, antes de passá-las adiante.
Formal e informal
A diferença da linguagem formal e informal está no contexto em que elas são utilizadas e na escolha das palavras e expressões. Não existe o certo ou o errado de forma absoluta, mas o mais adequado ou não a uma determinada situação.
A linguagem formal é a mais requisitada nos ambientes profissionais. Evite gírias, expressões regionais, piadas ou outros elementos que vulgarizem o que é comunicado ou passem uma mensagem errada.
Na formalidade escrita, o texto deve ser objetivo, o mais direto possível para evitar incompreensão ou mesmo causar distração ao foco principal. Independente do assunto, tenha em mente três baluartes: a cordialidade, a atenção e o respeito.
Assim como na vida, nos discursos formais falado e escrito não há espaços para preconceitos de qualquer tipo e elogios ou observações inconvenientes.
Comunicação nos processos seletivos
O Núcleo Brasileiro de Estágio (Nube), parceira da área de Oportunidades na Engenharia, do SEESP, em pesquisa realizada com 8.208 candidatos, em 2015, sobre conhecimento da língua portuguesa, chegou a um resultado preocupante. “No total, 3.111 candidatos (37,9%) foram eliminados. Ou seja, quatro em cada dez jovens são reprovados por causa do não domínio do nosso idioma”, informa a recrutadora Marianne Lisboa, do Nube.
O CEO da Cia de Estágios, também nossa parceira, Tiago Mavichian, constata a mesma dificuldade e adverte, enfático: “Erros básicos de escrita e na fala reprovam.” Isso porque, prossegue ele, a contratação de um analista ou coordenador que comete erros de Português pode comprometer a imagem da empresa para clientes, diretores da própria corporação e o público externo. Ele pondera, ainda, que é diferente uma linguagem atual e descolada de descuidos com o Português.
Nesse sentido, vale completar que a leitura deve ser entendida como um exercício de cidadania e autoconhecimento, e que ela vai ajudar sobremaneira ao desenvolvimento de diálogos e manter uma conversação com naturalidade, espontaneidade e clareza, na entrevista de um processo seletivo, na apresentação de um trabalho ou projeto, por exemplo.
Como o assunto é quase inesgotável, voltaremos ao tema em outros artigos neste espaço.
* Jornalista, integra a equipe Oportunidades na Engenharia, do SEESP.