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08/11/2021

Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia: profissão une fórmulas e células

Profissional é requisitado em setores ligados à indústria de biotecnologia e precisa ter conhecimentos em biotecnologia, biologia molecular, genética e bioprocessos

 

Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia

 

400 Danielle Biscaro Unesp credito de Gerson PomariProfessora Danielle Biscaro Pedrolli, do Departamento de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia, da Unesp de Araraquara. Crédito: Gerson Pomari.A crescente preocupação mundial com as mudanças climáticas decorrentes da atividade humana e a necessidade de redução das emissões de carbono tem fomentado a transição de uma economia global baseada no petróleo e seus derivados para uma bioeconomia baseada na sustentabilidade. Tal inquietação tem potencializado o desenvolvimento da engenharia de bioprocessos e biotecnologia. A observação é da professora Danielle Biscaro Pedrolli, do Departamento de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus Araraquara.

 

Segundo ela, esse profissional será cada vez mais requisitado para atuar nos setores de pesquisa e desenvolvimento de produtos e processos e na cadeia produtiva na indústria de biotecnologia, que engloba as usinas de biocombustíveis, a indústria farmacêutica, a indústria química (química verde), a agroindústria, o tratamento de efluentes e resíduos sólidos e processos de biorremediação de áreas contaminadas. “Somos o elo entre as ciências biológicas e a engenharia química”, destaca.

 

A profissão atraiu Ana Carolina Gonçalves Soares de Campos já aos 23 anos de idade. À época do vestibular, em 2014, ela passou em outras universidades renomadas de engenharia, mas optou pela EBB da Unesp de Araraquara. Com previsão de conclusão até dezembro de 2022, a discente afirma que fez a escolha certa e que o curso correspondeu a todos os critérios que buscava, principalmente porque ela quer trabalhar na área industrial.

 

Indústria de biotecnologia
A engenharia de bioprocessos e biotecnologia (EBB) surge como uma ramificação das engenharias química e bioquímica, a partir do momento em que a indústria de biotecnologia ganhou corpo e começou a se ramificar, explica Pedrolli. Esses profissionais, prossegue, atuam no desenvolvimento e implementação de processos biológicos industriais e no projeto de indústria biotecnológica. “Eles são capacitados para fazer a conexão entre os conhecimentos de biologia, física, química e matemática com os princípios de engenharia”, complementa.

 

O que é a indústria de biotecnologia
É o processamento biotecnológico que utiliza enzimas e microrganismos para produzir produtos úteis a uma ampla gama de setores industriais, incluindo produtos químicos, farmacêuticos, de nutrição humana e animal, pasta e papel, têxteis, energia, materiais e polímeros, utilizando matérias-primas renováveis. 

A formação desses profissionais garante a capacitação adequada para atuar na indústria de biotecnologia, compreendendo desde o desenvolvimento do bioproduto, aumento de escala de produção, controle e automação do bioprocesso, controle de qualidade, até o projeto de biorreatores e da planta da indústria de biotecnologia. Neste contexto, observa Pedrolli, “células e processos biológicos são usados para a produção de produtos que atendam às demandas da sociedade por meio de processos sustentáveis e de baixo impacto ambiental”. Ela cita alguns desses produtos: vitaminas, biossurfactantes (detergentes biodegradáveis), corantes naturais, biocombustíveis (etanol, biodiesel, biogás), enzimas, anticorpos, vacinas e antibióticos.

 

Para tanto, é um profissional que domina tanto conhecimentos básicos de matemática, física, química, bioquímica, biologia celular e molecular quanto conhecimento de instalações e processos industriais, “com uma visão de aplicação desse conhecimento para geração de bioprodutos e bioprocessos”, acrescenta a docente.

 

A área é ainda muito recente e o sistema dos conselhos federal e estaduais de engenharia (Confea-Creas) contabiliza o registro, em todo o País, de apenas nove engenheiros de bioprocesso e biotecnologia – cinco homens e quatro mulheres.

 

Avanços tecnológicos
Os avanços tecnológicos recentes têm permitido um desenvolvimento acelerado dentro da área. Pedrolli informa que, hoje, existem ferramentas avançadas para o desenho de peças para biorreatores, modelagem, simulação e automação de bioprocessos e ainda para análise de sequencias genéticas (DNA), de vias metabólicas complexas e de estrutura de proteínas por bioinformática. “São processos baseados em aprendizado de máquina [machine learning] e inteligência artificial”, diz, acrescentando que são aplicados na análise de grandes bancos de dados biológicos e identificação de padrões que permitem avanços no desenvolvimento de novos bioprodutos, biossensores e bioprocessos.

 

Pedrolli informa que um exemplo recente desses avanços foi o desenvolvimento da vacina de última geração (vacina de RNA) contra a Covid-19. Em pouco tempo, após a identificação do vírus causador da doença, pesquisadores do mundo todo tiveram acesso à sequência genética do vírus, por meio de bancos de dados online, e puderam iniciar o desenvolvimento da vacina de RNA sem precisar receber o material físico do vírus. Uma vez desenvolvida e testada a vacina de RNA, a indústria farmacêutica pode iniciar a síntese desse RNA e a produção da vacina a partir do conhecimento da sequência que compõe o RNA da vacina, sem precisar receber qualquer material físico relativo a essa molécula.

 

O que é vacina RNA ou mRNA
É um tipo de imunizante que usa uma cópia feita pelo homem de um químico natural chamado RNA mensageiro para produzir uma resposta imune. A vacina transfecta moléculas de RNA sintético em células humanas. 

Estrutura pedagógica
O curso EBB na Unesp em Araraquara oferece uma formação ampla voltada à produção e processamento de bioprodutos, células e tecidos celulares. Ele oferece uma formação que engloba desde a bioinformática para análise de genes e genomas, passando pela engenharia genética, cultura de células, desenvolvimento do bioprocesso em biorreator e aumento de escala produtiva, extração e purificação do bioproduto, testes de atividade e segurança, até o projeto de indústria biotecnológica. Ainda é oferecida uma formação voltada para a inovação e o empreendedorismo.

 

Segundo a docente, a estrutura da Faculdade de Ciências Farmacêuticas provê modernas instalações de laboratórios bem equipados, com capacidade para desenvolvimento de bioprocessos diversos, desde o desenvolvimento da célula até o produto final puro.

 

Nas aulas práticas, explana Pedrolli, o aluno executa desde experimentos em ciência básica (física, química, microbiologia, bioquímica, computação) e aplicada – biologia molecular, bioinformática, engenharia enzimática, bioprocessos, biorreatores, simulação, desenho técnico, produção de biocombustíveis, cultura de células, produção e separação de biofármacos, entre outras. “Nas aulas práticas, os alunos desenvolvem a capacidade de propor e executar projetos de inovação, e executam técnicas de análise em modernos equipamentos para amostras líquidas e gasosas”, garante.

 

Além disso, os estudantes de EBB têm a possibilidade de participar de diversas atividades que auxiliam na formação profissional, tais como iniciação científica e tecnológica, extensão universitária, empresas juniores (Catálise Jr. e BioPhi), Competição de internacional de máquinas geneticamente engenheiradas (iGEM) e o Open Space de Inovação e Empreendedorismo.

 

Estágio e atividades extracurriculares
400 Ana Carolina Bioprocessos UnespAna Carolina Gonçalves Soares de Campos será a mais nova engenharia de bioprocessos e biotecnologia em dezembro de 2022. Crédito: Acervo pessoal.A estudante da Unesp já estagiou na área de análise de Controle de Qualidade Biotecnológica na Indústria Farmacêutica, a Eurofarma. E fala, com muito entusiasmo, sobre as atividades desenvolvidas: “Acompanhei análises físico-químicas e de atividade biológica para aprovação de produção de um medicamento.” A desenvoltura no estágio, afirma Campos, ela adquiriu com as “aulas práticas laboratoriais e a base teórica do curso de Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia. Elas foram fundamentais para a realização muito bem sucedida do estágio”.

 

Campos pretende continuar atuando na indústria na área de Controle de Qualidade, porém, diz ela, busca não se “limitar porque a área apresenta muitas oportunidades”.

A futura profissional faz questão de dizer que participou de muitas atividades extracurriculares – de secretária do Centro Acadêmico, representante de turma na Comissão de Formatura, diretora administrativa da Bateria da universidade até ser a fundadora de uma república estudantil no campus de Araraquara. Para ela, de nada adianta um profissional ter “todo o conhecimento do mundo, mas não ter noção de convivência, de resolução de conflitos, de educação financeira e de comunicação”. As atividades extracurriculares, garante Campos, trouxeram esses e muitos outros aprendizados.

 

Campos ainda compõe, desde abril último e até 2022, como voluntária, o Núcleo Jovem Engenheiro do SEESP. Segundo ela, a experiência está sendo “surpreendente”. O núcleo, explica a discente, reúne estudantes e profissionais de engenharia, o que “proporciona contato com profissionais da área renomados que foram fundamentais para realização de obras e conquistas de direitos para a categoria”.

 

Nessa vivência, a estudante elogia a disposição e compromisso de “profissionais que conseguem, de bom grado, doar um pouco do seu tempo para ações que trarão visibilidade para a engenharia e novidades para atuantes e futuros profissionais da área”.

 

Habilidades comportamentais
Danielle Biscaro Pedrolli destaca que as habilidades comportamentais também são trabalhadas no curso, inclusive atividades extraclasse. “Nossos alunos desenvolvem diversas atividades dentro de projetos de pesquisa científica e tecnológica, em projetos de extensão (trabalho com a comunidade externa a universidade), em programas de empreendedorismo social e nas empresas juniores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp”, relaciona.

 

A participação em competições internacionais, como a iGEM e de programas de aceleração de startups, incentivam os discentes ao trabalho em grupo e a utilizar as instalações da faculdade para desenvolver seus próprios projetos. “A iniciativa de implementar um Open Space de Inovação e Empreendedorismo vai nesse sentido também”, informa.

 

A discente endossa que a humildade é importante “para aprender mais e sempre”, diz. Mas Campos relaciona outras habilidades que entende comporem um perfil profissional positivo para o mercado atual: “Empenho para sempre fazer o seu melhor, fluidez para se adaptar quando necessário, calma para fazer tudo certo e respeito porque nenhuma profissão é superior a outra e todos são igualmente importantes para o sucesso de uma organização.”

 

Você sabia que o SEESP oferece:

I - Orientação à carreira
O SEESP mantém a área Oportunidades na Engenharia que atende estudantes e profissionais da área na parte de orientação à carreira, com diversas ações, entre elas: atendimento personalizado (serviço exclusivo para estudantes e profissionais associados ao SEESP) com análise de currículo, orientação de LinkedIn, simulação de entrevista, dicas atuais sobre processos seletivos online e presenciais, elaboração de trilha de carreira e de estudo etc. O setor mantém, ainda, plataforma de divulgação de vagas de estágio e outras oportunidades; cadastro de autônomos; conteúdos atualizados sobre mercado de trabalho; noções gerais de redação e português.  Para auxiliar estudantes e engenheiros na hora de formatação do currículo, também tem o Mapa da profissão, com informações de legislação, mercado, palavras-chave para cada modalidade da engenharia etc..

 

II - Associação para os estudantes
O estudante de Engenharia também pode se associar ao SEESP e usufruir de diversos benefícios, inclusive de desconto na mensalidade da faculdade, caso esta seja conveniada ao sindicato. Saiba mais aqui.


III - Núcleo Jovem Engenheiro
Foi criado um espaço bem bacana para os estudantes e recém-formados na área para discutir questões específicas. É o Núcleo Jovem Engenheiro, saiba como participar, clicando aqui.

 

Raio X – Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia

Objetivo – Formação de profissionais para atuar no desenvolvimento de tecnologias e processos nos quais as transformações são feitas usando células animais, vegetais ou microrganismos, ou suas partes. Em sua atividade, utiliza organismos naturais ou geneticamente modificados para a produção, em escala industrial, nas áreas de: alimentos e bebidas, fertilizantes, microrganismos inoculantes para agricultura e para uso industrial, enzimas para a indústria química e farmacêutica, vacinas, antibióticos, proteínas bioativas e outros fármacos, kits de diagnóstico, aditivos para a indústria de alimentos, biopolímeros, meio ambiente, biomassa e seus derivados, e bioenergia. Desenvolve tecnologias limpas, processos de reciclagem e de aproveitamento dos resíduos da indústria química, agroindústria e outros. Coordena e supervisiona equipes de trabalho; realiza pesquisa científica e tecnológica e estudos de viabilidade técnico-econômica; executa e fiscaliza obras e serviços técnicos; efetua vistorias, perícias e avaliações, emitindo laudos e pareceres. Em sua atuação, considera a ética, a segurança e os impactos socioambientais.

Carga mínima do curso – 3.600 horas

Estágio – Obrigatório (Lei 11.788/2008)

Temas abordados na formação - Bioinformática; Biomateriais e Biomecânica; Físico-química; Microbiologia; Modelagem, Análise e Simulação de Sistemas; Operações Unitárias; Processos Químicos e Bioquímicos; Biossegurança; Bioquímica Geral, Experimental e de Microrganismos; Biologia Celular e Molecular; Fenômenos de Transporte; Termodinâmica; Biotransformações; Genética; Imunologia; Vacinologia; Toxicologia; Bioprocessos Industriais; Reatores Bioquímicos; Esterilização e Sanificação; Cultura de Tecidos Vegetais e Animais; Biotecnologia Ambiental; Recuperação e Purificação de Bioprodutos; Tecnologia de Biomassas; Projeto de Indústrias de Bioprocessos; Matemática; Física; Química; Ética e Meio Ambiente; Ergonomia e Segurança do Trabalho; Relações Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS).

Áreas de atuação - Em indústrias de alimentos, cosméticos, produtos fermentados, biotecnologia, nas indústrias de açúcar e álcool, de fertilizantes, de vacinas e outros fármacos, de derivados de biomassa; nos setores de polímeros, de meio ambiente; nas áreas administrativa e comercial como engenheiro de produto e de processo; em empresas e laboratórios de pesquisa científica e tecnológica. Também pode atuar de forma autônoma, em empresa própria ou prestando consultoria.

Piso profissional – Lei 4.950-A/66.

Legislação pertinente – Lei 5.194/1966

Fonte: Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação

 

 

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